Houve erro humano no acidente do C-130H que matou três pessoas

O relatório da Força Aérea diz que a tripulação não conseguiu controlar a aeronave. O ministro da Defesa recusou a expressão "erro humano" e sublinhou a exigência do exercício em causa.

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O relatório exclui problemas com a aeronave e questões meteorológicas EVR ENRIC VIVES-RUBIO/Arquivo

O acidente com o avião da Força Aérea Portuguesa, um C-130H, que a 11 de Julho provocou a morte de três militares, na base aérea n.º6, no Montijo, ocorreu devido à “impossibilidade da tripulação em controlar eficazmente a aeronave no decurso de uma manobra que visava treinar a interrupção da respectiva corrida de descolagem – manobra designada de ‘aborto à descolagem’”, lê-se no relatório da Força Aérea divulgado esta quarta-feira.

As conclusões do relatório da Comissão Central de Investigação da Força Aérea excluem problemas com a aeronave e questões meteorológicas como explicação para o acidente. No relatório, a Força Aérea conclui que “a infra-estrutura aeronáutica encontrava-se pronta para operação, sem restrições, e não se verificavam factores meteorológicos passíveis de causar, por si só, o acidente”, e garante que a “aeronave não apresentava quaisquer problemas ou anomalias que inviabilizassem a tipologia da missão a efectuar”.

O relatório esclarece que “da saída de pista não resultaram quaisquer lesões ou ferimentos em nenhum elemento da tripulação”, e conclui que os militares morreram devido à “imobilização abrupta” da qual deflagrou um incêndio na zona do trem de aterragem e asa direita e que depois "se propagou rapidamente ao resto da fuselagem e ao solo contíguo”.

A tripulação ainda tentou abandonar a aeronave pelo compartimento de carga, como ditam os procedimentos de segurança, mas o espaço já estava envolto em chamas, acrescenta o documento.

Esta via revelou-se impossível dada a existência de fumos e de temperaturas extremas, bem como à ocorrência de danos estruturais na fuselagem. Quatro dos tripulantes conseguiram abandonar a aeronave através das janelas do cockpit, sendo que os restantes não conseguiram recorrer a outra saída de emergência.

A Força Aérea sublinha que a missão “foi devidamente planeada e coordenada entre a tripulação”, e esclarece que este é um tipo de treino de manobras que “implicam um risco associado mais elevado do que as decorrentes de uma missão normal, razão pela qual são previamente treinadas em simulador de voo”.

O acidente causou a morte de três militares e deixou um ferido grave e três ligeiros. Os militares foram assistidos no local e depois encaminhados para unidades hospitalares, indicou a FAP à data. No relatório acrescenta-se que a "resposta dos serviços de assistência e socorro da BA6 foi imediata e eficaz" e elogia-se também a "coordenação com as entidades civis prontamente chamadas ao local".

O Lockheed C-130 H/ H-30 Hercules é um aparelho vocacionado para a operações de busca e salvamento e transporte. Segundo a Força Aérea Portuguesa, as “excepcionais características operacionais (robustez, versatilidade, capacidade, raio de acção e autonomia)” do aparelho “garantem à Força Aérea Portuguesa a capacidade para a realização de missões de transporte aéreo táctico e transporte aéreo geral, de patrulhamento marítimo e de busca e salvamento, apoio logístico às Forças Armadas Portuguesas" e à NATO, e também o apoio a operações de combate a incêndios florestais.

Ministro da Defesa afasta "erro humano"

Reagindo ao relatório, o ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, recusou que possa concluir-se que foi um "erro humano" a motivar o acidente com o C-130, em Julho. "Eu não posso falar em erro humano, posso falar quando muito num factor humano envolvido no acidente mas em que daí não resulta um qualquer juízo de censura perante o que aconteceu. Estamos a testar situações limite e, nessas situações, a hipótese de não correr bem é uma hipótese que tem de se considerar como natural", afirmou, à margem da reunião de ministros da Defesa da NATO, que se iniciou esta quarta-feira, no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

Azeredo Lopes sublinhou que "o que foi testado foi uma situação de dificuldade máxima" e considerou que, nessas circunstâncias, dizer que foi "erro humano pressupõe uma actuação aquém do nível de exigência", cita a Lusa. "Neste caso não se verificou isso", acrescentou. Observou que o ocorrido "ajuda de alguma maneira a compreender a condição militar", já que "para que um piloto esteja preparado para actuar em qualquer teatro de operações com aquela aeronave, mesmo na formação e treino, é sujeito a situações limite que pela natureza das coisas pode colocar em risco a sua vida".

“Cortes orçamentais não prejudicaram”

Azeredo Lopes recusou a possibilidade de os cortes orçamentais havidos no passado em manutenção e operação terem prejudicado o treino da tripulação do C-130. "Há de haver outras circunstâncias em que podemos discutir se os cortes em operação e manutenção têm ou não impacto na capacidade das Forças Armadas, mas seguramente não há-de ser este o caso”, comentou. O governante lembrou que "o relatório de peritos demonstra que não há qualquer reparo a fazer à forma como o C-130 funcionou".

O ministro elogiou ainda a Força Aérea pela transparência de um relatório "esclarecedor, sem zonas de penumbra", e por o ter divulgado, considerando-o "um acto de louvar".

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