Deco "chumba" 26 talhos por falta de qualidade de carne de vaca picada vendida

Estudo revela presença de aditivos potencialmente perigosos e falta de condições de higiene e conservação.

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Deco aconselha o consumidor a pedir que acarne seja picada na altura da compra Ina Fassbender/REuters

Em 2013, a DecoProteste anunciava resultados “alarmantes” para um estudo à carne de vaca picada vendida em 34 talhos da zona da Grande Lisboa e do Grande Porto. Aditivos perigosos, salmonela, listeria, temperaturas de conservação acima do imposto por lei e falhas na higiene estavam entre os problemas encontrados. Dois anos depois, uma investigação semelhante concluiu que os problemas persistem e que se mantiveram em 12 estabelecimentos que já tinham sido analisados.

O estudo revelado pela DecoProteste esta terça-feira analisou amostras de carne de vaca picada vendida em 26 talhos da Grande Lisboa, de Setúbal e do Grande Porto e concluiu que 23 dos estabelecimentos adicionam sulfitos à carne e que todos mantêm o produto sob temperaturas acima do previsto por lei e sem as devidas condições de higiene e de conservação.

Para o estudo, a DecoProteste comprou 26 amostras de carne de vaca já picada, que transportou para laboratório a uma temperatura inferior a 2 graus Celsius, o máximo estabelecido por lei para a conservação deste tipo de produto. Ainda no local de venda foi feita a medição da temperatura a que estava conservada a carne e, segundo a Deco, os resultados foram “desastrosos”. “Na Grande Lisboa e em Setúbal, a temperatura média de venda era de 7,9ºC e, no Grande Porto, de 9,8ºC”, indica a revista, o que levou a que todos os talhos chumbassem neste ponto.

À semelhança do que tinha sido concluído no estudo realizado em 2013, a investigação determinou que são adicionados sulfitos à carne de vaca picada vendida a granel, uma substância que mantem o tom vivo da carne e que é potencialmente perigosa para pessoas que sejam alérgicas aos seus componentes.

A adição de sulfitos é proibida na carne picada. De todos os talhos analisados, apenas três, integrados em duas cadeias de supermercados, passaram no teste. Segundo a Deco, quase todas as amostras continham estes aditivos e, “muitas das vezes, as quantidades eram inacreditavelmente elevadas, chegando a 4,27g/kg”.

“A situação mais alarmante que encontrámos foi a utilização ilegal e escondida de sulfitos”, sublinha ao PÚBLICO Nuno Lima Dias. O técnico da associação e um dos responsáveis pelo estudo reconhece que a maioria das pessoas não são alérgicas aos sulfitos mas realça que algumas podem ter um grau de alergia que pode levar a um choque anafiláctico. “O consumidor é enganado quando a carne é vendida com um aspecto fresco mas devido a aditivos”, aponta.

Nuno Lima Dias reforça que a existência de sulfitos deve vir identificada na etiqueta dos produtos a partir de 10 miligramas de sulfitos por quilo. “Encontrámos concentrações acima dos 4500 miligramas por quilo de carne”, acrescenta o técnico.

Na análise à qualidade global das condições de higiene e conservação a que a carne de vaca picada era mantida, a nota é negativa para todos os 26 talhos. Nas amostras recolhidas foram encontrados “muitos problemas microbiológicos”, aponta a Deco. No total, quase metade das amostras (40%) continha listeria monocytogenes e, no Grande Porto, 30% salmonela. Todas as amostras tinham ainda vestígios de outras carnes, incluindo de aves, o que revela que a mesma picadora terá sido usada para picar vários tipos de carne, ao contrário do que impõe a lei.

Entre os 26 talhos analisados, 12 já tinham sido alvo de uma investigação pela Deco em 2013. Dois anos depois, a associação de defesa do consumidor lamenta que mantenham as “más práticas” de conservação e comercialização de carne de vaca picada, principalmente a adição de sulfitos. No feedback que a Deco já recebeu de talhos visados no estudo, Nuno Lima Dias indica que alguns admitiram que “utilizam misturas para manter a carne viva e que desconheciam que não o podiam fazer”.

Para o técnico estes repetentes em “más práticas” revelam que a fiscalização a estes estabelecimentos por parte das autoridades competentes, neste caso a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), “falha”. “Tal como há dois anos, os resultados do estudo à carne já picada vendida a granel levam-nos a desaconselhar a sua compra, bem como a exigir que se proíba a sua venda”, defende a associação.

Perante estes resultados, a Deco aconselha os consumidores a não comprarem carne previamente picada. A carne pode ser picada no talho na altura da compra mas a melhor opção é fazê-lo em casa. 

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