Desempregada por ser mãe, Ariete contratou uma funcionária com quatro filhos

Fundação Inatel criou projectos de franchising social para criar emprego para desempregados de longa duração e jovens à procura do primeiro trabalho. O primeiro Mesa Portuguesa abriu em Lisboa.

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O primeiro restaurante Mesa Portuguesa já está aberto Nuno Ferreira Santos

O filho de Ariete Oliveira tem quatro anos, tantos quantos a mãe tem de desemprego. Na área da restauração e hotelaria, Ariete diz que ser mãe de um filho pequeno tem sido a razão para não a contratarem. Quando surgiu a oportunidade de gerir o seu próprio negócio, num projecto de franchising social criado pela Fundação Inatel para desempregados de longa duração, das coisas que mais lhe deu prazer foi contratar uma funcionária com quatro filhos. "Até me arrepiei". Ariete é uma das sócias do primeiro restaurante take away da marca Mesa Portuguesa.

Foi no ano passado que a Fundação Inatel decidiu arrancar com projectos de franchising social. Num negócio de franchising clássico existe uma marca comercial já criada, um conceito e um plano de negócio que o franchisado tem de pagar para poder usar. O que esta fundação pública decidiu fazer foi usar o conceito para estimular a criação de autoemprego sem exigir esse pagamento, explica o presidente da instituição, Fernando Ribeiro Mendes. Ou seja, o uso da marca de comida para fora Mesa Portuguesa, que foi criada pelo Inatel, apenas pressupõe o pagamento de franquia quando for atingido um valor alto de facturação. O objectivo não é tirar lucro mas sim ajudar pessoas há muito tempo desempregadas, ou jovens à procura do primeiro emprego, a criarem os seus postos de trabalho.

Ariete Oliveira, 40 anos, tirou o curso de Jornalismo e Comunicação Social mas sempre trabalhou na área da restauração e da hotelaria. A carreira era importante, tanto que foi por causa dela que foi adiando a maternidade, até aos 35 anos. Acontece que depois de ser mãe sente que, no hotel onde trabalhava, passaram a olhar para ela com outros olhos por não ter a mesma disponibilidade. “Nunca faltei, gozei apenas quatro meses de licença, não sei o que é uma baixa".

Tudo começou com a crise, no hotel onde trabalhava pediram-lhe “para tapar buracos”, além da área da gerência tinha também de fazer trabalho de recepção. A certa altura, pediram-lhe para começar a trabalhar todos os fins-de-semana. Perante a sua recusa criaram todas as condições para que saísse pelo seu pé, para não receber indemnização. Desde então, há cerca de quatro anos, não tem conseguido mais do que biscates de curta duração e sem qualquer tipo de segurança. Nas muitas entrevistas de emprego a quem tem ido perguntam-lhe sempre: tem filhos? Que idade tem? Nunca é chamada e sempre sentiu que era por essa razão, "na área da restauração e hotelaria exige-se uma enorme disponibilidade das pessoas. Ser mãe é um rótulo, é uma condição impeditiva”.

Assim, quando ouviu falar desta oportunidade, de ser ela a gerir este negócio criado pela Inatel, concorreu e foi escolhida. A primeira funcionária que seleccionou, e que convidou para ser sócia, tem quatro filhos, dois deles pequenos, um deles da mesma idade do seu. Foi uma das coisas que mais prazer lhe deu neste novo projecto. "Até me arrepiei".

Houve 30 candidatos ao projecto-piloto da marca Mesa Portuguesa, que abriu dentro do estádio 1.º de Maio, que fica na zona de Alvalade, em Lisboa. Estão a ser analisadas as restantes candidaturas e o presidente do Inatel espera que, até ao final do ano, abram mais três a quatro espaços Mesa Portuguesa na zona da grande Lisboa. Este primeiro funciona em instalações do Inatel, nos restantes terão que ser os candidatos a arranjar o sítio.

O conceito de franchising social arrancou no ano passado, também em Lisboa, com a marca Kantina, que funciona no Palácio da Independência, em Lisboa, e teve 130 candidatos. “O Kantina tem corrido muito bem do ponto de vista económico, ganhou um público regular e organiza eventos”. O primeiro franchisado era um desempregado de longa duração com mais de 50 anos. Está a ser preparada a abertura da segunda Kantina no Porto. Em Espinho, abriu em Outubro a primeira loja “Inatel Viagens” com o mesmo conceito. O Inatel faz a análise dos currículos, uma entrevista, em que é avaliada a predisposição da pessoa para assumir responsabilidades. Não se exige às pessoas que tenham experiência nesta área, uma vez que o Inatel dá formação na área da restauração e em instrumentos de gestão.

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