Doentes com cancro esperaram um ano por consultas no Hospital de Aveiro, diz Ordem

Ordem dos Médicos do Norte criou email para profissionais denunciarem deficiências que afectam os doentes.

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No Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), que integra os hospitais de Aveiro, Águeda e Estarreja, a consulta de hematologia foi “desmantelada” e os novos pedidos de atendimentos para doentes, alguns com cancro, estiveram “retidos durante quase um ano”. Apesar de a direcção do serviço ter alertado a administração do hospital, esta “deixou acumular a lista de espera durante um ano” e só depois de a situação ter sido denunciada publicamente é que os doentes foram encaminhados para consultas de hematologia no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra e no IPO (Instituto Português de Oncologia) daquela cidade.A denúncia foi feita esta tarde pelo presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, em conferência de imprensa.

Esta foi a primeira conferência para divulgação pública das "deficiências e insuficiências" do Serviço Nacional de Saúde, uma das medidas de protesto prometidas pela Ordem dos Médicos após a reunião com o ministro da Saúde e os sindicatos, na passada sexta-feira.

Esta situação já tinha, aliás, sido denunciada por vários partidos da oposição no início deste ano. O PCP e Bloco de Esquerda adiantaram então que as consultas de hematologia do hospital de Aveiro entraram em colapso face à procura e que a lista de espera terá suplantado mesmo os 600 dias.

Carlos Cortes referiu ainda que "não existe coordenação do grupo de transplantes nomeado no CHBV desde há 2 anos", o que tem impedido a colheita e envio de órgãos para Coimbra. Acrescentou que a consulta de diabetologia da medicina interna de Aveiro foi “desmantelada”, “o que tem provocado atrasos de meses na marcação de consultas”, tendo o mesmo acontecido com o serviço de Cirurgia do Ambulatório do Hospital de Estarreja. Também  a qualidade dos serviços para formar médicos especialistas tem sido posta em causa e já dois serviços perderam idoneidades formativas (Oncologia e Endocrinologia), afirmou.

Norte cria e-mail para denúncias
Na quarta-feira à noite, cerca de quatro centenas de médicos estiveram reunidos na OM do Norte, no Porto, para debater a actual situação. “Os médicos estão indignados e revoltados” face ao que está a acontecer no SNS, descreve o  presidente do Conselho Regional do Norte, Miguel Guimarães. “Os médicos sentem-se humilhados. Têm piores condições de trabalho e impõem-lhes sistemas [informáticos de prescrição de medicamentos] que não funcionam. Estão revoltados com a questão das carreiras médicas, com a portaria [da reestruturação hospitalar] que prevê o encerramento de centenas de serviços”, acrescentou. Para se ter uma ideia do impacto desta última medida governamental, se a portaria for concretizada tal como está, “deixará de haver dermatologia no SNS entre Coimbra e Lisboa”, exemplificou.

A OM continuava ao início da tarde à espera da acta da reunião realizada na sexta-feira passada com o ministro e os representantes das duas estruturas sindicais, que tinha sido prometida para segunda-feira. Se o ministro não der resposta às propostas apresentadas pelos representantes dos médicos, a OM Norte vai avançar com todas as medidas de protesto que anunciou, não estando posta de parte a hipótese de apoiar a fgreve de dois dias já anunciada por uma das estruturas sindicais, a Federação Nacional dos Médicos (o Sindicato Independente dos Médicos não apoia esta paralisação).

“Os médicos estão todos favoráveis  a que se avance com protestos. Não podemos continuar à espera de boas vontades políticas”, diz Miguel Guimarães. Para segunda-feira de manhã é a vez do Norte fazer a sua primeira conferência de imprensa de denúncia de deficiências e insuficiências do SNS, tendo sido escolhidas as unidades do distrito de Bragança. “Vamos começar pelos mais desprotegidos”, explicou Miguel Guimarães

Por enquanto, acrescentou, a OM apenas recebeu do ministério dois documentos para se pronunciar, um sobre as redes de referenciação e outro sobre os centros de referência. “Isto deveria ter sido prévio ao delinear de qualquer tipo de reforma hospitalar”, lamenta.

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