Greve dos enfermeiros com menos adesão no Alentejo do que em Lisboa

Na quinta-feira o protesto chega ao Algarve. Adesão no Alentejo foi de 69%, mas no Hospital do Litoral Alentejano chegou aos 95%.

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Só os serviços mínimos são assegurados em dia de protesto Nuno Ferreira Santos/arquivo

A greve dos enfermeiros convocada para esta quarta-feira no Alentejo teve uma adesão de 69%, inferior aos mais de 77% conseguidos no protesto que foi feito na região de Lisboa e Vale do Tejo na terça-feira. Mesmo assim, em unidades como o Hospital do Litoral Alentejano o valor da adesão superou os 95%. Os dados são avançados pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que explica que na base do descontentamento da classe estão sobretudo questões de desigualdade salarial e de desvalorização da carreira.

O SEP explica que no Alentejo, “como acontece na generalidade das instituições do país, a inadmissível desigualdade e discriminação salarial dos enfermeiros com contrato individual de trabalho é mantida pelas instituições e pelo Ministério da Saúde”. Segundo uma nota do sindicato, há vários enfermeiros com as mesmas qualificações e funções e com salários distintos, uns com uma remuneração bruta de 1020 euros e outros com 1165 euros. Em todos os casos, alerta o SEP, o valor é inferior aos 1201 euros que deviam receber.

A greve está a condicionar a realização de exames especiais, cirurgias programadas e tratamentos nos hospitais e centros de saúde do Alentejo. Zoraima Cruz Prado, dirigente do SEP, em declarações à Lusa no Hospital do Litoral Alentejano, adiantou que só os serviços mínimos estão assegurados. A sindicalista disse também que aquela unidade “é uma das instituições em que a carência de enfermeiros é mais grave”, o que coloca em causa a segurança dos utentes. Como exemplo, referiu que na Unidade de Cuidados Intensivos “das sete camas disponíveis, duas não estarão a ser utilizadas por falta de enfermeiros”.

A greve desta quarta-feira no Alentejo corresponde ao segundo de três dias de luta. Na terça-feira foi a vez de os hospitais e centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo pararem e na quinta-feira o protesto chega ao Algarve. O primeiro dia ficou marcado por um comunicado do Ministério da Saúde onde a tutela dizia que o momento escolhido pelos enfermeiros para paralisar “causa estranheza”, até porque garante ter apresentado “propostas concretas” para a revisão da carreira de enfermagem. Por isso, o ministério decidiu avançar com uma “suspensão das negociações que se encontravam em curso” com os sindicatos dos enfermeiros.

Já o SEP acusou o Ministério da Saúde de responder apenas a um dos oito pontos reivindicados pelo sindicato. “É inadmissível que não apresente uma contraproposta de revisão global das questões salariais, tal como o Governo apresentou para outras profissões”, observava o presidente do SEP, José Carlos Martins. Questionado sobre as acusações de quebra de diálogo por parte da tutela, José Carlos Martins atribuiu as declarações à aproximação das legislativas: “A campanha eleitoral obriga a propaganda demagógica inadmissível”. Caso o Ministério da Saúde não “evolua nas suas posições”, o SEP prometeu avançar com mais protestos. O primeiro passo será estender as paralisações para o Centro e para o Norte. O segundo, uma greve de âmbito nacional.

À tarde, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, defendeu que os números que estão a ser avançados sobre a greve dos enfermeiros estão errados e que o cálculo da adesão só poderá ser feito depois do processamento de salários. “Nestes números que estão a ser adiantados, a única certeza que temos é que estão errados. Cada vez que são apresentados dados reais, se os compararmos com os que foram avançados, são sempre empolados: é o que a evidência demonstra”, alegou, citado pela agência Lusa.

Paulo Macedo aproveitou para criticar a declaração de greve no Algarve, "numa altura em que as pessoas mais precisam de cuidados". "Por um lado é muito estranho, mas, por outro, já não é assim tão estranho se tivermos em conta que, no ano passado, este mesmo sindicato marcou uma greve quando foi a crise da ‘legionella’”, referiu.

O ministro da Saúde disse ainda estranhar a greve, quando “estava marcada uma reunião para 27 de Agosto com uma proposta que foi entregue para melhorias de condições de milhares de enfermeiros". Esclareceu ainda que “não estava, nem estará” em discussão “qualquer proposta de passagem de 40 para 35 horas semanais, porque isso é uma lei da Assembleia da República”.

com Lusa

 

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