Em casa, lisboetas conversam mais online do que com quem vivem

Principais barreiras nas relações familiares são as novas tecnologias e o ambiente vivido nos lares, revela estudo da IKEA.

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Um terço dos lisboetas priviligiam o espaço social como forma de bem-estar Adriano Miranda (Arquivo)

Um estudo realizado pela IKEA sobre a forma como os lisboetas vivem as suas casas revela a dependência destes pelas tecnologias e pela Internet.

Esta dependência é de tal forma marcante que 68% dos inquiridos, durante o tempo passado em casa, preferem conversar online do que com as pessoas que estão à sua volta. Como disse nesta quarta-feira Reginaldo Almeida, especialista em tecnologia, durante a apresentação do estudo em Lisboa, “as redes sociais estão a aproximar os que estão longe e a afastar os que estão perto”, o que considera um perigo, apesar de as tecnologias terem um papel crescente e estruturante nas vidas das pessoas.

Cerca de 15% dos lisboetas consideram que é mais importante ter uma boa ligação wi-fi do que um espaço social, considerando este contacto online mais importante do que convidar as pessoas para sua casa.

A dependência pelas novas tecnologias também se revela no facto de quatro em cada dez lisboetas irem às redes sociais quando acordam durante a noite e 22% utilizarem as redes sociais em todas as partes da casa.

Ainda assim, a maioria (56%) diz que ficam felizes por passarem tempo com os outros enquanto estão em casa. Um quarto (24%) dos jovens lisboetas (18-29 anos) consideram que a principal barreira para os relacionamentos em casa é o ambiente que ali se vive, o que para o psicólogo clinico Eduardo Sá, também presente na apresentação do estudo, só mostra que “cada vez mais coabitamos uns com os outros em vez de convivermos”. O psicólogo acrescenta que “as pessoas trabalham muito como álibi para não terem de conviver” e os dados do estudo A vida em casa atestam também esta realidade: 60% dos inquiridos passam menos de seis horas em casa acordados.

Relativamente aos espaços em casa, 29% consideram que mais espaços privados iriam melhorar o seu bem-estar, enquanto 28% privilegiam o espaço social. Uma ideia também defendida pelos especialistas, que consideram a mesa o espaço mais importante da casa, ressalvando que pelo menos uma refeição por dia deveria ser realizada em família.

Perto de um terço (29%) dos inquiridos considera também que as suas casas vão além das quatro paredes e se estendem em termos de socialização aos bairros que habitam. E 37% dos lisboetas sentem-se mais em casa noutro sítio que não a sua própria casa, o que Eduardo Sá explica com o “receio de muitas pessoas que, tendo uma casa, tenham lá as experiências mais significativas de desamparo”.

Além de Lisboa, o estudo hoje apresentado foi realizado a nível mundial noutras 12 cidades. Comparando os dados obtidos em Portugal com a média dos outros países é possível perceber que os lisboetas estão mais despertos para as mudanças em casa, com um em cada dois lisboetas a dizer que gosta de fazer, alterar e montar coisas — nos outros países este valor é de 37%.

Um quarto (27%) dos lisboetas admitem ficar irritados com a desarrumação, que é mesmo o motivo para que três em cada dez discutam semanalmente por nunca saberem onde estão as suas coisas. Apenas 33% dos lisboetas conhecem todos os objectos que têm em casa, um percentagem que sobre para 45% nos restantes países envolvidos no estudo.

Texto editado por Tiago Luz Pedro

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