Jornal de Angola acusa responsáveis portugueses de manipularem “corredores da Justiça”

Num editorial intitulado Vingança de colono publicado esta sexta-feira, o jornal conhecido por ser próximo do poder angolano diz que a investigação que envolve o vice-presidente de Angola é um acto de “revanchismo luso”.

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Jornal de Angola reage ao processo judicial que envolve vice-presidente daquele país.

Dez dias após a realização da operação que levou à detenção do procurador Orlando Figueira, indiciado por alegadamente ter recebido dinheiro do vice-presidente de Angola para arquivar um inquérito, o Jornal de Angola publica esta sexta-feira um violento editorial em que acusa os “responsáveis da antiga metrópole colonial” de manipularem “agora os corredores da justiça para tentarem conseguir os seus intentos de neocolonização”.

No texto intitulado Vingança de colono, o jornal, conhecido por ser próximo do poder angolano, diz que a investigação que envolve o vice-presidente angolano, Manuel Vicente, é um acto de “revanchismo luso”. “A instrumentalização da justiça portuguesa para lançar na lama o nome dos dirigentes angolanos e africanos de uma forma geral prossegue de forma frenética e imparável”, lê-se na primeira frase do editorial.

A manipulação da Justiça, escreve o Jornal de Angola, ocorre “depois dos artifícios fracassados da desestabilização militar e da guerra, depois de perderem no campo das eleições e depois de falharem no domínio bancário e económico”. “Depois de tanto fracasso, voltam desta vez a atentar contra a honra, o bom-nome, a imagem e a reputação do vice-presidente de Angola, procurando envolvê-lo em mais um escândalo de corrupção de tantos que atravessam hoje Portugal e a Europa e que revelam o estado de imoralidade e falta de integridade preocupante que se nota em alguns círculos do velho continente”, continua o texto. 

Esta resposta, sustenta o jornal, resulta de uma “atitude quase pavloviana que se instalou na sociedade portuguesa, por culpa de políticos antigamente ligados à UNITA de Savimbi e ao apartheid e agora movidos pela fúria da vingança”. Estes, alega o editorial, estabelecem uma ligação directa de Angola aos problemas que surgem em Portugal, uma atitude que consideram que “parece doentia, fruto de recalcamentos não curados e a precisar de urgente tratamento psicanalítico”.

O jornal considera que a reacção de Manuel Vicente - que, na passada quarta-feira divulgou um comunicado no qual diz ser “completamente alheio à contratação” do procurador Orlando Figueira para o sector privado, assim como a “qualquer pagamento” àquele magistrado" - foi de "grande dignidade” face “à nova campanha que contra si foi arremessada pela comunicação social portuguesa”. O editorial sublinha que o governante respondeu “cabalmente às alegações da Operação Fizz postas a circular pela Procuradoria-Geral da República de Portugal e manifestando a sua total disponibilidade para esclarecer factos que lhe são atribuídos”. E defende que “este novo episódio” é mais um exemplo “tanto da falta de pudor como do revanchismo luso”.

“Para qualquer pessoa provida de um mínimo de senso comum, as razões pelas quais a magistratura portuguesa se deixa corromper por meia dúzia de tostões devem ser encontradas no sistema generalizado de clientelismo e no tipo de relações morais e culturais historicamente implantadas na vida portuguesa”, escreve o Jornal de Angola

Partindo do escândalo da FIFA, o editorial sustenta que “os esquemas de fraude e corrupção mundiais nascem e desenvolvem-se a partir da Europa, e não fora dela”. E isso, diz, “retira toda a credibilidade e atira até para o campo do ridículo todo o discurso académico e bem-falante que vem de alguns dirigentes e eurodeputados de Bruxelas acerca da necessidade do combate à corrupção e da promoção dos direitos humanos para o continente africano”. 

O editorial considera que a “crise actual nas economias europeias e no sistema bancário” são resultado de “esquemas de gestão baseados na fraude e nos gastos assentes numa via de endividamento externo e de dependência económica cujo fardo acabou por pesar sobre os mais pobres e desprotegidos”. A par da “exploração comercial injusta dos recursos africanos – tudo isso incentivado pela mentalidade egoísta e oportunista de alguns membros das elites europeias”.

A rematar o texto, o Jornal de Angola escreve: “Enquanto a corrupção, o clientelismo e a vontade de vingança decidirem o actual pensamento europeu e a justiça, tudo vale como instrumento de ataque contra Angola e os seus dirigentes”.

Recorde-se que após ouvido por uma juíza de instrução, o procurador Orlando Figueira ficou preso preventivamente, estando a aguardar o desenrolar da investigação no Estabelecimento Prisional de Évora.

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