Do râguebi à carpintaria: projectos de integração de jovens recebem 20 mil euros cada

Programa Escolhas distribui 270 mil euros a projectos que promovem “emprego e empreendedorismo”. Secretário de Estado Pedro Lomba acha que devíamos levar mais a sério a ideia de que “small is beautiful".

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No final da cerimónia desta terça-feira houve foto de grupo dos representantes dos projectos financiados com o secretário de Estado Pedro Lomba Rui Gaudêncio

António Maia, presidente da Associação do Rugby do Sul, é o segundo a ser chamado. Levanta-se, atravessa a pequena sala do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante, em Lisboa, hoje cheia de dirigentes associativos, representantes de instituições sociais, autarcas. Estão todos ali pela mesma razão que ele está: assinar o protocolo que lhes permite ter um financiamento do Programa Escolhas, cerca de 20 mil euros cada. No caso de António Maia, exactamente “dezanove mil, seiscentos e oitenta e um euros e 34 cêntimos” como é anunciado no momento em que ele se levanta.

Aperto de mão ao secretário de Estado Pedro Lomba. Pose para a fotografia, com o governante e Pedro Calado, o alto-comissário para as Migrações. Pastinha de papel com o protocolo recebida. Palmas da plateia. E o presidente da associação volta ao seu lugar. Com estes “dezanove mil, seiscentos e oitenta e um euros e 34 cêntimos” dará continuidade no próximo ano a um trabalho de que se orgulha: levar o râguebi aos bairros sociais, pôr jovens filhos de imigrantes, ou de pais portugueses, a jogar. “Integrar.” E agora também criar hipóteses de emprego.

E menos de 20 mil euros num ano chega para tanto? O secretário adjunto do ministro do Desenvolvimento Regional, Pedro Lomba, dirá, no seu discurso durante a cerimónia desta manhã de terça-feira, que “talvez seja tempo de em Portugal se levar mais a sério” aquele ditado anglo-saxónico de que “small is beautiful” — à letra, “pequeno é bonito”, ou seja, não são só “as grandes coisas, os grandes planos” que dão resultados.

Responde António Maia: “Teoricamente”, os menos de 20 mil euros são a única fonte de financiamento, mas muito trabalho da associação é feito com base no voluntariado. Chama-se Oval Jobs o programa que apresentou — houve mais 227 candidaturas aos chamados “projectos pontuais na área do emprego e empreendedorismo para jovens” do Escolhas, mas apenas 15, entre as quais a Oval Jobs, foram contempladas.

Tem dois objectivos: formar técnicos, treinadores, árbitros e criar assim oportunidades de trabalho, por um lado, e, por outro, organizar alguns grandes eventos ligados ao râguebi, como já têm feito e que chegam a envolver mais de 800 crianças cada.

“O râguebi é acusado de ser um desporto de elite”, diz António Maia. “Mas ele tem na sua génese o cariz solidário e tem-se posto nos últimos anos ao serviço da inclusão. E temos encontrado muito talento desportivo também.”

O segredo destes projectos, notou Pedro Lomba, passa muito pelas parcerias. No caso do Oval Jobs, para além da Associação de Rugby do Sul, estão envolvidas a Academia Ramiro Freitas, a Agência Nacional da Juventude, a Associação de Residentes da Alta de Lisboa, a câmara de Almada, o Conselho Nacional da Juventude, a Federação Portuguesa de Rugby, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, entre outros.

“Num tempo de crise de emprego, basta que um projecto crie um emprego para se justificar a sua existência”, disse ainda Pedro Lomba, depois dos representantes dos projectos financiados terem feito o mesmo que António Maia: receber a pasta com o protocolo, posar para a fotografia, palmas, voltar ao lugar. No final, houve foto de grupo.

Os primeiros “projectos pontuais na área do emprego e empreendedorismo para jovens” do Escolhas são de 2014. O balanço oficial, lê-se numa nota informativa do Escolhas, é este: “Permitiram a criação de mais de 115 postos de trabalho, a implementação de 13 iniciativas de cariz empresarial e um número elevado de experiências de empregabilidade” para jovens “entre os 16 e os 30 anos, provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, nomeadamente descendentes de imigrantes e comunidades ciganas, que se encontrem em abandono escolar precoce, desocupação e/ou situação de desemprego”.

No final do ano abriu-se um novo período de candidaturas. E 15 foram seleccionadas: “Envolvidas nestes 15 projectos estão 121 entidades, que se dividem pelos organismos de poder local (juntas de freguesia e câmaras municipais), institutos e outras entidades públicas, escolas e agrupamentos de escolas, organizações de terceiro sector e um número crescente de empresas face ao ano anterior.”

O bolo que foi distribuído é composto por 270 mil euros. Irá para um “programa de formação e apoio a jovens agricultores”, no concelho de Góis, para a “criação de um negócio social de fabrico e comercialização de sabão artesanal que promove o património histórico e cultural da cidade de Coimbra”, para “um negócio social com uma linha de compotas artesanais”, em Paranhos, para "um espaço de coworking oficinal em carpintaria e ofícios"... Para o projecto do râguebi, claro.

Pedro Lomba elogiou a inovação de muitos projectos, “o talento pessoal” que neles foi colocado e a “feliz parceria entre economia e inclusão”. E citou, por fim, D. Manuel Clemente: “O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários.”

O Escolhas nasceu em 2001, essencialmente como Programa para a Prevenção da Criminalidade e Inserção de jovens dos 12 aos 18 anos, dos bairros mais problemáticos de Lisboa, Porto e Setúbal. O seu âmbito foi-se alargando com os anos — e com os anos foram várias as distinções internacionais, a última das quais em Novembro, do Observatório Internacional de Justiça Juvenil.

Actualmente na sua 5.ª geração, o Escolhas mantém protocolos com os consórcios de 110 projectos locais de inclusão social em comunidades vulneráveis. Para além destes projectos pontuais. É financiado pelo Instituto da Segurança Social, pela Direcção-Geral de Educação e pelo Fundo Social Europeu.

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