Já há três inquéritos devido a mortes nas urgências

Criticando "silêncio" do ministro, Ordem dos Médicos/Norte nota que não é habitual morrerem doentes nas urgências enquanto esperam por ser atendidos.

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Muitos dos internamentos compulsivos acontecem nas urgências Nuno Ferreira Santos

Um novo caso de morte por alegada negligência num serviço de urgência hospitalar foi denunciado pela família de uma idosa. É o terceiro caso conhecido desde que alguns serviços de urgência entraram em ruptura, deixando os doentes horas a fio à espera de serem atendidos, nos últimos dias.

A família de uma mulher de 79 anos contou a sua saga a várias estações de televisão: a doente chegou ao Hospital de Peniche na segunda-feira às 9h30, “com dores no peito e nas costas”, foi triada com pulseira amarela (a terceira numa escala de prioridades com cinco cores), mas só por volta das 17h00 os familiares terão sido informados de que os resultados das análises entretanto feitas (e que tiveram que ser enviadas para o Hospital das Caldas porque o de Peniche não tem laboratório) não eram conclusivos e que ela teria ainda que fazer uma TAC (tomografia axial computorizada).

A idosa terá morrido depois das 19h00 enquanto estava a ser preparada para ser transferida para o Hospital das Caldas (porque o de Peniche também não tem meios para fazer este exame). O Centro Hospitalar de Peniche (a que pertencem os dois hospitais) abriu entretanto um inquérito, apesar de considerar que “o atendimento proporcionado à utente foi adequado e atempado” e que ela esteve “sempre acompanhada pelos profissionais de serviço”. Uma das filhas adiantou à Lusa que a família tenciona avançar com uma acção judicial por alegada negligência.

Este caso aconteceu na segunda-feira, apenas um dia depois de um homem de 57 anos ter morrido na urgência do Hospital de S. Sebastião (Santa Maria da Feira), enquanto terá aguardado por atendimento durante mais de cinco horas horas, com vómitos e náuseas. Primeiro triado com prioridade amarela, só depois do agravamento do seu estado de saúde é que lhe foi atribuída a pulseira laranja (muito urgente). Nessa altura foi visto por um médico mas já não foi possível salvá-lo.

O Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (a que pertence o hospital da Feira) decidiu também abrir um inquérito, mas escusou-se a avançar mais detalhes sobre as horas que este doente terá esperado num dia que terá sido particularmente complicado na urgência. A família do homem anunciou então que estava a ponderar apresentar queixa-crime por negligência contra o hospital e os médicos de serviço nessa noite.

Na segunda-feira da semana anterior, também o Hospital de S. José em Lisboa abriu um inquérito à morte de um doente de 80 anos que terá estado à espera durante quase seis horas numa maca na sala de observações sem ser visto por médicos, na madrugada de sábado, 26 de Dezembro. O filho garante que ele não foi visto por qualquer médico. "A ficha que fica agarrada ao doente estava em branco", relatou. A autópsia demonstrou que o doente foi vítima de um AVC tronco-encefálico, o mais graves dos acidentes vasculares cerebrais e os resultados do inquéritohospitalar já foram enviados para a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), segundo a SIC Notícias.

A Ordem dos Médicos, os sindicatos médicos e outras organizações têm criticado a situação que se tem vivido nalgumas urgências ao longo dos últimos dias, considerando que a responsabilidade é do Ministério da Saúde, que alegam ter sido antecipadamente avisado dos problemas que estão na base deste fenómeno, sobretudo a falta de recursos humanos e a escassez de camas de internamento.

Entretanto, a Ordem dos Médicos/Norte anunciou esta quinta-feira que abriu um inquérito à conduta da directora clínica do Hospital de Santa Maria da Feira e acrescentou que vai comunicar os factos de que tem conhecimento à IGAS, criticando o “silêncio” do ministro Paulo Macedo face às “situações dramáticas” vividas nas urgências de vários hospitais.

“Não é habitual morrerem doentes nos serviços de urgência hospitalares enquanto esperam a sua vez para serem atendidos. Quantas desgraças serão necessárias para que os responsáveis políticos tomem medidas efectivas para a resolução de um problema que não é novo nem sequer é desconhecido dos principais decisores na área da Saúde? Até quando vai o Ministro da Saúde manter o seu silêncio?”, questiona o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos em comunicado.

 

 

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