Ex-alunos protestam contra "a morte" do Colégio Militar

O ministro da Defesa diz que esta é uma decisão “inquestionável”.

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Rui Gaudêncio
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Os antigos alunos do Colégio Militar manifestaram-se, esta sexta-feira, durante a cerimónia de abertura solene do ano lectivo da instituição, contra aquilo a que chamam “a morte do Colégio Militar”. Em causa estão as alterações do modelo de admissão de alunos que, a partir deste ano, passou a aceitar a inscrição de raparigas.

Às 14h, cerca de 500 pessoas juntaram-se na sede da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM), em Lisboa, para rumarem depois ao Colégio Militar onde entraram através de um portão lateral pouco antes das 15h. O objectivo foi fazer um protesto silencioso, interrompendo a cerimónia da abertura solene do ano lectivo e saindo cerca de 20 minutos depois, novamente em silêncio.

Já não é a primeira vez que a AAACM demonstra o seu descontentamento em relação às alterações no Colégio Militar. A razão prende-se com as mudanças efectuadas através de um despacho do ministro da Defesa publicado em Abril deste ano, que prevê a extinção do Instituto de Odivelas (colégio feminino onde originalmente estudavam as filhas dos militares) até ao final de 2015 e introduz a possibilidade do Colégio Militar (instituição masculina) poder receber, já a partir deste ano, inscrições femininas.

O Colégio Militar é uma instituição de ensino com 210 anos que, até agora, só admitia a inscrição de rapazes em regime interno ou externo. A partir deste ano lectivo, passa a incluir a inscrição de raparigas em regime externo. Mas está prevista a construção de um edifício dentro do campus até ao final do ano lectivo de 2014/2015 que permita que estas beneficiem também de um regime interno.

“Seria de bom senso, antes de se fazer um investimento destes aqui, perguntar aos pais das meninas se as põem cá”, desafia António Ruffoios, presidente da AAACM, que defende que a permanência de rapazes e raparigas em regime interno no mesmo campus é um “disparate” e que o facto de as Forças Armadas funcionarem com regimes mistos não é argumento, já que, no caso do Colégio Militar, “é de adolescentes que estamos a falar”.

O ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco disse, entretanto, à agência Lusa que esta era uma “matéria inquestionável” e que existe um “conflito insanável” com a Associação de Antigos alunos do Colégio Militar. O ministro acredita que a presença de alunas no colégio contribui para uma “maior atractividade” e o “reforço da qualidade” da instituição, invertendo a tendência dos últimos anos, “que era ter cada vez menos alunos”.

Aguiar-Branco garantiu ainda à Lusa que a recepção das 50 alunas que entraram já neste ano lectivo tem sido “fácil, simples e positiva”, num clima “absolutamente sereno”.

Margarida Pereia Muller, presidente da Associação de Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, insiste também na ideia de que se está a falar de “crianças adolescentes e não de adultos que, por sua escolha, estão onde quer que estejam”. Para a representante, um ensino misto poder criar muitas “distracções” e ser prejudicial para as meninas que “segundo estudos, desenvolvem-se muito mais rápido que os rapazes”.

Um ex-aluno do Colégio Militar, de 24 anos, ouvido pelo PÚBLICO, afirma que está de acordo com o protesto. “A minha infância nunca foi afectada por só conviver com rapazes dentro do período escolar”, refere, acrescentando que há certas coisas que não poderia fazer caso o ensino fosse misto na altura dele, como “jogar futebol sem camisola”, “fazer certas brincadeiras com os colegas” ou “utilizar palavreado”.

Para António Ruffoios, presidente da AAACM, existem soluções que poderiam ter sido equacionadas para resolver os condicionamentos económicos que levaram às alterações do colégio, como “diminuir o número de professores”, a “concentração dos serviços administrativos dos colégios” e a “vinda de mais alunos com o ensino primário” (esta última é a única medida já efectuada com a qual concorda).

Questionado sobre o facto de poder aceitar um regime apenas externo de raparigas e não interno, o presidente referiu que não é “contra a que se estude a sua viabilidade”. Por agora, a associação pretende continuar a acompanhar estas alterações com atenção.
 

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