Equipamentos portugueses vigiam vulcão da ilha do Fogo

Tecnologia desenvolvida por privados nacionais já cruza os céus do Kosovo, do Brasil e, desde quinta-feira, de Cabo Verde.

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Aparelho em desenvolvimento pela Tekever para a vigilância marítima DR

Em poucos anos criaram-se empresas, no sector privado, que começam já a ver resultados de anos de investimento em Investigação & Desenvolvimento.

A Tekever, que vendeu há um ano dois UAV (e outros equipamento necessários, como computadores e rádios) à Polícia de Segurança Pública por cerca de 200 mil euros, anunciou esta semana que um dos seus sistemas – o AR5 Life Ray, com capacidade de carga de 50 quilos em missões de oito a 12 horas – foi “seleccionado para fazer vigilância marítima na Europa” num contrato celebrado com a Agência Espacial Europeia (ESA) e com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA). Até Janeiro de 2016, a Tekever terá de desenvolver o seu protótipo de modo a que o veículo de 150 quilos possa ser equipado com sensores que o habilitem a cumprir missões como detectar “derramamentos de petróleo” no Atlântico ou vigiar a imigração ilegal no Mediterrâneo. Ricardo Mendes, da Tekever, não quis revelar o retorno do projecto, admitindo apenas estarem em causa “vários milhões de euros”.

O contracto é o corolário de uma “política inteligente” de “cooperação com várias entidades”.

O grupo Tekever nasceu em 2001 “no mundo do software”. Em 2007, virou-se para os UAV quando percebeu o potencial do desenvolvimento de plataformas para os componentes de electrónica e software de comunicações que já fabricava. Desde o início que se posicionou no mercado da defesa e segurança. “São os mercados onde há mais dinheiro”, comenta Ricardo Mendes.

Nos últimos anos avançou com um estratégia pró-activa de ceder os seus equipamentos a militares (Exército e Marinha) e polícias (PSP e GNR) portuguesas, para que estas forças, explica Ricardo Mendes, possam "validar e testar" os produtos da Tekever e dar sustento económico aos "ciclos de desenvolvimento" dos aparelhos, até estes chegarem "à fase pretendida”. Oito aviões controlados por militares do Exército, que receberam uma acção de formação de uma semana, voaram no Kosovo, onde Portugal integra a força de manutençãp de paz instalada no território de maioria albanesa reivindicado pela Sérvia.

Esta estratégia da Tekever também tem uma componente de marketin. A empresa anunciou esta semana que, desde quinta-feira, quatro UAV e duas equipas de duas pessoas monitorizam o vulcão da Ilha do Fogo. O pequeno AR4, equipado com câmaras térmicas, vai ver até ao final desta semana para onde escorre a lava. A empresa ofereceu-se à embaixada de Cabo Verde e a disponibilidade foi aceite.

A UAVision não tem tido tanta visibilidade mediática, mas também já exporta material. A empresa foi criada há dez anos por quatro engenheiros do Instituto Superior Técnico que, depois das respectivas experiências profissionais no estrangeiro, decidiram regressar a Portugal. Fabricar “especificamente” drones era já o objectivo. “Inicialmente de asa fixa com aplicação para a agricultura”, explica o gerente Nuno Simões. Há “seis, sete anos” apostaram também nos multi-rotores com piloto automático, os quadcopters.

O retorno do investimento chegou nos últimos dois anos. Agora 90% dos equipamentos são vendidos para o estrangeiro. Neste momento, há multi-rotores portugueses, adquirados por uma universidade brasileira, para estudar, através de câmaras, as tribos índias da Amazónia. Além do Brasil, operam em Angola na Alemanha, comercializando plataformas para “broadcast” e sistema de “agricultura de precisão”.

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