Suicídios levam PSP a propor rastreio com consultas de psicologia a 22 mil polícias

Director nacional da PSP propõe contratar mais psicólogos. Só na última semana registaram-se quatro suicídios.

Foto
PSP fez uma detenção a cada 40 minutos na Grande Lisboa em 2012 Daniel Rocha/Arquivo

O Governo decidiu criar um grupo de trabalho que irá rever o Plano de Prevenção do Suicídio nas Forças de Segurança. A informação foi adiantada em comunicado ao final da tarde desta sexta-feira pelo Ministério da Administração Interna (MAI) na mesma altura em que se reuniam com o director nacional da PSP, Luís Farinha, os representantes dos sindicatos daquela polícia. Na reunião que começou pelas 15h e acabou às 19h foram debatidas propostas para melhorar a prevenção de situações de suicídio na PSP. Luís Farinha e os sindicatos concordaram com duas propostas: contratar mais psicólogos para reforçar os comandos e fazer um rastreio aos 22 mil agentes da PSP, o que, se for aprovado, incluirá uma consulta de psicologia a cada um de dois em dois anos.

"Durante a reunião foram debatidos os factores que estarão a contribuir para estas situações e que são familiares e financeiros. Não podemos esquecer ainda a pressão feita sobre os agentes no dia-a-dia na PSP, com horários mudados de repente. A revisão do plano de prevenção parece-me uma boa ideia, mas também é importante que os hospitais que tratam agentes que se tentaram suicidar passem a comunicar esses episódios à PSP", disse o presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia, Mário Andrade. Já o presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, sublinhou ser importante "evitar o escalar deste fenómeno", que a "PSP seja mais humana com os seus" e revelou esperar que a revisão do plano "não seja uma ideia que fique perdida pelo caminho".

Também o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues elogiou as propostas que saíram desta reunião destacando que, "se as consultas forem obrigatórias para todos, será mais fácil porque elimina-se o preconceito de se achar que só quem é doido é que vai ao psicologo".

A decisão e a reunião surgem como reacção a uma recente vaga de suicídios de elementos da GNR e da PSP. Este ano já morreram 12 elementos, sendo que na última semana e meia puseram termo à vida três agentes da PSP e um militar da GNR. A última morte foi a de uma agente da PSP que terá usado a arma de serviço quarta-feira junto a uma esquadra na Maia. No local, a agente de 38 anos deixou um bilhete onde avisou que não queria polícias fardados no funeral que ocorrerá este sábado.

“Atento às circunstâncias de suicídio nas forças de segurança durante o ano de 2015, o ministro da Administração Interna teve reuniões de trabalho com o comandante-geral da GNR e o director nacional da PSP, tendo sido determinada a revisão do Plano de Prevenção do Suicídio Nas Forças de Segurança. Tal revisão tem como principais objectivos a adequação do referido plano ao contexto actual e o reforço das políticas activas da prevenção das práticas suicidas”, refere o comunicado do MAI.

O grupo de trabalho é composto por um representante do MAI, que o coordena, e um representante da cada uma das forças policiais. “O grupo de trabalho deverá apresentar um relatório preliminar no prazo máximo de 30 dias”, estabelece ainda a tutela.

A decisão do ministro da Administração Interna, João Calvão da Silva, vem já na sequência de uma determinação do director nacional da PSP Luís Farinha. Num e-mail enviado esta quinta-feira a todos os agentes, o superintendente-chefe anuncia a determinação de, a nível interno, ser feita a “revisão dos mecanismos de prevenção existentes, o reforço da disponibilização de apoio psicológico e das acções de prevenção e de formação neste domínio”. Luís Farinha quer assim que a PSP seja mais eficaz “a combater este flagelo”.

Na mensagem de correio electrónico enviado aos agentes da PSP, o director nacional pede ainda a todos os polícias para que estejam atentos aos colegas e que informem a PSP no caso de detectarem algum sinal depressivo. “Exorto-vos a que num quadro de saudável camaradagem e entreajuda, todos nos preocupemos com o camarada que faz serviço ao nosso lado e que todos os níveis hierárquicos, no âmbito das suas responsabilidades reforcem a sua acção de supervisão, acompanhamento e apoio a todos os elementos da PSP, na certeza de que a instituição fará o que estiver ao seu alcance, para ajudar aqueles que no dia-a-dia e frequentemente, em situações difíceis, desenvolvem o seu trabalho”, escreveu Luís Farinha. Para o director, o “trabalho de prevenção e de referenciação de potenciais riscos é um trabalho de todos para todos” e é necessário quebrar as “reservas” e os “estereótipos” que “frequentemente existem em voluntariamente pedir apoio psicológico ou expor problemas pessoais”.

Luis Farinha não esquece ainda, neste contexto que, os actuais “tempos de constrangimentos podem potenciar a que cada um viva os seus problemas e dificuldades de forma fechada e isolada dificultando, desta forma, o conhecimento pela instituição e pelo diferentes níveis hierárquicos e, consequente a possibilidade do accionamento do apoio disponível”.

O director nacional admite ainda que “não obstante os meios e mecanismos existentes e acessíveis a todos os polícias [a PSP tem meios a nível nacional para disponibilizar apoio psicológico com carácter regular e permanente] e das 10.500 consultas de avaliação psicológica já realizadas, verifica-se que infelizmente continuam a ocorrer suicídios na família policial”.

 

Linha de apoio psicológico para agentes da PSP: 800 212 312

Linha de apoio psicológico para militares da GNR: 800 962 000

Sugerir correcção
Ler 3 comentários