Imuno-oncologia: a metamorfose da vivência do cancro

Os resultados espantosos das novas terapêuticas permitem, pela primeira vez, mudar as expectativas de sobrevivência ao cancro.

Foi há 35 anos: o Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos lançou um alerta para uma “rara forma de pneumonia” que começava a deixar marcas profundas numa geração de todo o mundo. Hoje em dia, a infeção por VIH/SIDA passou de doença fatal para uma patologia manejável. Este é claramente o exemplo mais conhecido, mas todos os dias médicos e investigadores vencem batalhas, maiores ou menores, contra as doenças.

Actualmente, estamos no caminho para vencer uma grande batalha contra outro velho inimigo, o cancro. Pela primeira vez na História da Medicina temos o potencial para transformar radicalmente a forma como abordamos o tratamento desta doença. Tudo porque descobrimos formas de mobilizar o sistema imunitário para dar luta às células cancerígenas – através da Imuno-Oncologia.

Estamos perante terapêuticas que revelam as células cancerígenas ao sistema imunitário para as detetar e, consequentemente destruí-las.

A Imuno-Oncologia já tinha sido assinalada pela revista Science como o avanço científico mais significativo de 2013 e foi recentemente assinalada pela American Society of Clinical Oncology – ASCO, como o avanço científico de 2016. Os primeiros carcinomas a ser tratados com sucesso foram aqueles em que se verificam alterações celulares causadas por fatores externos, como é o caso do melanoma (causado pelos raios UV) e o Cancro do Pulmão (causado por influência do tabagismo). Hoje esta estratégia terapêutica está a demonstrar resultados significativos no cancro do rim, do fígado, da cabeça e pescoço ou da próstata, e em cancros do sangue, como linfomas e mielomas.

Pela primeira vez em décadas, uma solução terapêutica dá aos doentes oncológicos mais tempo, com mais qualidade de vida. Não falamos de semanas ou meses mas, na maior parte dos casos, em anos de sobrevida e sem os conhecidos efeitos adversos das terapêuticas convencionais. E, sobretudo, em situações de cancro em fase avançada, em que a esperança de vida é extremamente limitada.  Os resultados alcançados fazem com a Imuno-Oncologia seja reconhecida como uma modalidade de tratamento estabelecida na luta contra o cancro.

Enquanto responsável nacional por uma das empresas da Indústria Farmacêutica a liderar esta área de investigação, é impossível não me sentir privilegiada por participar nesta revolução.

Fizemos uma grande aposta na investigação em Imuno-oncologia. O objetivo, claro, é trazer a promessa de sobrevivência alargada que esta nova abordagem terapêutica proporciona até aos doentes com doença oncológica avançada, seja nos casos de melanoma, cancro do pulmão, rim e mieloma.

Em Portugal temos já um número importante de doentes que estão a beneficiar destas terapêuticas, quer através de ensaios clínicos, quer em programas que permitem o acesso precoce.

É excitante e animador ver como num período tão reduzido de tempo desde a aprovação pelas autoridades competentes nos EUA e Europa, a IO se tornou no standard de tratamento em muitos países, deixando para trás as tradicionais quimioterapias que tiveram um impacto grande e uma importância fundamental ao seu tempo, mas que hoje já não fazem sentido.

Claro, ao grande entusiasmo de fazer parte desta revolução, soma-se o enorme sentido de responsabilidade. O de quem tem a clara noção de que a partir de agora nada mais será igual na forma como lidamos com o cancro. A nível do tratamento, da gestão do doente, e, sobretudo, a nível da forma como os sistemas de saúde fazem a gestão da doença. E neste campo também assumimos o nosso papel de parceiro das autoridades Nacionais de Saúde, respondendo de forma inovadora em todas as vertentes desta metamorfose da vivência do cancro.

Country Manager da Bristol-Myers Squibb

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