De mochila às costas rumo ao Japão

De Portugal partiram 400 jovens escuteiros com destino ao Japão. Percorreram cerca de 11 mil quilómetros para o Jamboree Mundial, um acampamento internacional de escuteiros. Por lá, esperam conhecer mais do que apenas o Japão, querem experimentar os costumes dos mais diversos cantos do mundo.

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O último Jamboree foi na Suécia, há quatro anos. Desta vez é no Japão JOHAN NILSSON/REUTERS
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Inês Gomes contava no dia da partida que nunca tinha ido acampar para tão longe SÉRGIO AZENHA

Em 1920, em Londres, 8000 jovens de trinta e quatro países diferentes reuniram-se num acampamento. Em conjunto partilhavam a ideia de que o trabalho de equipa e a vida ao ar livre são os meios ideais para que qualquer jovem cresça como exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina. Todos eram escuteiros e este foi o primeiro Jamboree Mundial. Hoje tem início o 23.º.

Em 2015 o cenário já não é o mesmo. O acampamento internacional acontece de quatro em quatro anos e desta vez será no Japão. São esperados 40000 escuteiros de 144 países diferentes. Inês, Rodrigo e António são três dos 400 jovens que já partiram de Portugal rumo a Yamaguchi. São escuteiros marítimos do agrupamento do Corpo Nacional de Escutas n.º 235 da Figueira da Foz, do seu grupo vão 27 Marinheiros, dos 14 aos 17 anos, acompanhados por três dirigentes. “Nunca fui acampar para tão longe, não sei bem o que esperar, mas estou em pulgas”, contou Inês Gomes no dia da partida. A palavra Jamboree, antes de dar nome ao acampamento, significa não só um encontro de grandes dimensões, mas também uma enorme festa e que é a maior expectativa de Inês.

João Garcia é o chefe de unidade que vai acompanhar a Inês e os restantes Marinheiros ao Japão e realça as diferentes formas de viver o escutismo e a possibilidade que o Jamboree traz de as partilhar, “se já em Portugal há tantas variações, o que se nota muito nas fardas, por exemplo, imagine-se no mundo inteiro. É de uma riqueza brutal, os nossos miúdos vão poder contactar com todo o tipo de culturas e isso vai notar-se nas coisas mais pequenas”. Dá um exemplo: “as nossas miúdas andam de calções e sapatilhas, pergunto-me de que forma é que andarão as árabes, com certeza será muito diferente”. Apesar das diferenças que se hoje se denotam, a origem é a mesma: Baden-Powell, o tenente-general do exército britânico que em 1907 fundou o movimento e foi também o responsável pelo primeiro Jamboree.

“Sempre me apercebi que havia um forte ambiente de entreajuda nos escuteiros e isso cativou-me, pareceu-me uma excelente forma de matar o tempo”, explica António Santos sobre a sua entrada para os escuteiros. A sua caminhada pelo agrupamento da Figueira da Foz começou há cinco anos, mas hoje já não a vê como um passatempo: “É como se fosse uma segunda família. Os escuteiros tiveram um impacto tão grande na minha vida que hoje é indispensável”, confessa.

Inês e Rodrigo fizeram percursos diferentes para chegarem até aqui. Tinham sete anos quando chegaram ao agrupamento e muito graças aos irmãos mais velhos que já se tinham iniciado na experiência. “Fui um bocadinho empurrada pela minha mãe, nem foi porque quisesse muito, mas hoje ainda bem que assim foi, aprendi coisas que não aprenderia em mais lado nenhum e fiz amigos para a vida”, conta Inês. Rodrigo Santos também foi à experiência. “Tinha lá o meu irmão, mas também só ficava se gostasse e a verdade é que gostei e assim se passaram dez anos. Tenho-me divertido tanto. É uma experiência de amizade, amor e carinho que toda a gente devia experimentar na vida, nem que fosse só um dia ou dois”, conta.

Para este agrupamento, a partida para o Jamboree tem um sabor especial. É o culminar de três anos de dedicação na tentativa de angariar parte do dinheiro para chegar ao Japão. João Garcia explica que embora quisessem muito ir, só iriam se fosse uma possibilidade para todos, independentemente da sua condição económica. “Os vossos pais até podem ter o dinheiro para vos dar, mas dentro desta casa temos de ser nós a trabalhar para conseguir os nossos objectivos e, com dedicação, o céu é o limite”, foram as palavras que João recorda do início desta longa caminhada. No dia da partida, António nem quer acreditar, relembrou também o momento em que lhe lançaram o desafio, “nunca mais me esqueço do primeiro discurso, disseram-nos: ‘Se não arranjarem aquela quantidade de dinheiro, não há nada para ninguém’ e nós nunca pensámos que o pudéssemos realmente conseguir, mas conseguimos”.

Durante três anos fizeram um pouco de tudo, almoços, jantares, venderam gelados, organizaram espectáculos, participaram em feiras piratas, feiras medievais, venderam manjericos, plantas e cabazes de natal, compotas, tudo o que conseguissem para adiantar parte do dinheiro da viagem para que ficasse acessível para todos. “Envolvemos neste projecto os nossos escuteiros, os pais, os dirigentes e toda a comunidade figueirense. Criámos um grande espirito de união e amizade entre todos, que certamente irão ficar para o resto da vida”, contou João. Rodrigo acredita que foi todo o trabalho que o fez sentir merecedor desta viagem. “Durante três anos trabalhei no Verão, nas férias, qualquer coisa em que víssemos uma oportunidade agarrávamos, e agora que está a chegar nem acredito que vou, sinto-me tão ansioso”, conta.

Todos confessam: a noite de sexta para sábado foi de pouco sono, pela frente tinham uma viagem de quase 20h e depois, o que iriam encontrar? Embora a maioria já tenha participado em acampamentos internacionais, nunca foram até tão longe. “Quero muito alargar os meus horizontes, vamos conhecer tantas culturas, tantas religiões, vou ter uma oportunidade para aprender outras línguas e melhorar o meu inglês. Além do mais, cada um de nós só pode participar no Jamboree uma vez, é uma oportunidade única em todos os sentidos”, conta Inês. Mas Rodrigo está muito descansado, “nem parece que somos doutro país, nem que falamos outra língua, somos todos escuteiros, somos iguais, somos irmãos”, explica. Já António tem uma grande curiosidade, a comida. “Sempre gostei muito de cozinhar, aliás, eu sou o taifa do agrupamento, por outras palavras, o cozinheiro. Acho que vai ser giro aprender umas coisas novas”, confessa.

Por cá ficam os pais. Embora confiem, Rodrigo diz que a mãe está preocupada e volta e meia desabafa: “o meu menino vai para a outra ponta do mundo”. Em casa de António é igual, mas levou consigo a promessa de que enviaria fotografias todos os dias. O mesmo acontece com Inês, mas agora a sua principal preocupação é não esquecer-se de nada: “estou sempre a verificar a mochila, mas tenho a certeza que me vou esquecer de alguma coisa”.

Para o regresso, Rodrigo só pede que chegue cansado.“Só assim sei que vivi tudo intensamente”. De 28 de Julho a 8 de Agosto vão viver outras experiências, conhecer outros jovens e experimentar o mundo. Em jeito de despedida, João Garcia deixa o seu desejo para esta viagem até ao Japão e de encontro com o mundo. “Que os ventos, ondas e marés estejam sempre de feição”.

Texto editado  por Lurdes Ferreira 

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