Vigiou ex-namorada durante quatro dias antes de vingar a tiro o fim da relação

Violência doméstica terá levado ex-companheira a expulsar o suspeito de casa no domingo. Homem entrou esta quarta-feira em pastelaria no Pinhão e baleou a ex-namorada. A prima desta também foi atingida e morreu.

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Rita França
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Durante quatro dias, Manuel Monteiro terá vigiado todos os movimentos da ex-namorada no Pinhão, concelho de Alijó, Vila Real. Rejeitado pela jovem de 21 anos, após a agredir no sábado, não se conformou em ser expulso de casa no domingo e desenhou um plano para se vingar, segundo fonte policial.

Esta quarta-feira, resolveu ir ao local de trabalho da jovem. Irrompeu pelas 7h aos tiros na pastelaria Princesa do Douro, matou a prima da jovem, de 22 anos, quando esta abria a porta e baleou a ex-companheira. Partilhavam os três o mesmo apartamento, na mesma rua da pastelaria, até que a violência recente do suspeito o fez sair de casa. A ex-namorada foi transportada para o Hospital de Santo António, no Porto, onde permanece em coma induzido e com prognóstico reservado.

“Ouvi dois estrondos, mas nunca pensei que fossem tiros. Pensei que fossem os empreiteiros da vindima que param aqui todos de manhã com os carros”, conta Isabel Azevedo, 52 anos, trabalhadora num armazém de vinhos e amiga da jovem que sobreviveu.

Segundo os investigadores, Manuel Monteiro, trabalhador rural referenciado pela GNR como suspeito num assalto a uma residência em Baião, de onde é natural, esperou que a prima da ex-companheira lhe abrisse a porta da confeitaria. Agarrou-lhe a cabeça e disparou a pistola duas vezes. Depois correu atrás da ex-namorada que fugiu e, nas traseiras da confeitaria, atingiu-a com uma bala que lhe atravessou o crânio. Procurou ainda uma funcionária, que pretenderia atingir, mas esta conseguiu subir as escadas e fugir para um piso superior.

A polícia acredita que o apoio dado pela prima e por uma colega à ex-namorada a propósito do fim da relação terá motivado o homicídio e a tentativa de homicídio. Depois dos crimes que acordaram a pequena localidade, o suspeito fugiu num BMW branco, emprestado por um amigo e percorreu, pela beira-rio quase 40 quilómetros até ao centro de Vila Real. Atirou a pistola ao Douro e dirigiu-se à esquadra da PSP da cidade quando já era seguido pela GNR que lançou o alerta a todas as polícias. O jovem estacionou calmamente o carro próximo da esquadra e abriu os braços no ar quando um investigador da PSP lhe apontou a arma. “Sou eu o autor daqueles crimes. Fui eu que fiz aquilo. Deitei a pistola ao rio”, admitiu perante o agente que o algemou.  

O jovem não terá querido entregar-se no posto da GNR do Pinhão por temer a atitude da população. Tanto a GNR como os bombeiros locais, que acorreram à situação em breves minutos, ficam a poucos metros da pastelaria. E de facto, os ânimos estavam exaltados na rua António Manuel Saraiva, onde fica a confeitaria. Cá fora dezenas de moradores revoltavam-se com o desfecho.

“Ele andava sempre por aqui com um jipe a toda a velocidade, a deitar terra e fumo para cima dos que passeavam pela rua. Era um diabo”, conta Cassilda Costa, de 69 anos. Dentro da pastelaria, a proprietária que prefere não se identificar pelo nome, embarga as palavras ainda descrente com o que acabara de acontecer. A confeitaria fechou as portas, mas nas traseiras, o luto pela morte não fez parar a laboração. Dezenas de funcionárias carregavam para várias carrinhas as centenas de bolos que irão para muitos supermercados da região.

“A GNR já cá tinha passado há uns tempos para me fazer perguntas. Diziam que ele era suspeito de assaltos, mas pediram-me para não dizer nada a ninguém para não levantar suspeitas, muito menos à ex-namorada e eu não disse. E agora isto aconteceu. Que podia eu ter feito?”, questionava o marido da dona do estabelecimento.

Na rua, os moradores contam que o homem já tinha dado mostras de ser ciumento e falam das suas atitudes quando visitava a ex-namorada na confeitaria. "Há 15 dias fui ao café com a minha mãe, pedimos-lhe café e umas tostas e ele chamou-me a atenção, dizendo-me: 'Para quem é que achas que estás a falar?'", contou Francisco Coelho, de 37 anos.

Os primeiros militares da GNR que chegaram ao local do crime pensaram que nenhuma das mulheres tinha sobrevivido. Só posteriormente foi verificado que uma delas ainda respirava. O caso está agora a ser investigado pela PJ e o detido será interrogado no Tribunal de Alijó esta quinta-feira por um juiz. A Judiciária fez perícias no local e recolheu também pólvora nas mãos do suspeito.

“Somos vizinhos do mesmo prédio. Todos lhe diziam que ele era mau, mas ela gostava dele e durante muito tempo não quis acreditar nisso. O fim do namoro não é caso para fazer isto, caramba! Isto não devia acontecer a nenhuma mulher”, lamenta desgostoso José Luis encostado à porta do pronto-a-vestir que abriu há um ano em frente à pastelaria. 

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