Em 2009 houve um suicídio em cada quatro horas, segundo dados que devem pecar por defeito

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Foto: Manuel Roberto (arquivo)

A cada quatro horas suicidou-se uma pessoa, o que significa que em meio ano houve mais mortes por suicídio do que por acidentes de viação no ano inteiro, segundo os últimos dados disponíveis sobre o suicídio, relativos a 2009.

De acordo com os dados actualizados do suicídio em Portugal, referentes ao período de 1980 a 2009, neste último ano morreram por dia seis pessoas em média por suicídio, quatro homens e duas mulheres, e em 180 dias morreram mais pessoas por suicídio do que por acidentes de viação em todo o ano.

A propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinala na segunda-feira, o coordenador nacional da Aliança Europeia Contra a Depressão, Ricardo Gusmão, lembra que o suicídio é evitável, por decorrer de doença mental, como a depressão, e é tratável.

O responsável alertou ainda para o facto de as contas oficiais quanto ao número de suicídio não estarem bem feitas, já que há uma série de mortes violentas registadas como indeterminadas e que apontam para “suicídios prováveis”. Ou seja, a cada suicídio contabilizado corresponde um outro estimado, o que duplica os dados oficiais.

Suicídios não contabilizados aumentam

“Assim, nos últimos 30 anos de dados disponíveis, entre 1980 e 2009, morreram 56.213 pessoas por suicídio provável em Portugal”, sendo que na última década se verificou uma tendência para o aumento do suicídio provável em Portugal.

Este aumento tem sido mais visível nas mulheres, embora continue a ser entre os homens que mais se verifica a morte por suicídio, numa relação de cinco para dois.

Quanto às faixas etárias, são os idosos que mais se suicidam, tendo o número de pessoas com mais de 65 anos que se mataram aumentado cerca de 200% nestes 30 anos, em média mais 700 suicídios prováveis por ano.

Entre os jovens dos 15 aos 25 anos, “algo mudou para melhor”, já que se suicidam cada vez menos, três vezes menos do que há 30 anos. “Ainda assim, morrem 80 por ano em média, quase todos rapazes”. Entre os adultos, dos 25 aos 64 anos, a situação tem-se mantido estável com uma média de 800/900 pessoas por ano.

Relativamente à distribuição geográfica, é na Madeira que se verificam mais suicídios e há o dobro de mortes no Centro do que no Alentejo. O Norte, o Centro e Lisboa representam 1500 mortes em média, cerca de 75% do total.

Problema com as certidões de óbito

Ricardo Gusmão considera que “algo de muito errado se passa com o preenchimento dos certificados de óbito”, pois metade das mortes por suicídio provável ocorrem por método não especificado, quando há 30 anos eram residuais.

“Percebe-se que com a mudança da classificação das mortes em 2002, os médicos não receberam formação adequada para preencherem os certificados de óbito”, afirma.

O enforcamento é a causa mais frequente entre os homens, o que revela efeitos positivos da restrição legal ao acesso a pesticidas, principal causa de morte há 30 anos.

“Preocupantes são os aumentos das mortes por armas de fogo, projecção no vazio e projecção na direcção de objectos em movimento”, considerou o médico, alertando que “muito pode ser feito para melhorar esta situação”.

Ricardo Gusmão diz que é preciso compreender quem é afectado e lembra que há ajuda disponível nos serviços de emergência médica, em linhas de suporte, em grupos de auto-ajuda, no médico de família, em serviços de psiquiatria e em consultas especializadas.

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