Jovem que confessou homicídio de menor invejava-lhe a roupa e os ténis de marca

Detido, com cadastro por tráfico e roubo, fica em prisão preventiva. Terá usado uma barra de ferro para matar menor em Salvaterra de Magos. Foi constituído outro arguido no caso e PJ não descarta possibilidade de novas detenções.

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Miguel Manso

As conclusões da investigação da Polícia Judiciária sobre o motivo que levou um jovem de 17 a matar outro de 14 anos em Salvaterra de Magos, em Santarém, são até agora desconcertantes e surpreendem os próprios inspectores. O homicídio ocorreu num contexto em que a riqueza exterior do menor era cobiçada e nenhuma outra razão surgiu até agora para o homicídio.

Momentos após ter matado o menor, com a ajuda de uma barra de ferro como acabou por confessar na noite desta quinta-feira à PJ, o suspeito foi tomar café com a namorada. Depois foi ao posto da GNR apresentar queixa garantindo ter sido agredido por um grupo de desconhecidos em Samora Correia para justificar as lesões que tinha visíveis na face. Pretenderia despistar as autoridades, acredita a PJ.

O detido foi na tarde desta sexta-feira interrogado durante várias horas por um juiz de instrução criminal no Tribunal de Santarém e vai aguardar o desenvolvimento da investigação em prisão preventiva. Foi levado já ao início da noite por inspectores da PJ para a cadeia de Leiria. O jovem está indiciado por homicídio qualificado, crime que prevê a aplicação de uma pena máxima de 25 anos de prisão.  

Além do detido, foi ainda constituído arguido outro suspeito de 20 anos. Fonte da PJ, explicou, porém, que este homem foi constituído arguido apenas face a algumas suspeitas menores e pela necessidade de assegurar os seus direitos de defesa. Este arguido não será para já presente a um juiz.

Quatro jovens aproximaram-se da vítima nos últimos dias e fingiram com ele uma amizade que o terá convencido. Invejavam-lhe, na verdade, os ténis, o casaco e o telemóvel, um iphone. Os mesmos haveres com que o jovem detido foi mais tarde apanhado. Segundo a investigação, o suspeito, referenciado por ser um pequeno traficante de droga na localidade, conseguiu noutras situações convencer a vítima a emprestar-lhe alguns bens que depois terá acabado por vender. 

O móbil do crime está para já classificado formalmente como resultante de “motivo fútil”, termos policiais normalmente usados quando as razões dos homicidas são vistas pelas autoridades como insignificantes. O menor morreu, afinal, vítima da cobiça. É esta a linha de investigação mais forte, adiantou fonte policial. Aliás, na confissão o jovem não adiantou razões para o que fez.

O menor terá sido espancado num apartamento desabitado do 4.º andar daquela vila, ao qual o suspeito tinha acesso, e depois, já morto, arrastado por corredores e escadas até ao 5.º andar do edifício onde se localizam as arrecadações. As manchas de sangue conduziram os polícias até às arrecadação abandonadas e de portas abertas onde estavam bicicletas, móveis velhos, lixo abundante e o corpo.

O jovem arguido e os restantes suspeitos ouvidos, acediam habitualmente àquele prédio. Eram conhecidos dos vizinhos que, porém, não ouviram nada de estranho na noite de segunda-feira.

Aliás, a PJ inquiriu mais suspeitos ligados a um grupo de jovens com cadastro por pequeno tráfico de droga. O detido fará parte deste grupo e além de tráfico de droga está também referenciado pela polícia por vários crimes de roubo.

O jovem entretanto detido foi desde o início o primeiro suspeito da PJ que o ouviu pouco tempo depois da mãe da vítima ter apresentado queixa por desaparecimento na terça-feira.

Foi à Feira de Magos e nunca mais voltou
A PJ inquiriu aquele jovem diariamente. Tinha sido visto por testemunhas na noite de segunda-feira com o menor. Nessa noite, a vítima prometera à avó, com quem vivia, voltar às 23h30. Foi à Feira de Magos e nunca mais voltou.

À PJ, o principal suspeito inventou todos os dias novas versões do que fizera na noite do homicídio, na segunda-feira, e incriminou diversas pessoas, o que aumentou as suspeitas dos investigadores. A polícia acredita que o jovem poderá ter uma perturbação da personalidade, mas apenas no decorrer do processo será possível confirmar essa tese com exames psicológicos.

Num dos dias, o jovem foi até visto a discutir com a mãe e a avó do menor em plena rua. Envergaria então o casaco e os ténis que roubara ao menor. Ouvido esta quinta-feira durante várias horas pelos inspectores, acabou por confessar a autoria do crime.

A PJ voltou na tarde desta sexta-feira ao prédio, em Salvaterra de Magos, onde o corpo foi encontrado. Os inspectores procuraram vestígios, num segundo exame ao local do crime, que possam conduzir à descoberta de mais suspeitos. A autoria do crime recai para já sobre este detido, mas não está descartada a hipótese de serem mais os envolvidos, salientou fonte da Judiciária.

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