Director adjunto do SEF diz que refugiados não querem viajar para Portugal

Apenas 50 refugiados deverão chegar ao país até ao Natal. "Se lhes forem oferecidas oportunidades concretas, eles agarram-nas", diz a presidente do Conselho Português para os Refugiados, Teresa Tito de Morais.

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Refugiados na Grécia DIMITAR DILKOFF/AFP

O director nacional adjunto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Luís Gouveia, disse que o processo de recolocação de refugiados está “a ter dificuldades” devido à burocracia, mas também porque estes recusam viajar para Portugal.

Em entrevista publicada nesta sexta-feira no Diário de Notícias (DN), o director nacional do SEF explicou que “o processo de recolocação está a ter dificuldades” e que são atribuidas "responsabilidades às autoridades italianas e gregas, o que em parte é verdade, mas uma das principais razões tem que ver com o facto de os requerentes de asilo não quererem ser recolocados”.

O jornal adianta ainda que o embaixador de Portugal na Grécia, Rui Alberto Tereno, esteve na semana passada na ilha grega de Kos a explicar a refugiados como é o país e o que podem cá encontrar.

De acordo com a notícia do DN, Portugal disponibilizou-se para receber 4754 refugiados, mas este número pertence a uma primeira fase, que prevê a recolocação de 93.097 pessoas na União Europeia. A Portugal, só deverão chegar 50 até ao Natal: 30 de Itália e 20 da Grécia.

“A Plataforma de Apoio aos Refugiados tem lugar para mil destes imigrantes, mas segundo as autoridades nacionais foram oferecidos mais de três mil”, escreve o DN, acrescentando: “A esmagadora maioria dos requerentes de asilo que transitam pela Europa querem seguir para a Alemanha e a Suécia, onde muitos têm família e/ou receberam a informação de que aí há trabalho e podem ter um bom nível de vida. A preferência vai sempre para os países do norte- a península Ibérica é desconhecida."

“A capacidade que temos vai além do que é preciso recolocar a partir da Itália e da Grécia”, disse o director nacional do SEF. Segundo o jornal, Portugal não é um país habitualmente escolhido pelos requerentes de asilo, como também não faz história em matéria de atribuição de estatuto, pois "aceita cerca de uma dúzia por ano".

O DN escreve que as “associações representativas da sociedade civil dizem que essa é uma dificuldade, mas não é a principal razão. Acusam o modelo europeu de ser muito estático e lento para um processo que é muito dinâmico”.

A presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR), Teresa Tito Morais, disse entretanto não ter elementos suficientes para dizer que há uma recusa dos refugiados em virem para Portugal, país que não é tradicionalmente de asilo.

"Não tenho elementos suficientes para dizer que há uma recusa por parte destes refugiados em virem para Portugal. O que posso dizer é que Portugal tradicionalmente não tem sido um país de asilo. A maior parte dirige-se para países da Europa como a Alemanha e a Suécia", explicou. De acordo com a responsável do CPR, os refugiados dirigem-se tradicionalmente para países onde têm mais referências: "amigos, familiares, que necessariamente lhes dão mais confiança".

"Contudo, não posso deixar de chamar a atenção para a grande inabilidade com que a Europa e os Estados europeus continuam a lidar com este problema, porque perante uma situação dramática que já se vive há largos meses, impunham-se medidas mais concretas e agilizadas no sentido de uma maior mobilização dos Estados para os receberem", argumentou. Até Outubro, mais de 700 refugiados foram recolocados em países europeus e existe um plano para mais de 160 mil serem distribuídos.

No entender de Teresa Tito Morais, o mundo continua a assistir à inércia, com processos burocráticos complexos, que vão dificultando tudo. "Há instrumentos que poderiam ter facilitado logo de início a redistribuição mais rápida das pessoas, que não foram aplicados pela indefinição, pela hesitação e pela falta de uma política comum de asilo que continua ainda a verificar-se", vincou.

Por isso, a presidente do CPR considerou que "não é tanto uma preferência dos refugiados virem ou não para Portugal". E concluiu: "Se lhes forem oferecidas oportunidades concretas, eles agarram-nas porque serão sempre melhores do que os difíceis momentos por que passam. Estão em situação desesperada."

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