Especialista do IPO contra preservação das células do cordão umbilical

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Preservar o cordão umbilical para tratamentos não é eficaz, diz o especialista Adriano Miranda/PÚBLICO

O responsável pela unidade de transplantação de medula óssea do Instituto Português de Oncologia, Manuel Abecassis, considera que não vale a pena gastar mais de mil euros na criopreservação de células estaminais do sangue do cordão umbilical.

"Não sei exactamente para que serve [a congelação do sangue]", afirmou Manuel Abecassis, após ter participado no 3º Congresso Português de Medicina da Reprodução, onde falou sobre o tema "Criopreservação do sangue do cordão umbilical para uso autólogo (próprio): será justificável?".

"Nestes milhares de sacos de sangue congelado em todo o mundo há três casos de sucesso, portanto, não se pode dizer que não serve para nada, mas o que se pode dizer é que a probabilidade de utilização é muito baixa e, provavelmente para todos os casos, há alternativas", disse.

O responsável afirmou que se tivesse agora um filho "pegava nos 1200 euros e comprava certificados de aforro", e quando ele tivesse 18 anos entregar-lhe-ia os títulos.

"Acho que ele ficava muito mais satisfeito do que se lhe desse o sangue do cordão umbilical", ironizou, acrescentando que "a probabilidade de utilização para uso próprio é tão pequena que não há benefício".

Para o especialista, a criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical vende porque "está a ser uma moda".

"As pessoas são livres de fazerem o que quiserem. Entendo que a actividade privada não deve ser proibida, como acontece em Itália e em Espanha, mas temos que ter a certeza que as empresas que a praticam dão informação científica rigorosa e objectiva aos seus potenciais clientes, e isso não está a acontecer", disse.

Manuel Abecassis afirmou que os sites das empresas privadas que se dedicam à congelação do sangue do cordão umbilical "não contêm informação correcta, rigorosa e objectiva", sendo "muito fantasiosos".

"Estamos muito longe daquela recomendação da União Europeia de que a informação deve ser cientificamente válida", sustentou.

O responsável criticou o facto de as empresas portuguesas que desenvolvem esta actividade apresentarem a técnica aos pais como "um seguro de vida para o filho", dando a entender que o sangue "pode servir para tudo e mais alguma coisa".

Em contrapartida, o responsável defendeu a criação de um banco público de sangue do cordão umbilical, afirmando que "faz falta".

"Temos conseguido obter sangue de cordão umbilical noutros países, e com regularidade temo-lo feito. É possível que existindo um banco da população portuguesa se consiga obter amostras que sejam geneticamente mais favoráveis", disse.

O especialista salientou, no entanto, que a criação de um banco deste tipo "tem que ser muito bem pensada", por se tratar de "uma iniciativa que não pode falhar".

"Tem que se ter objectivos claramente definidos, metas para os conseguir alcançar e, sobretudo, saber de onde vem o financiamento", defendeu.

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