Diogo Moreira morreu a poucos metros de onde desaparecera

Emigrante português encontrado morto em Brighton, perto da casa onde foi visto pela última vez oito dias antes.

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O corpo de Diogo Moreira foi encontrado próximo da estação de comboios de Brighton Reuters

Poucos metros separam a casa onde o emigrante português Diogo Moreira foi visto pela última vez, no dia 14 de Julho, em Brighton, Inglaterra, da encosta onde acabou por ser encontrado sem vida oito dias depois, esta quarta-feira. Basta atravessar a rua Howard Place, ao longo da qual se estende um muro que não chega a dois metros de altura com três linhas de arame farpado por cima. Para além desta barreira, precipita-se uma vertente quase a prumo, com mais de vinte metros, até à estação de comboios, lá em baixo.

O corpo de Diogo Moreira possivelmente esteve sempre ali, ao longo de dias, enquanto amigos, parentes e a polícia se desdobravam numa busca desesperada. Foram dezenas de pessoas, a colar cartazes, a percorrer a cidade e a alertar, por todos os meios possíveis, para o desaparecimento do português de 29 anos, natural de Espinho, que era trabalhador num café e estudante na universidade local.

Surgiram pistas, possíveis avistamentos. Mas o destino frustrou a esperança depositada em tamanho esforço. Na quarta-feira, dia 22, um corpo não identificado foi encontrado na base daquele talude, junto à linha de comboio, na estação de Brighton, eram 12h15. A polícia suspeitou que se pudesse tratar do português desaparecido, dada a proximidade do último local onde foi visto, a casa de Jovan Popovic, um amigo.

Horas depois, já na manhã desta quinta-feira, circulou uma mensagem da família, que todos prefeririam não ter lido. “A família de Diogo Moreira gostaria de agradecer a todos pelo seu esforço na sua procura. O seu corpo foi encontrado ontem em Brighton”, diz o texto publicado no Facebook. “Diogo era conhecido e estimado por todos. Uma marcha em sua homenagem será organizada na próxima semana para celebrar a vida desta pessoa maravilhosa”.

Quando foram contactados pelas autoridades, os dois irmãos de Diogo Moreira que estão em Brighton desde segunda-feira encontravam-se no restaurante Olé Olé, no centro da cidade. Estavam com amigos de Diogo, combinando novas estratégias na busca do seu paradeiro. 

Foram com a polícia para a casa de Popovic, para que fosse possível recolher impressões digitais de objectos deixados pelo irmão quando desapareceu misteriosamente, na madrugada do dia 14: a carteira, os documentos, a mochila.

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O corpo estava irreconhecível, disse a polícia. Mas seria possível  identificá-lo através das impressões digitais.

O processo de reconhecimento levou cerca de um dia para chegar a uma conclusão. O Laboratório da Polícia Científica em Portugal colaborou activamente neste trabalho. Contactado pelas autoridades britânicas, solicitou os dados de Diogo Moreira ao Instituto dos Registos e Notariado e comparou-os com os elementos enviados de Brighton. O resultado deu positivo.

A meio da tarde, a Polícia Britânica de Transportes, que está a liderar as investigações, dizia que o processo formal de identificação não estava ainda completamente concluído.

Muito antes disso, porém, outros elementos, como as roupas e os pertences que estavam nos seus bolsos, não deixaram dúvidas aos irmãos e amigos de que se tratava de Diogo.

Ninguém tem certezas sobre o que terá acontecido. O que se sabe é que Diogo Moreira tinha passado o fim-de-semana num festival em Leicester, a 260 quilómetros de Brighton, e que quando voltou não foi dormir em sua casa, mas na de Jovan Popovic. Estava “em baixo” e terá tido um ataque de pânico, segundo Joseph Ashwin, com quem Diogo dividia uma habitação.

Vítor Rodrigues, seu amigo desde os 13 anos e que também emigrou de Espinho para o Reino Unido há vários anos, conta que não notou nada de errado no comportamento de Diogo nos últimos tempos.

O que os amigos relatam é que Popovic acordou às 4h e viu que Diogo já lá não estava. Tinha saído, deixando a porta entreaberta e todos os pertences na casa.

O corpo foi encontrado na base da encosta escondida pelo muro que fica mesmo ali ao lado, atravessando a rua em frente ao pub The West Hill. Ainda se vê, no arame farpado, um pedaço de fita azul e branca com que a polícia isolou a área na quarta-feira.

Alguém instalou um pequeno vaso com flores no muro, mais adiante. E no vidro de um carro ali estacionado, ainda está afixado um dos cartazes que os amigos de Diogo espalharam pela cidade, com a sua fotografia e um pedido de colaboração a quem o tivesse avistado. Muitos cartazes ainda são vistos nas ruas de Brighton.

Diogo Moreira faria 30 anos em Setembro. Nasceu em Espinho em 1985 e vivia em Brighton há cerca de cinco anos, trabalhando num café numa artéria central da cidade, o Redroaster. Morou também em Cardiff, no País de Gales.

Em 2011, foi aprovado no concurso especial de acesso ao ensino superior, para maiores de 23 anos, na Universidade do Porto, para o curso de Ciências e Tecnologia do Ambiente. Mas foi na Universidade de Brighton que acabou por iniciar um curso superior, em Ciências Ambientais e Geologia. Tinha acabado de concluir o primeiro ano.

O corpo de Diogo Moreira não foi trasladado esta quinta-feira para Portugal. “Ainda decorrem as investigações acerca das circunstâncias em que a morte ocorreu e a sua libertação depende da ordem do Ministério Público inglês”, disse o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário. O Governo tem estado em contacto com a família. “Falei com o pai do Diogo e a nossa cônsul-geral em Londres conversou hoje [quinta-feira] de manhã lá com os irmãos”, acrescentou.

Alguns dos amigos de Diogo Moreira estavam reunidos esta quinta-feira à tarde num pub na rua St.James, perto do café Redroaster. Este encontrava-se encerrado, de luto, com flores à porta. Várias pessoas paravam para ler um cartaz com a foto de Diogo e um texto em sua homenagem, escrito pelos seus companheiros de trabalho. 

Nele, os colegas manifestam que estiveram na expectativa de o reencontrar, com um sorriso nos lábios e uma explicação qualquer sobre onde esteve esse tempo todo. Mas a realidade deixou-os “paralisados com tristeza, desgosto e incredulidade”.

Diogo Moreira era, dizem os seus companheiros, paciente, bem humorado e a sua alegria de viver era apreciada por todos. “Era impossível não gostar dele”. com Andreia Sanches e Pedro Sales Dias

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