Dez anos de Ponte Vasco da Gama satisfazem autarcas mas não ambientalistas

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A ponte foi inaugurada a 29 de Março de 1998 Pedro Cunha (arquivo)

Dez anos depois da inauguração da Ponte Vasco da Gama, os municípios do Montijo e Alcochete dizem-se satisfeitos pelo desenvolvimento trazido. Os ambientalistas lembram o desordenamento do território na margem esquerda do rio Tejo.

Maria Amélia Antunes (PS), presidente da Câmara do Montijo, diz que o balanço é “necessariamente positivo”.

"A ponte Vasco da Gama trouxe um conjunto de vantagens, como o encurtamento da distância [com Lisboa], visibilidade e conhecimento do território do Montijo, atracção de novos investimentos e residentes", salientou.

A qualidade de vida no Montijo aumentou significativamente, com melhores espaços públicos, rede viária, iluminação, equipamentos e comércio, acrescentou.

Mas nem tudo foi positivo. A autarca falou do “maior movimento de veículos na cidade, mais poluição sonora e ambiental que temos vindo a controlar".

Para o presidente da Câmara de Alcochete, Luís Franco (CDU), a ponte teve "efeitos extremamente positivos". "Promoveu o desenvolvimento e melhorou muito as acessibilidades existentes ao nível da região e, em particular, ao nível do concelho". Luís Franco adiantou que houve um crescimento demográfico, ao qual se associou a instalação de novas empresas, com a criação de novos postos de trabalho, e o desenvolvimento de novas acessibilidades.

O balanço optimista dos autarcas não é partilhado pelos ambientalistas. Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus, fala das “questões de mobilidade e de ordenamento de território”. O ambientalista criticou a construção de uma ponte exclusivamente rodoviária e o crescimento habitacional em todo o cordão que vai de Alcochete até ao Barreiro.

"Muitas pessoas dizem que aqueles locais estão melhores, com mais vida, mas não estão porque as zonas mais antigas de Alcochete e Montijo continuam num processo de envelhecimento e degradação", disse, considerando que se criou "uma pressão sobre a margem sul que deverá agravar-se com o novo aeroporto".

Para Eugénio Sequeira, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a ponte foi "bem feita, conseguiu-se preservar as aves", mas o "grande problema" foi o crescimento urbano na margem Sul do Tejo.

"As medidas de contenção urbanística não funcionaram e as consequências são gravíssimas, não se conseguindo travar o crescimento urbano", sublinhou o ambientalista.

João Joanaz de Melo, do Geota (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e do Ambiente), elegeu o acesso alternativo a Lisboa como o "aspecto mais positivo" da Vasco da Gama, mas lembrou que um dos argumentos invocados na altura para a sua construção, o "suposto" descongestionamento da Ponte 25 de Abril, continua por resolver.

"A intermodalidade é uma farsa, não existe. Continuamos a não ter um sistema de transportes minimamente suficiente na Área Metropolitana de Lisboa e em particular na travessia do Tejo".

Relativamente ao ordenamento do território, Joanaz de Melo afirma que a ponte fomentou a expansão de novas frentes urbanas que impediu medidas mais eficazes da reabilitação dos centros urbanos já existentes e acelerou o processo de desertificação dessas zonas, em particular de Lisboa.

As críticas são refutadas pelos autarcas de Montijo e Alcochete, que dizem que o crescimento populacional ficou aquém do previsto. “Basta ver o nosso Plano Director Municipal que entrou em vigor a 1 de Fevereiro de 1997 e verificar que dos espaço urbanizáveis para habitação nem 50 por cento foram ocupados”, disse Maria Amélia Antunes. De acordo com a autarca, desde o último censo de 2001 houve um aumento populacional no Montijo na ordem dos quatro mil habitantes.

Em Alcochete, segundo o presidente da Câmara, houve um crescimento demográfico de 47 por cento na última década, mas que decorreu de uma "forma controlada e sustentada".

A ponte foi inaugurada a 29 de Março de 1998.

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