Igreja Católica contra educação sexual nas escolas da Croácia

Pais e Igreja descontentes com programa do Governo de centro esquerda.

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A gravidez e o aborto na adolescente preocupa o Governo croata AP

Da contracepção à masturbação, passando pelas doenças sexualmente transmíssiveis, homossexualidade e igualdade de sexos. Estes são alguns dos temas do programa experimental, para dois anos, de educação sexual nas escolas da Croácia, com o objectivo de sensibilizar os mais novos para os potenciais problemas ligados à sexualidade. Uma iniciativa do Governo de centro esquerda que deixou descontentes a Igreja Católica e as associações de pais mais conservadoras.

Mais de duas mil gravidezes e 400 abortos foram registados entre as adolescentes croatas, aponta Vinko Filipovic, responsável governamental pelo programa de Educação Sexual, em declarações à AFP. "Face a estes números alarmantes é necessário educar as crianças que começam a chegar à idade de maturidade sexual", justifica.

Por isso, o programa está pensado para os alunos dos nove aos dez anos, que recebem três a quatro formações, em cada ano lectivo, na área da educação sexual. Basicamente, o objectivo é que discutam temas com especialistas ou com professores, não havendo qualquer manual associado.

Mas este programa suscitou preocupações junto da Igreja Católica do país, bem como das associações de pais conservadoras que defendem que a educação sexual deve ser responsabilidade dos pais e não da escola, e temem a doutrinação por parte do Estado.

"Está em jogo a paz na nossa pátria!", exclamou recentemente o arcebispo de Zagreb, Josip Bozanic, apelidando o programa de "destruidor e perigoso".

A Igreja destribuiu, por todo o país, folhetos onde apela aos pais para assinarem petições contra o programa. "Não vos preocupa que ensinem aos vossos filhos que uma relação homossexual é tão natural como uma relação entre um homem e uma mulher?", pode ler-se num desses folhetos.

A Grozd, uma associação de pais de cariz conservador, acusa o programa governamental de ter uma "visão da vida que é contra os valores da maior parte dos pais", num país onde 86% dos 4,2 milhões de habitantes é católico.

A associação diz que não é contra a educação sexual nas escolas mas que deve ser dado aos encarregados de educação a possibilidade de escolha entre dois programas, o do Governo e outro que defenda os valores dos pais. "Este programa viola o direito dos pais de decidir a educação que querem dar aos seus filhos. Viola um direito fundamental que é o de pensarmos de maneira diferente", constata Ladislav Ilcic, presidente da associação Grozd.

Nas últimas semanas o debate tem vindo a subir de tom. Valentin Pozaic, bispo de Zagreb apelou ao derrube do Governo, comparando-o com os regimes totalitaristas comunista ou nazi.

O ministro da Educação, Zeljko Jovanovic, veio denunciar o comportamento "inaceitável" e "difamatório" da Igreja, que "pode dizer e fazer o que quiser fora das escolas, mas não pode decidir o que vai ser ensinado".

De recordar que a Igreja Católica assumiu um maior peso, tendo-se tornado um parceiro das autoridades desde que a Croácia se tornou independente, em 1991, até então parte da Jugoslávia. Para Ivica Mastruko, sociólogo da religião e ex-embaixador da Croácia para o Vaticano, "esta é mais uma tentativa da Igreja Católica se afirmar como força política na sociedade croata".

Segundo uma sondagem recente, 56% dos croatas defende que a educação sexual é necessária e a Igreja Católica não se deve intrometer, mas 33% considera que o programa não é aceitável pelos católicos.

Mesmo entre os alunos, a polémica subsiste, dos cerca de 516 mil alunos que vão ser sujeitos ao programa há quem o conteste e quem critique a intervenção da Igreja Católica.

"É muito barulho por nada. Mas a Igreja não deve interferir nas escolas", defende Laura, 15 anos. Goran, outro adolescente ouvido pela AFP, prefere "colocar as dúvidas aos amigos mais velhos, em vez de o fazer com os professores, que se podem sentir menos à vontade para discutir determinados assuntos com os alunos."

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