Ex-evadido da prisão que se envolveu com ex-magistradas garante que foram “sempre iludidas”

Lorosa de Matos falou pela primeira vez em tribunal, mas, após quase um dia inteiro, ainda ficaram perguntas por fazer.

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Lorosa de Matos foi ouvido durante parte da manhã e toda a tarde Nuno Ferreira Santos

Durante sete anos e três meses, o então foragido à Justiça Lorosa de Matos terá conseguido enganar as duas ex-magistradas do Ministério Público com quem se envolveu, sem que estas tivessem percebido a sua verdadeira identidade. Lorosa de Matos, que foi ouvido nesta quinta-feira no tribunal em Lisboa, garante que as antigas procuradoras nunca fizeram pesquisas por ele, nem lhe entregaram dados confidenciais. “Elas foram sempre iludidas”, defendeu, alegando que a única pessoa que estava a par de todas as identidades falsas seria um amigo que entretanto também se envolveu com uma das ex-magistradas.

–As antigas procuradoras são acusadas de violação do sigilo profissional, falsificação de documento, abuso de poder e favorecimento pessoal. A acusação sustenta que, entre 2005 e 2010, terão obtido, através de plataforma informática do DIAP-Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, informações de processos e dados pessoais de juízes e elementos da Polícia Judiciária que haviam tratado dos crimes cometidos por Lorosa de Matos, que conheceram via Internet, e de um cúmplice, Rui Novais, que viria a envolver-se com uma das ex-procuradoras.

Apesar de continuar a ser ouvido para a semana, Lorosa de Matos tentou justificar que, embora tenham partilhado hotéis, viagens e computadores, as antigas procuradoras nada sabiam. “O falso convencimento delas advém duma grande mentira, uma grande história, porque necessitava dela e pela forma como lhes eram transmitidas as coisas”, disse. E acrescentou: “Se calhar às vezes duvidavam que alguma coisa não batia certo.” Porém, Lorosa de Matos e o amigo tentavam contornar a situação. “Se em algum momento souberam, então enganaram-me bem elas a mim”, afirmou. As ex-magistradas pensariam que se chamava Vasco Chambel e seria inspector da Interpol. Este foi apenas um dos nomes usados, outros foram Eduardo Carqueja e Ricardo Moreira.

Lorosa de Matos confirmou que conheceu primeiro uma das ex-magistradas pela Internet, em finais de 2004. Terão conversado pela Internet, entre três a cinco horas. Nessa noite, terão falado por telefone e, uma a duas semanas depois, a antiga procuradora terá ido ter com ele ao Reino Unido. Seguem-se episódios, também em Espanha, que vão envolvendo entradas e saídas de hotéis, um aluguer de carro. Numa das vezes, terá pedido à antiga magistrada para ir e vir no mesmo dia a Inglaterra buscar uma encomenda. Ela ter-lhe-á feito a vontade, estavam no início do namoro, justificou. A encomenda seria um envelope com uma carta de condução e um bilhete de identidade em nome de Eduardo Carqueja – que seria juiz e gémeo do arguido – e com o qual pediria mais tarde uma segunda via de carta de condução. Lorosa de Matos garante que a ex-procuradora era “despassarada” e que não terá visto o nome nos papéis.

Rui Novais terá conhecido inicialmente Lorosa de Matos como Ricardo Moreira, mas, mais tarde, antes de partirem juntos para o Reino Unido, o ex-foragido ter-lhe-á contado quem era. Depois de terminar a relação com a ex-procuradora Sónia Moreira, de quem ficou amigo, Lorosa de Matos conheceu a outra ex-magistrada, Sílvia Marques Bom, e envolveu-se com ela, tendo Sónia Moreira passado a ter um relacionamento com Rui Novais.

Sónia Moreira saberia da existência de um Lorosa de Matos. “Mas pensava que era irmão de um amigo meu”, nota, justificando eventuais pesquisas que possam ter sido feitas. No que toca a outras alegadas pesquisas, deu todas as justificações para ilibar as ex-procuradoras: foi ele que as fez, só acedeu a listas públicas, viu os nomes num portátil, viu noutros computadores “no serviço”, mas negou que alguma vez tivesse estado nos gabinetes das ex-procuradoras.
 
 
 
 

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