D. Manuel Clemente preocupado com “tempos difíceis” e “grave problemática” do trabalho

O patriarca de Lisboa considera urgente construir uma sociedade “com menos ganhos e dispêndios de alguns em contraste com a imerecida penúria de muitos”.

Foto
“Vivemos e sofremos tempos difíceis a este respeito”, disse D. Manuel Clemente ADRIANO MIRANDA

O patriarca de Lisboa e presidente da Confederação Episcopal Portuguesa (CEP), D. Manuel Clemente, alertou nesta segunda-feira para os “tempos difíceis” que se vivem, no que toca ao trabalho, considerando que constituem um “autêntico desafio civilizacional”.

No discurso de abertura da 183.ª Assembleia Plenária da CEP, que começa nesta segunda-feira em Fátima e só termina na quinta-feira, D. Manuel Clemente destacou a “grave problemática que envolve o trabalho” e os “desafios éticos” que coloca como alguns dos pontos que vão merecer particular atenção na reunião.

D. Manuel Clemente frisou que “a grave problemática que envolve o trabalho”, necessário para o sustento e realização “da humanidade de todos e de cada um”, não poderia ser esquecida na reunião: “Vivemos e sofremos tempos difíceis a este respeito”, disse, considerando ser urgente, e um “autêntico desafio civilizacional”, a construção de uma sociedade “com menos ganhos e dispêndios de alguns em contraste com a imerecida penúria de muitos; com outra organização do trabalho face às profundas mudanças tecnológicas, que tantas vezes o reduzem ou dispensam; face ainda às exigências irrecusáveis de populações inteiras que, na Europa ou batendo à sua porta, pretendem basicamente trabalhar e viver, senão mesmo sobreviver”.

Para o patriarca, “tudo isto pesa na reflexão e na responsabilidade” de governantes, políticos, organizações profissionais e laborais, investigadores económicos e sociais, cidadãos, e também responsáveis eclesiais, a quem cabe uma palavra sobre “esta nova ‘questão social’ que tão arduamente” desafia toda a gente.

Sexualidade
A visão cristã da sexualidade, a propósito da ideologia de género, será outro dos temas em destaque. Apesar de no discurso D. Manuel Clemente ter dito que a “complementaridade homem-mulher” é “a base imprescindível do que a humanidade há-de ser”, que “tempos recentes permitiram vivências mais individualistas e desvinculadas em relação àqueles padrões básicos da humanidade herdada” e que os responsáveis da Igreja vão contribuir para o debate enquanto “servidores por missão das convicções” que mantêm, o patriarca recordou o que Bento XVI disse no Porto a 14 de Maio de 2010: “Nada impomos, mas sempre propomos.”

Para além da discussão em torno da carta pastoral Visão cristã da sexualidade. A propósito da ideologia do género e do tópico Desafios éticos do trabalho humano, estará também em análise na reunião do órgão máximo do episcopado da Igreja Católica em Portugal, entre outros pontos, o sínodo dos bispos sobre a família, agendado para Outubro de 2014.

Para preparar este sínodo, o Papa Francisco enviou às Conferências Episcopais de todo o mundo um documento preparatório intitulado Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização, que inclui um questionário sobre temas como divórcio, contracepção, uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais. Embora a recolha de opiniões sobre temas actuais antes de um sínodo não seja uma total novidade, este inquérito, por pedir às bases que digam o que pensam sobre tópicos mais polémicos, mereceu maior atenção da imprensa e ganhou outros contornos. As respostas deverão ser recolhidas até ao final de Janeiro e algumas dioceses, como a de Lamego e do Funchal já estão a desafiar as comunidades em que se inserem a responder online, mas espera-se que os bispos, reunidos a partir de hoje e até quinta-feira em Fátima, também avancem com mais detalhes sobre a forma de pôr o inquérito em prática em Portugal.
 

Sugerir correcção
Comentar