Garcia Pereira garante que nunca pertenceu à CIA nem é maçon

Líder do Partido Trabalhista na Madeira começou a ser julgado em Lisboa por difamação, mas faltou por falta de dinheiro para pagar viagem.

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Rui Gaudêncio

O antigo dirigente do MRPP Garcia Pereira quer ver condenado em tribunal o líder do Partido Trabalhista na Madeira, José Manuel Coelho, por este o ter acusado de pertencer à CIA. No julgamento que começou esta quinta-feira, em Lisboa, este advogado declarou que nunca trabalhou para agências secretas de “potências estrangeiras” e recordou o dia em que Coelho “se emboscou” nas imediações do Largo de Santa Cruz, no Funchal, andava Garcia Pereira em campanha eleitoral, para o atacar verbalmente.

Remontam a longe as desconfianças do líder do Partido Trabalhista relativamente ao partido do qual Garcia Pereira foi forçado a sair no final do ano passado, por desentendimentos com a direcção. Ausente do julgamento em que responde por difamação, por falta de dinheiro para se deslocar ao continente – tem parte do ordenado penhorada na sequência de sucessivos processos judiciais do mesmo género que foi perdendo –, José Manuel Coelho explicou ao PÚBLICO que sabe do que fala, porque já militou no PCP: “Em 1971 a CIA achava que Salazar ia cair e que o PCP tinha demasiada força. Foi por isso que criou o MRPP - para confundir as massas e dividir os comunistas”.

Em 2011, estava José Sócrates de saída da chefia do Governo quando o MRPP descobre que o Partido Trabalhista lhe plagiou dois comunicados políticos, um precisamente sobre o ex-primeiro-ministro e outro versando política educativa. Ter-se-ia limitado a trocar o logotipo do partido, divulgando o conteúdo como se fosse seu. Quando o Diário de Notícias da Madeira o questionou acerca do assunto, Coelho, que era então candidato à Presidência da República, partiu para o contra-ataque. Chamou “agentes da CIA” ao fundador do MRPP, Arnaldo de Matos, e a Garcia Pereira, que acusou ainda ser um “maçónico” e de, na qualidade de advogado, instruir os processos que Alberto João Jardim levantava “aos democratas”.

Arnaldo de Matos acabou por desistir de processar o truculento político da Madeira, mas Garcia Pereira manteve-se firme, apesar de a juíza que tem o processo em mãos ter tentado uma última conciliação das partes minutos antes de começar o julgamento: o advogado e professor universitário ficou “profundamente vexado” por alguém poder imaginar que estava mesmo “ao serviço de uma potência estrangeira responsável por inúmeras violações de direitos humanos, golpes de Estado e assassinatos políticos”. Chegou a ter de falar com os filhos por causa disso, embora "eles saibam, evidentemente, que o pai não é agente da CIA".

Negou igualmente pertencer à maçonaria: “Não sou maçon, tenho familiares e amigos que são”. É verdade que chegou a ter em mãos vários processos contra José Manuel Coelho, que levaram à sua condenação, mas o seu cliente era o vice-presidente do Governo regional, João Cunha e Silva, e não Alberto João Jardim.

E contou, a propósito, um episódio que se passou anos antes da publicação do artigo de jornal que deu origem a este julgamento. Garcia Pereira era candidato a Presidente da República e andava pelo Funchal em campanha quando Coelho “se emboscou nas imediações do Largo de Santa Cruz” para o acusar de ser “advogado de um fascista”. Esse “fascista” seria precisamente João Cunha e Silva. Doutra vez, num debate promovido pela RTP com candidatos dos partidos mais pequenos, o agora deputado  “levantou-se e pôs-se por trás” de Garcia Pereira e dos outros intervenientes para mostrar uma cartaz do seu partido, obrigando a jornalista que conduzia a emissão “a abortar a primeira parte do programa e a ir para intervalo”.

Mesmo que seja condenado, a indemnização não fará mossa a Coelho: o advogado pede-lhe o valor simbólico de um euro. Tudo dependerá da idade da juíza que está a julgar o caso, observa o deputado da Assembleia Legislativa Regional da Madeira: “Se for nova pode ser que ainda não esteja minada”. 

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