Imagem de Sócrates em campanha de ensino universitário no Brasil “partiu de Portugal”

A convicção é do advogado do ex-primeiro-ministro João Araújo, que diz que a montagem “não é inocente”.

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O ex-primeiro-ministro José Sócrates surge de óculos, com um traje académico sobre a roupa e a transportar uma capa com a sigla Cederj - Centro de Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro. A fotomontagem foi utilizada numa campanha para promover o ensino universitário à distância no Brasil, na página do consórcio de sete universidades públicas brasileiras na rede social profissional LinkedIn. E também chegou a estar no site do centro.

A notícia foi avançada pela Rádio Renascença e pouco depois, explicou ao PÚBLICO a assessoria de imprensa do Cederj, foi retirada. O PÚBLICO enviou ainda uma lista de perguntas ao responsável pelo site do centro brasileiro, Leonardo Viana, mas não recebeu qualquer resposta até às 22h. Contudo, à Rádio Renascença o responsável disse que a imagem de Sócrates foi retirada de um banco de imagens. “Ao que parece, a foto foi produzida. Acreditamos ter sido uma montagem realizada por alguém. Acreditamos que a produção foi realizada sem o conhecimento de quem é a pessoa”, diz Leonardo Viana, citado pela Renascença. E acrescenta: “Pedimos desculpas e lamentamos muito o facto. No mais, tomaremos todas as providências para que isto nunca mais ocorra dentro da instituição”.

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado de Sócrates, João Araújo, adiantou que o ex-primeiro-ministro ficou incomodado com esta história, mas não pretende reagir. “Para já a retirada da montagem da Internet parece suficiente”, afirmou João Araújo, que justifica essa opção com o facto de não se querer “distrair do que é essencial”. Apesar disso, o advogado realça: “Esta montagem não é inocente. Tenho a certeza que isto partiu de Portugal”. Araújo diz estar muito ocupado com a defesa de Sócrates no caso Marquês, - o processo que esteve na base da prisão preventiva do ex-primeiro-ministro em finais de Novembro, uma medida de coacção que no início do mês foi alterada para prisão domiciliária – não tendo disponibilidade para perceber melhor os contornos deste episódio. João Araújo garante que o cliente não vendeu qualquer foto a um banco de imagens.

Clara Lima, gestora de clientes na VMI, que representa em Portugal o conhecido banco de imagens norte-americano Corbis, estranha este caso. “Acho muito pouco provável que alguém recorra a um banco de imagem e não saiba que está a usar a foto de um ex-primeiro-ministro”, afirma, explicando que as imagens disponíveis estão devidamente catalogadas e com as indicações de como podem ser usadas. “Se um fotógrafo tira uma fotografia de uma pessoas para ilustrar um concerto, essa foto não pode ser utilizada para promover um produto ou um serviço”, exemplifica.

Os bancos de imagem apenas licenciam os direitos dos fotógrafos, sendo o cliente final responsável por obter autorizações, se necessárias, relativamente ao conteúdo da foto para efeitos comerciais, seja à entidade pública que gere o património no caso da Torre de Belém seja aos proprietários de uma habitação no caso de uma residência particular. Clara Lima admite, contudo, que a imagem pode ter sido "roubada" da Internet, algo que "infelizmente é muito comum". 

Recorde-se que a forma como Sócrates obteve a licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente, em 1996, foi polémica. Sócrates terminara o bacharelato no Instituto Superior de Engenharia Civil de Coimbra em 1979 e 15 anos mais tarde, já deputado, inscreveu-se no curso do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, onde fez algumas cadeiras. Em 1995, regressou à universidade, desta vez à Independente, onde conclui o curso com a realização de cinco disciplinas, quatro delas leccionadas pelo mesmo professor. Algumas classificações foram lançadas num domingo. 

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