Detectadas fissuras em rodados dos comboios Alfas Pendulares

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CP garante que não há riscos para os passageiros e mantém operação em funcionamento Daniel Rocha/PÚBLICO

No dia 7 de Julho a EMEF - Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, que pertence à CP, detectou uma fissura num veio transversal de um bogie (conjunto de rodados sobre o qual assenta a carruagem) de um comboio Alfa Pendular. A composição foi imediatamente enviada para o Entroncamento para mudar de bogie, mas pouco depois outra fissura idêntica era detectada noutro comboio.

Desde então a CP contou dez fissuras em várias composições e chegou a ponderar suspender a operação dos Alfas Pendulares, pelo menos entre Lisboa e o Algarve, concentrando-a apenas em viagens mais curtas entre Santa Apolónia e o Porto, por forma a imobilizar alguns comboios nas oficinas.

A dimensão das fissuras, porém, tranquilizou os responsáveis que dizem não haver quaisquer riscos para a circulação e segurança dos passageiros, assegurando assim a totalidade do serviço. Neste momento apenas um dos dez pendulares está imobilizado, mas a CP montou uma operação de monitorização que passa pela visualização dos rodados dos comboios à chegada a Lisboa e por outra, mais profunda, no Porto, através de aparelhos de ressonância magnética.

À cautela, porém, veio da Suíça um especialista da empresa fabricante dos bogies para analisar o problema, devendo viajar para aquele país um conjunto de rodados para fazer testes.

O diagnóstico, no entanto, já está feito e os ferroviários portugueses não têm dúvidas de que se trata de um erro de fabrico e não de uma falha de manutenção. Quando nos anos noventa os pendulares foram construídas pela então Fiat Ferroviária (entretanto comprada pela francesa Alstom), esta encomendou os bogies à Suíça que já os tinha preparados para comboios idênticos que circulavam em bitola europeia. A distância entre os carris é 23 centímetros mais curta na Europa do que na Península Ibérica e o método encontrado para adaptar partes do bogie ao caso português foi acrescentar mais um pedaço à barra transversal.

Onze anos depois as fissuras detectadas são precisamente na soldadura daquele acrescento.

A CP contactou de imediato a Renfe, que tem ao seu serviço comboios iguais aos Alfas Pendulares entre Madrid, Valencia e Alicante. Os espanhóis ficaram preocupados, mas os Alaris (designação comercial daquelas composições no país vizinho) não têm qualquer problema, apesar de terem praticamente a mesma idade dos seus irmãos portugueses e terem sido construídos pelo mesmo fabricante.

A explicação está no tipo de linha em que uns e outros circulam. Enquanto em Espanha o Alaris circula em vias modernizadas e poucas sinuosas, em Portugal o Alfa é submetido diariamente a vibrações e a esforços de aceleração e de afrouxamentos constantes em virtude do mau estado da linha do Norte, que só parcialmente está modernizada. Qualquer maquinista sabe que a viagem entre Lisboa e o Porto é um autêntico rally com picos de velocidade a 220 Km/hora alternados com afrouxamentos inferiores a 100 Km/hora. E é essa a razão que explica a maior fadiga dos materiais do pendolino português.

Fonte oficial da CP disse ao PÚBLICO que a empresa "tem o problema controlado e não há quaisquer riscos para as pessoas".

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