Dois milhões para investigar melhor forma de integrar sem-abrigo

Bolsa foi atribuída pelo Horizonte 2020, um dos maiores programas de financiamento à investigação da União Europeia

Foto
Paulo Pimenta

O investigador do ISPA-Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, José Ornelas, recebeu cerca de dois milhões de euros da União Europeia para desenvolver pontos fulcrais que sirvam de base a uma política pública europeia de integração de pessoas sem abrigo. A ideia é encontrar a melhor forma de generalizar os Programas Housing First (Casa Primeiro).

O projecto Casa Primeiro foi introduzido em Portugal em 2009 pela Associação para o Estudo e Integração Psicossocial (AEIP), que é parceira deste projecto, e desde então tem vindo a ser replicado em várias partes do país: as pessoas passam da rua para uma habitação permanente, directamente, sem que lhes seja feita uma exigência, por exemplo, de desintoxicação, de tratamento, de abstinência. Primeiro a casa, depois o plano de integração/autonomização.

A bolsa foi atribuída pelo Horizonte 2020, um dos maiores e mais competitivos programas de financiamento à investigação e inovação da União Europeia. O projecto intitula-se HOME_EU, Homelessness as unfairness (Sem-abrigo como injustiça), e será desenvolvido, em parceria, com instituições de outros países europeus (Irlanda, Itália, Bélgica, Espanha, Polónia, Holanda, Suécia e França) já a partir do próximo mês de Outubro. Haverá uma componente quantitativa e outra qualitativa, que passará por falar com residentes,  profissionais e não só, explicou José Ornelas. 

Começarão por perceber, melhor, o que se passa. Quanta desigualdade é eceite pelos cidadãos da União Europeia, no que diz respeito às pessoas sem abrigo? Como é que as pessoas com experiência de rua percepcionam os serviços e as políticas sociais existentes? Que estratégia é considerada mais eficaz pelos prestadores de serviços? De que forma as políticas sociais e os decisores contribuem para resolver o problema? Com base nos dados recolhidos, a equipa tratará de desenvolver elementos-chave para criar uma política pública. "Não vamos só fazer o balanço, vamos fazer investigação para encontar uma política pública europeia", salienta o investigador.  "Não existe uma política europeia de integração das pessoas sem abrigo", lembra.

Em Portugal, cerca de 50 pessoas já foram inseridas no projecto "Casa Primeiro", diz José Ornelas. E a taxa de sucesso revelou-se elevada. Nos primeiros dois anos, 87% das pessoa continuavam a viver na habitação que lhe fora entregue e seguiam o programa de autonomização. Nos anos seguintes, 90%, esclarece. E é por isso que, em seu entender, é fundamental encontrar "a melhor forma de generalizar" esta lógica.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários