Organização portuguesa usa imagem de menino sírio em alerta sobre afogamentos

Conselho Português de Prevenção Civil divulga mensagem polémica no Facebook e diz que foi mal interpretado.

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A foto do menino sírio Aylan Kurdi, de bruços sobre a areia, morto, numa praia na Turquia – e que se transformou no símbolo mais chocante da actual crise de migrantes na Europa –, provocou uma nova onda de incredulidade nesta quinta-feira. Mas neste caso, o motivo foi a utilização da terrível imagem para alertar para o problema dos afogamentos.

A associação foi feita através de uma mensagem no Facebook, difundida pelo Conselho Português de Prevenção Civil (CPPC) – uma organização não-governamental criada em 2011. A foto é uma das imagens que têm vindo a circular desde ontem, mostrando de perto a criança de três anos, encontrada morta na praia depois de se ter afundado o insuflável a partir do qual vários migrantes tentavam chegar à Grécia.

A mensagem começa por dizer: “Ensine o seu filho a nadar, para não passar o resto da vida a lamentar!”. E acrescenta: “Embora a imagem seja de uma criança migrante que infelizemente morreu na travessia, estas imagens devem ter por utilidade a dupla sensibilização pelo drama da migração e simultaneamente de acção preventiva dos afogamentos em quaisquer circunstâncias”.


Noutra mensagem, o CPPC mostra a mesma imagem e compara-a com a de uma operação de salvação de baleias numa praia não identificada. “Lamentamos a morte de crianças mas pouco fazemos para evitar estas tragédias. Infelizmente mobilizamo-nos mais por outras espécies animais do que pela nossa própria espécie”, refere o texto.

As mensagens suscitaram mais de uma centena de comentários de indignação e acabaram por ser retiradas do Facebook.

João Paulo Saraiva, presidente do CPPC, entende que a mensagem foi mal interpretada. “Não compreendemos. Foi dada uma interpretação negativa que desvalorizamos”, disse ao PÚBLICO.  

Saraiva afirma que o texto da mensagem era mais longo, mas que, por problemas técnicos de rede, não pôde ser colocado na íntegra. O objectivo era o de “alertar a opinião pública” tanto para a questão dos migrantes, como para o problema dos afogamentos. “Os Estados-membros [da União Europeia] não estão a fazer o suficiente”, diz o presidente do CPPC.

João Saraiva diz ainda que a imagem era de conhecimento público. “Já estava a correr mundo. Partilhámos não uma imagem, mas uma notícia”, justifica.

Entretanto, três petições – duas a favor e uma contra a recepção de migrantes em Portugal – estavam esta quinta-feira entre as mais activas da plataforma online Petições Públicas. Até às 18h45, 779 pessoas tinham subscrito uma petição contra a proposta da Cruz Vermelha Portuguesa de construção de um centro de refugiados em Olhão, no Algarve.

Do outro lado, 700 pessoas tinham subscrito a petição “Portugal pode aceitar mais refugiados” e 371 a “Petição pelo acolhimento, governamental, de refugiados em Portugal”.

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