Portugueses confiam mais na rádio e televisão do que na imprensa

A confiança dos europeus nos meios de comunicação social tem vindo a diminuir desde 2011. A avaliação da imprensa é negativa, mas não tanto como a falta de confiança na Internet e nas redes sociais.

Foto
A eurocidade vai passar a ter uma presença semana na rádio, quebrando fronteiras Adriano Miranda

A rádio é o meio de comunicação social que inspira mais confiança aos europeus, de acordo com um estudo recente da EBU-European Broadcasting Union, mas em Portugal confia-se tanto na rádio como na televisão. No outro extremo estão a Internet e as redes sociais, nas quais os europeus em geral e os portugueses em particular dizem não confiar.

O que se percebe numa análise a cinco anos, entre 2011 e 2015, é que, tendencialmente, os europeus confiam cada vez menos na comunicação social. O estudo europeu baseia-se em dados do Eurobarómetro e a EBU criou uma fórmula para medir a diferença entre a percentagem da população que respondeu que “tende a confiar” num media e a que respondeu que “tende a não confiar”.

Os resultados mostram que no ano passado se deu mais um passo nesta tendência de afastamento em relação aos media, com o indicador de confiança a cair em todos os meios. Até foram a rádio e a televisão que perderam mais pontos que os restantes, mas conseguem manter-se em terreno positivo. No conjunto da União Europeia, 55% da população tende a confiar na rádio, 48% confia na televisão, 43% afirma confiar na imprensa, 35% ainda confia na Internet e apenas 20% ainda responde que confia nas redes sociais.

Em Portugal, o índice de confiança na rádio é tão elevado quanto na televisão. Os 37 pontos contabilizados para cada meio em Portugal colocam o país na sexta posição do ranking de confiança dos 33 países. Os 24 pontos do confiança na imprensa fazem de Portugal o quarto país que mais consideração tem por este meio de comunicação social. Na Internet a classificação nacional é de três pontos negativos (17 lugar) e nas redes sociais é de - 25 pontos (18 lugar).

Na verdade, a rádio é o meio com maioria absoluta: é o mais confiável em 20 dos 33 países analisados, enquanto a TV ocupa o primeiro lugar em 13. No outro extremo estão as redes sociais, apontadas como as menos confiáveis em 15 países, e a imprensa em 14 países. Mas segundo a EBU, o meio que mais confiança perdeu foi a Internet: em 2015 foi considerada confiável em apenas 12 países, quando no ano anterior tinha sido em 20.

Os Estados-membros mais desconfiados em relação ao conjunto dos media foram Chipre, Hungria e Eslovénia, ao passo que fora da União Europeia, a Albânia é o país que mais confia nos media em geral.

Olhando para o mapa dos 33 países analisados no estudo conclui-se que na Europa do leste e de sudeste não se confia na rádio, ao passo que os países nórdicos apresentam o maior índice de confiança. Já a televisão é olhada com confiança no Norte da Europa, mas com muita desconfiança no sul, sobretudo na Grécia, Espanha e França. Quanto à imprensa, o país mais desconfiado é o Reino Unido, seguido da Sérvia e Grécia – o que pode ser explicado pelos sucessivos escândalos de escutas envolvendo jornais e revistas britânicos.

Para Felisbela Lopes, investigadora da Universidade do Minho, o nível de confiança na rádio pode ser explicado por esta ter serviços noticiosos “mais sucintos e directos, mais despidos de sensacionalismo”. “Num universo saturado de informação, as pessoas têm mais apetência por noticiários simples e concisos. Quanto mais prolixos, mais incertezas suscitam”, acrescenta.

Gustavo Cardoso, investigador do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, realça que “a lógica do tablóide e do sensacionalismo é associada à imprensa e não à rádio e TV, o que leva a uma percepção generalizada de que o jornalismo parece ser mais sério nestes dois últimos meios”. Na verdade, acaba por ser uma “percepção de contaminação”.

Esta descrença nos meios de comunicação não pode ser vista fora do contexto actual europeu, lembra Felisbela Lopes. “Há situações políticas periclitantes em França, no Reino Unido, em Espanha; há um clima de insegurança devido aos atentados e a realidade dos refugiados; no plano económico continuamos em crise. Tudo isto transposto para a imprensa tem um registo muito subjectivo.” Se somarmos a isso o facto de as pessoas lerem cada vez menos jornais, está explicada esta percepção de falta de confiança na imprensa. O que parece “contraditório” é o facto de as pessoas dizerem que “não confiam nas redes sociais mas estão lá”. E estão por lá para saberem o que acontece não no domínio da informação jornalística mas sobretudo “pelo sentido do voyeurismo, para a exploração da esfera privada”.

O serviço público forte e a saúde da democracia

A EBU cruza também os dados da confiança na comunicação social com o financiamento dos serviços públicos de media. E conclui que quanto mais elevado é o financiamento público per capita, maior é a percepção da liberdade de imprensa nesse país e também o nível de confiança nos media. Um serviço de media com elevado e estável financiamento público é um “sinal de uma democracia saudável”, mas também contribui para “baixos níveis de radicalização política de extrema-direita” e para um “melhor controlo da corrupção”.

Para Felisbela Lopes a explicação está no facto de parte dos diferentes tipos de serviço público europeus terem obrigações legais de fazerem uma “informação mais diversificada e plural” e de serem alvo de escrutínio e supervisão por diversas entidades. “Há uma crescente percepção de que os serviços públicos não são do Estado; são dos cidadãos e estes tornam-se mais exigentes.”

Gustavo Cardoso secunda esta avaliação salientando, porém, que o serviço público de media na Europa tem “muitas nuances”. Os países do Sul, como França, Espanha e Portugal têm filosofias muito diferentes dos países do Leste, o modelo dos países nórdicos ou da Alemanha é diferente, por exemplo, do da BBC. “No caso português, se a dotação da RTP vier, na sua larga maioria, de uma taxa em vez de sair do orçamento do Estado, passa a haver a percepção de que o Estado já não manda no serviço público de televisão.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários