Dezenas de amas em protesto no Porto pelo "direito ao trabalho"

Várias dezenas de amas protestaram, ao início da tarde desta quinta-feira, em frente ao Instituto da Segurança Social (ISS), no Porto, contra a nova legislação que regula esta actividade.

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A ama cuidava de 17 crianças num apartamento de quatro assoalhadas Daniel Rocha (arquivo)

Em causa, o regime que, desde o passado dia 03, passou a definir os termos e as condições de acesso à profissão e o exercício da mesma, e que estabelece que as amas deixem de ter vínculo contratual com a Segurança Social. Na prática, ao tornarem-se independentes, deixam de contar com o apoio estatal que recebiam até aqui, ficando o pagamento dos seus serviços a cargo das famílias ou das instituições particulares de solidariedade social (IPSS).

Uma decisão que, queixou-se Paula Melo, presidente da APRA - Associação dos Profissionais no Regime de Amas, implicará que muitas das mais de 1140 amas que existem em todo o país "vão para o desemprego". "Só pretendemos que as amas tenham direito ao trabalho. E não é isso que está acontecer: as da Segurança Social vão já para o desemprego e o mesmo vai acontecer a muitas amas que trabalham para as IPSS, porque, estas, ao não serem comparticipadas, farão alguns contratos, mas só com as mais novas. Daí que as mais velhas vão ficar sem contrato individual de trabalho", defende.

O problema ganha especial dimensão pelo facto de as amas da Segurança Social apenas se responsabilizar, regra geral, por crianças de famílias carenciadas. "Se as famílias não tiverem o apoio do Estado, não conseguem pagar-nos. Portanto, se a profissão for liberalizada, não aceito porque não tenho condições para continuar", garante Angelina Peixoto, que há seis anos optou por deixar de ser auxiliar de acção educativa para "abraçar esta profissão" e agora "corre o risco de ficar sem ela".

Opinião partilhada por Maria da Conceição Monteiro, ama há 24 anos: "Este protesto é para que não acabem as amas da Segurança Social. Querem que passemos a ter o contrato com os pais. Isto vai afectar as crianças, porque até aqui os pais não pagavam nada, e, no meu caso, já me disseram que se é para pagar, vão embora."

Em declarações aos deputados, no Parlamento, o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Mota Soares, explicou que a actividade de ama poderá vir a ser desenvolvida ou por contrato directo com a família ou através de contrato com uma "entidade enquadradora". "Essas entidades devem ser não o Estado, mas sim as instituições sociais, que são quem já hoje dá uma resposta aos anseios das famílias, através das respostas de creche, e que poderão alargar a sua oferta de serviços às famílias", disse Mota Soares.

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