Directora suspeita de abusos pertence a lar apoiado por programa da Gulbenkian

Uma equipa coordenada por Daniel Sampaio acompanha projectos em quatro instituições do Norte, Centro e Sul do país que, entre outros, cumprem o requisito de ter um trabalho “reconhecido na comunidade”.

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Daniel Rocha

O Lar Nossa Senhora de Fátima, em Reguengos de Monsaraz, cuja directora técnica foi detida por suspeita dos crimes de abuso sexual e maus-tratos, segundo avançou no sábado a agência Lusa, tem sido, desde 2013, uma das quatro instituições apoiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito de um programa cientificamente coordenado por Daniel Sampaio. Um dos objectivos deste programa é “potenciar a capacidade de respostas e a capacitação dos técnicos” dos lares de crianças e jovens seleccionados, explicou ao PÚBLICO o psiquiatra. Foram escolhidas instituições com “equipas técnicas com credibilidade” de modo a garantir que a intervenção de que são alvo “é potenciada”.

A directora técnica do Lar Nossa Senhora de Fátima — que acolhe crianças retiradas às famílias por se encontrarem em risco, sobretudo jovens com mais de 12 anos e grupos de irmãos — foi detida na terça-feira por suspeita dos crimes de abuso sexual e maus-tratos, noticiou a Lusa. Depois de um primeiro interrogatório judicial ficou a aguardar o desenrolar do inquérito em liberdade. O tribunal decretou a sua suspensão das funções de directora do lar e a proibição de contactar com os menores.

Sublinhando que não faz qualquer comentário sobre estas notícias, Daniel Sampaio explicou neste domingo ao PÚBLICO que a equipa que coordena no âmbito do programa da Gulbenkian “reúne-se frequentemente com as quatro instituições” que foram seleccionadas, entre as quais o Lar Nossa Senhora de Fátima, “e tenta aumentar a capacidade de resposta dessas instituições e capacitar os seus técnicos”, através de acções de formação. “Há objectivos traçados e relatórios periódicos”, explica. No final do programa, a Gulbenkian pretende publicar uma espécie de “manual de boas práticas” a partir do trabalho e da reflexão desenvolvidos com os quatro lares.

Também questionada pelo PÚBLICO, Maria João Leote de Carvalho, que integra a equipa de Daniel Sampaio, explicou por seu lado que tudo começou com um concurso. Depois de ser feito um levantamento junto de algumas instituições, começaram por ser convidadas 10 “a apresentar projectos que acrescentassem algo de novo ao que já faziam” em matéria de acolhimento de crianças e jovens.

Tinham de “ter trabalho reconhecido na comunidade” e dirigirem-se em especial a jovens dos 12 aos 18 anos. Tinham igualmente de ter capacidade “para olhar para dentro e reflectir as suas práticas”, acrescenta.

Analisados os projectos de cada uma, foram seleccionadas quatro. O Lar Nossa Senhora de Fátima caracterizava-se, explica Leote de Carvalho, por “uma grande abertura à comunidade” como o comprovam, por exemplo, “as quatro reportagens ali feitas por diferentes órgãos de comunicação social”, uma das quais pelo PÚBLICO em Maio passado, e as jornadas anuais que o lar organiza com outros da região.

Cada um dos projectos do programa testa uma metodologia de intervenção diferente, acrescenta o site da Gulbenkian: a Associação Via Nova, em Vila Real, “aposta num trabalho de maior proximidade com as famílias para preparar eventuais regressos”; a Oficina de São José, em Braga, “começa desde cedo a incentivar a execução de tarefas domésticas, marcações de consultas ou idas ao supermercado”; na Casa do Canto, em Ansião, “existe uma estrutura de apoio e acompanhamento de jovens após a institucionalização”. No Lar de Nossa Senhora de Fátima, diz Leote de Carvalho, trabalha-se essencialmente a autonomização dos jovens mais velhos. “A instituição tem feito uma boa execução do projecto”, diz. Esta iniciativa integra-se numa linha de intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian direccionada para as crianças, jovens e famílias consideradas em situação de risco e vulnerabilidade.

Na Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz, a que pertence o lar, uma funcionária fez saber que não se encontrava nenhum responsável e que só na segunda-feira haverá quem possa prestar esclarecimentos.

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