Exame de Matemática foi “adequado” e “muito mais fácil” que o do ano passado

Ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, a prova de Matemática A foi adequada, avalia a Associação de Professores de Matemática, que prevê que um aluno de 10 terá 10, um aluno excelente terá uma excelente nota.

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À saída da prova mais concorrida da época dos exames, o sentimento geral era de alívio Rita França
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Inês Alonso saiu depois do tempo de tolerância: “À medida que o tempo avançou eu tive de deixar a mão andar” Rita França

Ainda os alunos da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, não tinham saído da escola, já Manuela Carvalho, professora de Matemática, previa: “Boas notícias para os Politécnicos e para os cursos de engenharias, que no ano passado ficaram sem alunos… Aí vêm eles, que desta vez o exame foi facílimo!”

Nem dois minutos e rostos jovens de sorrisos rasgados desciam a escadaria a saltar degraus. Alguns nem esperavam pela pergunta: “Correu muito bem, setôra!”

Claro que a secundária D. Maria é a escola pública que tradicionalmente ocupa o primeiro lugar do ranking. E claro que também houve alunos que saíram do exame nacional de Matemática A de olhos brilhantes de lágrimas e lábios cerrados, num passo apressado que não admitia perguntas. Mas Manuela Carvalho, que há um ano previu a catástrofe a Matemática A (7,8 de média nacional), nem hesita em apostar que, “em ano de eleições”, as notícias são boas para o ministério e para os responsáveis pelos cursos que têm Matemática como específica (e, por isso, não podem aceitar alunos com menos de 9,5).

O que não significa que critique o exame feito por 47.566 estudantes . “Este está correcto, é adequado: um aluno que sabe o básico terá 10, um aluno bom terá uma boa nota e há uma pergunta para distinguir os estudantes excelentes. O exame do ano passado é que foi uma aberração”, comentou.

Foi esta também a primeira leitura de Jaime Carvalho, da Associação de Professores de Matemática, que considerou a prova “acessível e, ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, adequada ao programa, sem desequilíbrios e sem exageros de cálculo.

“Era extensa, mas sem exageros: era possível fazê-la dentro do período de tolerância, avaliou ainda, frisando que, apesar de acessível, a prova não foi de borla”. 

“Um aluno que estudou regularmente ao longo de todo o ano terá um 10, que é o que se espera. As médias vão subir e os milhares de alunos que se têm acumulado no secundário por chumbarem ou por não chegarem ao 9,5 vão ser libertados, previu Jaime Carvalho, que disse ter "ecos de professores de vários tipos de escolas e de todo o país"  que indicam que o exame foi recebido "com alívio, pela normalidade e adequação

A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) não criticou a prova de 2014. E, agora, voltou a considerar a prova feita pelos alunos nesta terça-feira "adequada, comparável à do ano passado". "Ligeiramente mais fácil, apenas", precisou o presidente daquela organização científica, Fernando Costa. Notou, "principalmente no grupo I", a existência de "algumas questões mais simples", o que na sua perspectiva poderá provocar uma subida das notas". Não prevê, contudo, "qualquer oscilação brusca da média", que nos últimos três anos se fixou, respectivamente, em 8,7, 8,2 e 7,8.

Para os alunos, a subida de algumas décimas pode fazer a diferença. Gustavo, que no ano passado chumbou e só quer fugir da Matemática, acredita que poderá ter 9,5, 10, o que lhe "basta para acabar o secundário. Gonçalo Correia, que em 2014 não chegou ao 9,5 no exame e este ano se dedicou apenas àquela disciplina, conta ter “para aí um 14 ou um 15 no exame” que fez como aluno externo. Já João Catarino, que teve 20 na frequência, estava inconsolável, porque fez “uma asneira estúpida” e poderá não chegar ao 18: "Desculpe, setôra, mas eu venho à segunda fase e não a deixo ficar mal..."

Beatriz Madeira, que vinha com 17 da frequência, mete-se com a professora: “Se fizesse testes assim, eu também tinha 20 de frequência, não é justo!” Mostrava-se, também, surpreendida com o ministro da Educação, "o senhor Nuno Crato, que, por gostar muito de Matemática aumentou o grau de dificuldade dos exames": "Desta vez foi muito mais fácil!"

Em frente à secundária D. Maria, os alunos com notas mais altas comentavam que uma eventual subida da média de Matemática, que é específica para muitos dos cursos da área da Saúde e das Engenharias, pode ter um efeito preverso nas médias de entrada nos cursos superiores. "De certeza que vão subir, podem disparar", concordavaram Inês, Joana e Diana, que foram a exame com 19 e não esperam tirar menos na prova.

Alívio também no Porto
Na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, o primeiro toque para a saída trouxe consigo quatro alunos das duas turmas de Ciências e Tecnologias, indício de que a maioria tinha ficado para aproveitar os 30 minutos de tolerância. Quem saía não saía feliz, mas parecia aliviado. “Então, como te correu?” A resposta pouco variava: “Mais ou menos, a ver vamos.”

Inês Alonso, que saiu depois do tempo de tolerância, não foi excepção. Matemática A é uma das provas de ingresso para Engenharia do Ambiente, o curso que pretende seguir. Com um 15 na pauta, o objectivo é, no mínimo, manter a nota. E como lhe correu o exame? “Foi correndo, espero que dê para manter, à medida que o tempo avançou eu tive de deixar a mão andar, já não tinha bem a certeza do que estava a fazer, mas fui fazendo”, desabafa. Não achou o exame difícil, mas “Matemática é Matemática”, diz, e por isso foi “trabalhoso”.

O colega João Areal concorda. A matéria que saiu era fácil, o desenvolvimento é que nem tanto, tínhamos de utilizar matérias dentro de matérias, o que se tornava confuso.” Ainda assim, está confiante: “Correu tudo bem. Eu fui com 17 a exame, não saio de lá com menos de 17, de certeza absoluta”, garante. Agora é tempo de esquecer os exames e antecipar a festa. “Professora, vamos almoçar às Fontainhas? É São João!”, convidou João.

A maioria dos colegas considerou a complexidade do exame semelhante à de anos passados; o exame, acima de tudo, “dava trabalho”, ouvia-se. Ninguém saiu plenamente satisfeito, mas quando se perguntava porquê, a resposta era hesitante: o problema não era o exame, mas sim a disciplina — “Oh, já se sabe, é Matemática…”

Nesta quinta-feira ainda haverá alunos a fazer exames da primeira fase, mas muitos deram hoje o ano lectivo como terminado. Foi o caso de Inês Alonso. Agora já estou de férias, posso finalmente arrumar os livros e seguir rumo a Barcelona, dizia. Parte no dia 25 para participar num torneio de voleibol. “O meu futuro depende da nota deste exame, mas espero conseguir abstrair-me disto e, em Barcelona, só pensar em Barcelona e no voleibol.”

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