Exame de Português com grau de dificuldade equivalente ao do dia 17

Alunos que não puderam fazer exame devido à greve de professores prestaram hoje provas. Notas serão conhecidas a 11 de Julho.

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Em 2014/2015, último ano com dados, estavam inscritos no recorrente cerca de dez mil alunos Joana Freitas

A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, disse que o exame nacional realizado nesta terça-feira pelos cerca de 15 mil alunos impedidos de o fazer no dia 17, devido à greve de professores, “parece ser relativamente equilibrado, no que respeita ao grau de dificuldade, em relação ao primeiro”, mas ressalvou que "não é possível" afirmá-lo de forma taxativa.

A prova desta terça-feira permite a candidatura ao ensino superior na primeira fase e destina-se, precisamente, a assegurar essa possibilidade aos estudantes que se viram impedidos de fazer exame no dia 17, colocando todos em igualdade de circunstâncias. Naquele dia, representantes dos pais, dos alunos, dos professores e dos dirigentes escolares consideraram que a equidade tinha sido colocada em causa. Ontem, frisaram a importância do parecer dos especialistas sobre o grau de dificuldade da prova de hoje e da percepção dos próprios alunos, para atenuar o sentimento de injustiça que alguns podem vir a ter.

A presidente da APP deixou claro que “é sempre difícil fazer essa análise". "Quem faz as provas tenta, naturalmente, que o grau de dificuldade seja equivalente, mas nem sempre é possível assegurar que assim é, de forma rigorosa”, disse Edviges Ferreira, ressalvando que ainda não tinha feito uma análise profunda do exame.

Após “uma primeira leitura”, a presidente da APP considerou que para os alunos que nesta terça fizeram exame terá sido “cómodo” depararem-se, no Grupo I, com a Prece, da Mensagem, de Fernando Pessoa, "que normalmente é analisado nas aulas”. Em compensação, comparou, “a questão sobre o Memorial do Convento, de José Saramago, exigia um conhecimento aprofundado da obra” e o tema do texto expositivo — uma reflexão sobre a importância da crença no progresso para o desenvolvimento civilizacional — “é mais exigente do que o da prova de dia 17”, quando aos alunos foi pedido que reflectissem sobre o papel dos jovens enquanto agentes de transformação da sociedade.  

Edviges Ferreira afirmou que só quando saírem os resultados será possível fazer uma análise mais precisa. A tarefa, contudo, não será fácil, pelo facto de o lançamento das notas de Português do 12.º ano ocorrer no mesmo dia para todos os alunos que fizeram exame.

Inicialmente, a data marcada para a afixação das notas era o dia 12 de Julho, mas o Ministério da Educação e Ciência decidiu antecipá-la para dia 11 para permitir que os alunos que o pretendam tenham mais um dia para se inscreverem para a segunda fase dos exames nacionais. O despacho que procede ao ajustamento do calendário de exames, publicado nesta terça-feira em Diário da República, estabelece também novas datas para a realização das provas de equivalência à frequência dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário.

Também o grupo de professores de Português da Associação Nacional Professores (ANP) considerou que o grau de dificuldade das provas foi equivalente e que ambas foram acessíveis, mas frisou ser “difícil dizer que, com esta prova, ficou garantida a equidade”.

“Há muitas variáveis em jogo. Os alunos que fizeram a prova no dia 17 estavam ansiosos e nervosos com a situação, os de hoje estavam serenos; por outro lado, os de hoje confrontaram-se com perguntas sobre o Memorial do Convento que exigiam um conhecimento aprofundado da obra de Saramago e também com um tema do texto expositivo bastante mais exigente”, comparou a presidente da ANP, Paula Carqueja.

“Haverá sempre alguém insatisfeito. Ainda que o grau de dificuldade seja semelhante, a situação não é a mesma a que estavam sujeitos os alunos quando podiam escolher entre exames da primeira e da segunda fase, sujeitando-se a estas diferenças. Neste caso, a situação foi-lhes imposta”, disse Jorge Ascenção, da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Como Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Ascenção disse não ter conhecimento de quaisquer incidentes registados nas escolas. 

“Não suporto a Mensagem
“Saio com a sensação de que a prova foi igualmente acessível, mas estou curioso para comparar as notas de quem fez exame agora com as dos colegas que o puderam fazer no dia 17. Aqui na escola conhecemo-nos, é fácil comparar”, disse Carlos Caldeira, presidente da Associação de Estudantes da Secundária Quinta das Flores, de Coimbra. Nesta escola, só 45 alunos fizeram a prova dia 17. Os restantes 240, que devido à falta de professores vigilantes (em greve) viram a prova adiada para esta terça-feira, saíram aliviados, principalmente, diziam alguns, por estarem, “finalmente, em férias”.

A maior parte dos alunos ouvidos pelo PÚBLICO naquela escola secundária consideraram o exame tão acessível como o de dia 17, mas realçaram o factor sorte — nomeadamente, explicaram, a sorte de calhar um autor e uma obra de que gostam.

Luís Cruzeiro, por exemplo, ficou satisfeito quando se deparou com a Prece, de Fernando Pessoa, mas Joana Rosa nem “queria acreditar: Não aguento, não suporto a Mensagem, preferia Fernando Pessoa e os heterónimos, que foi o que saiu dia 17”, protestou. Sublinhou, ainda, que não ganhou nada com os dias extra de estudo: “Estava tão preparada hoje como naquele dia e já estaria de férias há uma semana”, disse.

Ao PÚBLICO, os presidentes das associações de estudantes das escolas secundárias de Camões (Lisboa) e Joaquim de Carvalho (Figueira da Foz), Diogo Madruga e João Fortunato, respectivamente, consideraram que não faz sentido comparar a dificuldade das duas provas, argumentando, ambos, que os alunos devem estar preparados para qualquer uma. Ambos disseram, ainda assim, que há uma componente que é sempre subjectiva (consoante o que cada um estudou mais aprofundadamente), mas que a opinião da generalidade dos colegas foi de que as provas eram equivalentes.

Sara Ferreira, dirigente estudantil da Escola Secundária Sá de Miranda, em Braga teve oportunidade de ouvir colegas a quem o Ministério da Educação e Ciência permitiu repetir a prova (anulando a primeira), por se terem registado incidentes que os impediram de a fazer com tranquilidade, no dia 17. “Uns diziam que esta era mais fácil, outros que era mais difícil — nunca estará toda a gente de acordo”, disse ao PÚBLICO.

Em resposta ao PÚBLICO, o MEC esclareceu esta terça-feira, através do gabinete de imprensa, que a concepção das provas a realizar num dado ano lectivo se inicia, em regra, em Setembro ou Outubro do ano civil anterior e que para cada disciplina estão sempre disponíveis quatro provas, “duas das quais constituem reserva para aplicação em situações especiais”. Foi uma dessas quatro provas de Português do 12º ano (de entre as três ainda disponíveis) que esta terça-feira foi realizada pelos estudantes.

 

 
Notícia actualizada às 21h03 e às 22h02: acrescenta a informação de que as notas do exame de Português serão lançadas a 11 de Julho e o último parágrafo. 
 

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