De novo, os rankings…

Anualmente, pelo outono, os órgãos de comunicação social elaboram rankings das escolas com base nos resultados dos exames nacionais.

Essas listagens de escolas, ordenadas de acordo com as médias dos exames e outros parâmetros a gosto, têm gerado acesa polémica (cada vez menos, na verdade) entre os especialistas e os que têm responsabilidades no sistema educativo.

A população, sabiamente, vê os rankings das escolas com a mesma naturalidade com que vê as pautas de frequência no final do ano letivo. Os anunciados malefícios que muitos especialistas associaram à divulgação de listas ordenadas das escolas, pura e simplesmente nunca se verificaram.

A este respeito, nunca será demais sublinhar o importante papel que o jornal PÚBLICO e José Manuel Fernandes tiveram na divulgação dos resultados dos exames nacionais. Deram ao país uma lição de transparência e de serviço público.

De facto, a divulgação pública dos resultados obtidos pelos alunos nos exames é, tão só e apenas, uma questão de transparência da Administração Educativa. E a transparência na administração é um imperativo legal e deveria ser um dever de todos aqueles que exercem funções públicas. Nenhum outro valor está em causa quando se publicam resultados de exames.

A transparência não tem sido uma prática da Administração. Ainda hoje, subsistem vários exemplos, inclusive na educação, em que apenas uma nomenclatura tem acesso a dados de interesse público e que deveriam estar disponíveis a todos. Curiosamente, quando interessa, como acontece agora com as iniciativas de delegação de competências educativas nos municípios, surgem aparentemente do nada, por geração espontânea, dados “impressionantes” – pela quantidade e variedade – relativos às escolas e aos municípios. Em que gaveta estavam guardados?

Embora nos últimos anos se tenham registado alguns avanços nesse sentido, não está acessível ao cidadão comum nem, em boa verdade, às próprias escolas, informação oficial, consolidada e aberta, sobre o número de alunos que frequentam as congéneres, sobre o número de turmas, de professores, de pessoal não docente, sobre os resultados escolares, etc., etc. Muito menos existe informação pública sobre rácios, orçamento e contas de cada escola. Enfim, aos portugueses têm sido ocultados dados relativos à gestão do sistema educativo que, não só os impedem de o escrutinar devidamente como poderiam, fossem eles conhecidos, induzir melhorias de desempenho do próprio sistema.

A publicação dos resultados dos exames e a elaboração de vários rankings com base nas classificações dos alunos e, mais recentemente, com base noutros critérios de análise estatística que as contextualizam, para além de materializar o princípio da transparência, o que por si só seria bastante, é uma ação muito positiva para a melhoria dos resultados escolares e do sistema educativo como um todo.

De facto, ninguém tenha dúvidas que cada escola analisa os rankings, verifica o seu posicionamento relativamente aos anos anteriores, compara os seus resultados com as médias nacionais e com os resultados de outras escolas. Cada uma tenta encontrar causas para as descidas e subidas nessas listagens, implementa estratégias para melhorar os resultados e, consequentemente, o seu posicionamento relativo. Ou seja, as escolas não são indiferentes aos rankings e é bom que assim seja.

As escolas encaram-os com prudência. Elas sabem que os resultados escolares traduzem apenas uma parte – relevante, é certo – do imenso trabalho de formação e educação que se faz numa escola.

O que devemos valorizar nos rankings não é propriamente a posição que cada escola neles ocupa. Até porque essa posição se altera ano após ano. O que deve ser valorizado, o que verdadeiramente interessa ao sistema educativo e à população em geral é o esforço que todas as escolas fazem para que os seus alunos venham a obter melhores resultados.

Os rankings desafiam as escolas a fazer melhor.

Presidente do Conselho das Escolas. O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico.

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