Exercício físico pode contribuir tanto como medicamentos para evitar ataques cardíacos

Estudo publicado no British Medical Journal defende que combinação de desporto com fármacos é a melhor forma de evitar a morte ou o agravamento da doença em pessoas com problemas cardiovasculares.

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O exercício deve sempre ser adaptado a cada pessoa e conversado com o médico Marco Maurício

O exercício pode ser tão importante como a medicação nas pessoas com doenças cardíacas, rivalizando mesmo com os fármacos na hora de evitar a morte, indica um estudo.

O trabalho, citado pela BBC, que acaba de ser publicado no British Medical Journal, analisou 305 ensaios clínicos que envolveram 340 mil doentes para perceber o impacto tanto do exercício como dos medicamentos a prevenirem a morte em doentes cardíacos.

As conclusões dos investigadores apontam para que, em muitos casos, além da medicação os especialistas devam recomendar exercício físico aos doentes – sendo esta a melhor forma combinada de prevenir ataques cardíacos.

Ainda segundo os cientistas da London School of Economics, Harvard Medical School e Stanford University School of Medicine, a maioria dos doentes acaba por estar medicada mas por ter uma vida sedentária. E adiantam que, por exemplo, no Reino Unido apenas um terço das pessoas fazem as recomendadas duas horas e meia de exercício moderado ou moderado a intenso por semana. Pelo contrário, o consumo de medicamentos não pára de crescer.

O estudo assegura que estes dados vão no sentido contrário do que mostram os ensaios clínicos, em que os doentes que conjugavam medicação com exercício físico tiveram uma menor mortalidade. Ainda assim, foram encontradas duas excepções: os chamados "medicamentos diurético"s pareceram ser mais eficazes a evitar a mortalidade em doentes com falência cardíaca, enquanto o exercício mostrou ser melhor na esperança de vida nos casos de acidente vascular cerebral.

Em reacção ao estudo, a British Heart Foundation alertou que é muito importante que todos os doentes continuem a tomar os seus medicamentos e que a prática de exercício físico deve ser sempre vista caso a caso com o médico. Além disso, defendeu que faltam dados a longo prazo sobre os efeitos do exercício, diz a BBC.

Pouca reabilitação cardíaca
Em 2009 também foi divulgado em Portugal um estudo que concluía que no país a reabilitação cardíaca ainda é subutilizada, apesar de o exercício físico reduzir o risco de morte por insuficiência cardíaca. O trabalho do Grupo de Estudos de Fisiopatologia de Esforço e Reabilitação Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia dizia que ainda poucos centros prestam este serviço e que entre 1998 e 2007 foram apenas 5588 os doentes que fizeram um programa de reabilitação no país.

Também em 2009, um estudo mais geral sobre a importância e a prática de exercício concluiu que as crianças e os adolescentes portugueses têm uma actividade física muito inferior ao recomendado para esta faixa etária, enquanto a maioria dos adultos são suficientemente activos. A questão é que para os mais novos a fasquia é colocada mais alta. Estas foram as duas principais, e mais surpreendentes, conclusões de um estudo inédito em Portugal, baseado na análise física (e não em questionários) e realizado por cinco universidades para o Observatório Nacional de Actividade Física e Desporto.

As crianças e jovens devem acumular diariamente 60 minutos de actividade física moderada (como andar rapidamente), 20 a 30 dos quais em actividade vigorosa (como correr). Ora, em média, os jovens rapazes entre os dez e os 17 anos cumprem apenas 50 minutos e as raparigas ficam pouco acima dos 30 minutos, o que significa que 70% dos rapazes e 90% das raparigas não são suficientemente activos. As mais de 3200 crianças e adolescentes monitorizadas mostram ainda que na adolescência diminuem a sua actividade física.

A outra conclusão é a de que a maioria dos adultos cumpre os índices recomendados na sua faixa etária: 30 minutos de actividade moderada diária (ou 20 a 25 minutos de actividade vigorosa, três dias por semana). Os idosos, por sua vez, estão abaixo dos 50% no cumprimento das metas recomendadas (idênticas às dos adultos). Nos homens, 45% são suficientemente activos, enquanto as mulheres se ficam pelos 28%.

Na mesma altura foi divulgado um estudo da HF-ACTION (que analisou os efeitos do exercício físico na morbilidade e mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca), que dizia que bastaria pedalar cerca de meia hora numa bicicleta estacionária ou caminhar numa passadeira, na maioria dos dias da semana, para reduzir o risco de hospitalização ou morte por insuficiência cardíaca.

O trabalho divulgado em 2009 contou com 2331 doentes, com uma média de idade de 59 anos, de 82 localidades dos Estados Unidos, França e Canadá, que foram seguidos durante dois anos em meio. De acordo com os investigadores, os participantes que estavam no grupo do exercício físico reduziram em 15% o risco de morte e hospitalização por complicações da insuficiência cardíaca.

Um milhão de euros por dia em Portugal com medicamentos cardiovasculares
Quanto a prescrições, em Portugal, o grupo dos medicamentos cardiovasculares é o que também apresenta um maior nível de consumo, representando cerca de 30% dos encargos totais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com medicamentos em meio ambulatório.

Um estudo da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) que analisou o consumo destes fármacos entre 2000 e 2011 concluiu que houve um aumento significativo da sua utilização, o que reflecte a elevada prevalência das doenças cardiovasculares em Portugal, custando cerca de um milhão de euros por dia ao SNS.

O mesmo estudo registou um padrão diferente de utilização de medicamentos, com os portugueses a consumirem medicamentos com substâncias mais caras do que, por exemplo, os suecos ou os ingleses.
 
 

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