Debate sobre desperdício de plasma levou a quebra nas dádivas de sangue

O Instituto Português do Sangue alertou esta quarta-feira para a quebra de dádivas de sangue. A causa pode estar no alarme na opinião pública relacionado com o desperdício plasma, mas anunciou que há uma verba de cinco milhões de euros para o concurso de fraccionamento do plasma que está a decorrer.

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Presidente do instituto apela à dádiva de sangue hoje e amanhã Nuno Ferreira Santos/Arquivo

Ouvido na Comissão de Saúde, para prestar informação e esclarecimentos na sequência das medidas tomadas para aumentar o aproveitamento de plasma em Portugal, o presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), Hélder Trindade, mostrou-se preocupado com o alarme lançado na opinião pública a propósito de notícias na comunicação social relacionadas com o desperdício de plasma e consequente diminuição de dádivas.

Para Hélder Trindade, esta preocupação assume proporções mais gravosas pelo facto de se estar a entrar no Verão, época de habitual redução do número de dádivas. A título de exemplo, citou os dados mais recentes, relativos a terça-feira, segundo os quais estavam previstas 817 inscrições, mas houve apenas 728 inscrições efectivas, das quais, resultaram, afinal, pouco mais de 500 colheitas. "Toda esta campanha, vejo-a com enormíssima preocupação, porque vai influenciar de forma negativa a opinião pública e os dadores, sobretudo numa altura complicada em que está a iniciar-se o Verão", alertou.

Hélder Trindade lamentou ainda ver instituto enredado numa "teia" a propósito do desperdício de plasma, um problema que existe em Portugal há vários anos e que só conheceu um real avanço desde que está à frente do IPST. "Há um trabalho de três anos que nunca tinha sido feito para chegarmos onde chegámos. Temos feito um trabalho o mais correcto e o mais célere possível, para termos plasma inactivado português [desde final de 2014], algo nunca feito até agora e vemo-nos enrolados nesta teia", afirmou, acrescentando: "estamos a falar de plasma, plasma, plasma, mas o que é preciso todos os dias é de sangue e plaquetas".

Cinco milhões de euros para fraccionar o plasma

O presidente do IPST anunciou ainda esta quarta-feira que há uma verba de cinco milhões de euros para o concurso para fraccionar o plasma (programa que permitirá a transformação deste produto em medicamentos) que está a decorrer. "Os peritos vão entregar os dossiês a explicar o que vão fazer", designadamente explicar se têm inactivação, que tipo ou se é seguro", disse. Perante o "diálogo concorrencial", o júri reúne-se e já sabe o que a indústria tem para oferecer, acrescentou, considerando que este processo está a ser "absolutamente transparente e diferente de tudo o que foi feito até agora".

Segundo Hélder Trindade, este programa completa o trabalho que o instituto fez ao longo dos últimos anos, seguindo-se à inactivação do plasma português para transfusões, que já é feita desde o final de 2014. Faltava ainda o tratamento do plasma remanescente como matéria-prima para a produção de medicamentos derivados do plasma, para o que foi lançado um concurso que está a correr, do qual deverá resultar a empresa que irá fraccionar o plasma, a começar pelos 30 mil litros que o IPST tem colhidos e conservados. No entanto, "se se chegar a Setembro e as empresas começarem a fazer perguntas e perguntas com má-fé, não vamos cumprir prazos", alertou.

"O que nós vamos pedir é: para rentabilizar ao máximo o plasma que temos, o que é que nos vão dar?", sublinhou. Trata-se de 120 mil unidades, que irão dar 30 mil litros, é o mínimo para que o plasma resulte em mais-valias, disse. "Quanto maior a quantidade que eu der para fraccionar, mais barato me sairá", acrescentou.

Hélder Trindade referiu ainda que o IPST enviou ofícios aos hospitais a saber quanto é que gastam de plasma inactivado e que nem todos responderam, mas o número final "foi qualquer coisa como 10 mil unidades". Entretanto, o Bloco de Esquerda requereu hoje a audição do presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Cunha Ribeiro, sobre a "inutilização do plasma em Portugal", pedido que foi chumbado pelos partidos da maioria (PSD e CDS). "Atendendo à gravidade das notícias que têm vindo a público, o Bloco de Esquerda entende que, em nome da transparência e do esclarecimento cabal desta situação, se deve ouvir, no âmbito deste processo, o presidente da ARSLVT, Luís Cunha Ribeiro", lê-se no requerimento do BE. Para o Bloco, este chumbo impede "que sejam prestados os esclarecimentos necessários sobre a questão da utilização de plasma em Portugal".


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