"Futuro só pode melhorar com chegada de novas gerações de seniores"

Lisboa é “uma capital muito ingrata para ser vivida pelas pessoas mais velhas”, diz o sociólogo e director do Instituto do Envelhecimento, Manuel Villaverde Cabral, que frisa a necessidade de políticas urbanas dirigidas à população mais velha.

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Lisboa é a capital e reúne uma população mais escolarizada exercendo funções qualificadas na administração bem como em muitas das grandes empresas do país NUNO FERREIRA SANTOS

Uma parte significativa dos inquiridos com 50 ou mais anos só raramente "olha para o passado com alegria”, não tem grandes expectativas para o futuro, e só 40% declara que a sua saúde é boa. Estes indicadores permitem concluir que é mais duro envelhecer em Portugal?
Do ponto de vista subjectivo, é indiscutível: mais duro ou mais difícil. O envelhecimento é de facto vivido em Portugal por uma grande parte dos idosos com maiores tendências depressivas e mais sintomas de ansiedade, como o estudo aliás confirma ao nível da saúde mental, a qual é mais afectada em Portugal do que na média dos países europeus. E também é exacto que outras instituições como a OMS [Organização Mundial de Saúde] confirmam que os portugueses têm uma esperança de vida alta mas mais anos com a saúde afectada do que o conjunto dos europeus.  

Em quase todos os indicadores deste estudo, os habitantes de Lisboa têm melhores resultados. Pode dizer-se que Lisboa é um "país" à parte dentro de Portugal?
Não necessariamente. Lisboa é a capital e reúne uma população mais escolarizada exercendo funções qualificadas na administração bem como em muitas das grandes empresas do país, incluindo empresas estrangeiras, e auferindo por isso rendimentos superiores à média do país; por essas mesmas razões, tem acesso a estabelecimentos universitários e culturais comparativamente mais abundantes, etc. O capital social e cultural dos lisboetas é portanto superior à média do país mas não exclui outros concelhos da Grande Lisboa, bem como cidades como o Porto e Coimbra nomeadamente. O contraste estatístico esconde uma situação na realidade mais gradual entre todas as regiões do país e regiões autónomas, escondendo em contrapartida as desigualdades sociais.

As limitações físicas ao desempenho de actividades do dia-a-dia são em Portugal muito superiores à média europeia e em Lisboa ainda mais. Quais devem ser as prioridades de actuação dos responsáveis pela autarquia lisboeta a este nível?
Isso significa sem a menor dúvida que Lisboa, pela sua geografia como pela sua história, assim como pela falta de políticas urbanas efectivas dirigidas à população sénior, é uma capital muito ingrata para ser vivida pelas pessoas mais velhas, não só nos diferentes níveis de mobilidade (desde a falta de elevadores nos prédios aos transportes públicos, etc.) como também no aquecimento das casas. O estudo reúne, com efeito, uma informação quase inesgotável para a aplicação de políticas de todo o tipo dirigidas aos mais velhos, tanto ao nível de Lisboa como do país em geral. O estado de saúde subjectivo comparativamente baixo da população portuguesa surge talvez mais como o indicador de um vasto conjunto de carências do que propriamente como um problema de falta de assistência médica. Neste sentido, o futuro só pode melhorar com a chegada de novas gerações de seniores e idosos com maior escolaridade e com actividades mais qualificadas, incluindo as práticas de envelhecimento activo.

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