Estudo alerta que “teimam em persistir” assimetrias apesar das melhorias que SNS trouxe

Investigadora da Universidade de Coimbra analisou vários indicadores nas últimas décadas. Diz que o SNS contribuiu para muitas melhorias, mas alerta que ainda há regiões com acesso mais difícil a cuidados de saúde.

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A investigadora defende que a dificuldade de acesso a cuidados de saúde em algumas zonas contribui para as diferenças RUI GAUDÊNCIO

O Serviço Nacional de Saúde permitiu melhorar vários indicadores, da mortalidade infantil à esperança média de vida. No entanto, se os dados não forem olhados só na globalidade, é possível encontrar assimetrias regionais que “teimam em persistir”, como alerta um estudo de Paula Santana, investigadora da Universidade de Coimbra e geógrafa.

O trabalho de Paula Santana sobre a evolução dos indicadores de saúde nestes 35 anos de Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi publicado no âmbito do livro 40 Anos de Abril na Saúde, coordenado por Jorge Simões e António Correia de Campos (Ed. Almedina), e será apresentado nesta quinta-feira no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, numa cerimónia dedicada aos 35 anos do SNS.

“Em 1974, os valores extremos de mortalidade infantil, neonatal, perinatal, verificavam-se no distrito de Vila Real (piores valores) e nos de Setúbal e Leiria (melhores valores)”, explica a autora do trabalho. Já em 2012 os chamados valores extremos mudaram de distritos, mas “o padrão mantém-se: nas mortalidades infantil e neonatal o distrito do interior com piores valores foi Bragança; os distritos do litoral com melhores valores foram Viana do Castelo e Braga”. As diferenças são atribuídas à diferente “evolução da demografia, das acessibilidades e das condições económicas e sociais dos distritos”.

Ainda em relação às diferenças encontradas, Paula Santana, no estudo, justifica que “em consequência das assimetrias espaciais” verifica-se que “a transição epidemiológica não aconteceu na mesma forma em todo o país” com “contrastes inter-regionais e intra-regionais, bem como as oposições Norte-Interior/Norte-Litoral, Sul-Interior/Sul-Litoral”. A geógrafa sublinha também as diferenças entre homens e mulheres com indicadores relacionados com as doenças ligadas ao consumo de tabaco e de álcool a continuarem a afectar mais o sexo masculino.

Paula Santana, em declarações ao PÚBLICO, salientou que “existirão sempre assimetrias” que “podem resultar, por exemplo, da composição etária das populações (populações mais envelhecidas podem apresentar piores indicadores do que populações mais jovens) ou de problemas de escala e acesso (pequenas povoações tendem a ser menos dotadas com equipamentos de saúde ou apoio social do que grandes aglomerações populacionais)”, sublinhando que as diferenças não devem é resultar de “efectivos problemas de acesso a cuidados de saúde”.

De todas as formas, para a investigadora é inegável que durante os últimos 40 anos houve uma “melhoria generalizada dos indicadores de saúde em todo o território nacional”, atribuindo-se esta mudança à promoção de condições de vida saudável e à melhoria no acesso a cuidados de saúde que é atribuída em grande parte à criação do SNS.

Contudo, a autora alerta que persistem “algumas formas de morbilidade e de mortalidade por doenças crónicas, associadas ou não ao envelhecimento, as doenças de transmissão sexual, os problemas de saúde mental e os associados ao alcoolismo” que geram “necessidades que pressionam o sistema de saúde” e que fazem “perder muitos dias de actividade produtiva aos seus portadores e famílias”.

No futuro, Paula Santana acredita que Portugal terá como principais desafios “minorar os efeitos do inverno demográfico”, com uma população envelhecida e perante a diminuição da imigração e aumento da emigração. Por outro lado, “ganha a batalha da qualidade”, segundo a investigadora, “torna-se imperioso travar a da eficiência”, justificando que “a sustentabilidade é, foi e sempre será uma questão central do SNS”. Ainda é cedo para avaliar o impacto da crise no sector, diz, mas adianta que se podem esperar efeitos positivos (como a redução da circulação rodoviária que baixa a mortalidade) e negativos (como o desemprego que está associado a piores estados de saúde).

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