Deco preocupada com gastos das famílias neste Natal

Associação de defesa do consumidor teme que famílias e instituições de crédito não estejam a ser responsáveis na forma como lidam com o dinheiro

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Taxa manteve-se inalterada face a Maio Enric Vives-Rubio (arquivo)

A associação de defesa do consumidor Deco apelou esta quarta-feira aos portugueses  para que privilegiem a poupança e o consumo responsável, tendo manifestado preocupação com os gastos das famílias neste Natal, que podem ter sido potenciados pela ideia incorrecta do fim da crise.

Dados da sociedade interbancária gestora da rede Multibanco revelam que as compras realizadas nos terminais de pagamento automático entre 23 de Novembro e 27 de Dezembro ascenderam a 3712 milhões de euros, mais 7,3% que em igual período de 2014. Para a coordenadora do gabinete de apoio ao sobreendividado da Deco, Natália Nunes, estes dados “são preocupantes”, porque as dificuldades financeiras das famílias permanecem.

“No que concerne a famílias em situação de dificuldade os números são semelhantes aos que se verificaram em 2014” e superiores aos de 2012 e 2013, o que permite verificar que “não há uma alteração significativa da situação financeira” das pessoas, adianta. Aliás, “olhando para a situação das famílias em 2015 verificamos que ela até se agravou face a 2014”, sublinha Natália Nunes.

Segundo esta responsável, a maior parte das famílias que pede ajuda ao gabinete já não tem qualquer capacidade de reestruturar a sua situação: “São famílias que vão ser confrontadas, se ainda não estão a sê-lo, com a penhora dos bens e dos rendimentos ou até com o recurso ao tribunal para pedirem a sua insolvência”. Sobre as razões que poderão ter levado a este comportamento dos portugueses, Natália Nunes aponta o “clima de alguma euforia” que se criou sobre o fim da crise.

“A verdade é que desde o Verão se tem criado um clima de alguma euforia que tem levado a que as famílias tenham a ideia, às vezes não correcta, de que as dificuldades estão ultrapassadas, que a crise terminou e a sua situação financeira se vai alterar”, sublinha. Nos últimos tempos a Deco tem vindo a verificar, relativamente à concessão de crédito, que tanto as famílias como as instituições de crédito estão ”a ter os comportamentos que tinham antes da crise, ou seja, a ser menos responsáveis na forma como lidam como o dinheiro”.

“A nossa preocupação vai no sentido de que tanto as instituições de crédito como as famílias não estejam a acautelar os seus direitos e não estejam a ser responsáveis na forma como lidam com o seu dinheiro e que isso venha a trazer consequências a médio prazo”, diz.

O número de famílias sobreendividadas que recorreu à Deco estava, no final de Outubro, próximo do nível verificado no mesmo período de 2014 (cerca de 26 mil), numa altura em que a taxa de poupança dos particulares estava em mínimos desde 1995. “Há aqui por parte dos consumidores o privilegiar do consumo e o esquecer a poupança”, refere ainda Natália Nunes, lamentando que a expectativa do gabinete que dirige, de que a crise servisse para alertar os consumidores para a necessidade de gerirem de forma correcta o seu dinheiro, não se estar afinal a concretizar.

Numa altura em que se inicia um novo ano, Natália Nunes apela às famílias para repensarem “a forma como lidam com o dinheiro” e como organizam o seu orçamento mensal. No seu entender têm de encarar “o consumo de forma responsável e privilegiar a poupança, que é fundamental se forem confrontadas com algum imprevisto a curto prazo” e também para acautelarem a idade da reforma.

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