Corveta da Armada ao fundo para criar recife artificial

Marinha Portuguesa cedeu dois navios que já não usa para potenciar mergulho recreativo no Porto Santo e na Madeira. Primeiro navio de guerra será afundado no próximo ano.

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Construído nos estaleiros alemães Blohm & Voss, a corveta Pereira d'Eça foi um dos primeiros navios construídos no pós-guerra DR

A corveta General Pereira d’Eça vai ser afundada no mar de Porto Santo com o objectivo de criar um recife artificial, anunciou esta semana o Governo regional da Madeira.

Será o primeiro de dois navios da Marinha Portuguesa a ir ao fundo nos mares madeirenses, com o propósito de potenciar o mergulho recreativo e aumentar os recursos piscícolas do arquipélago. A cedência dos dois navios à Madeira foi acordada entre Lisboa e Funchal. O afundamento do General Pereira d’Eça só deverá acontecer no próximo ano.

A abertura do respectivo concurso público, orçado em 345 mil euros mais IVA, foi decidida recentemente pelo conselho de Governo Regional, e tem por base a “execução de vários trabalhos preparatórios” para colocar a corveta debaixo de água. Antes de ir ao fundo, o vaso de guerra será submetido a várias intervenções que incluem a remoção de todas as substâncias consideradas perigosas e tóxicas (cabos eléctricos, óleos, massas, amiantos) e a lavagem e aspiração de todos os tanques e áreas contaminadas, que serão depois encaminhados para reciclagem.

Os trabalhos estão a decorrer nos estaleiros da Lisnave, e incluem também a preparação do interior do navio para o mergulho recreativo, pois é necessário adaptar os compartimentos existentes, alargando algumas saídas e abrindo outras, de forma a aumentar a segurança dos mergulhadores. Após a sua conclusão, a corveta será rebocada para a Madeira, naquela que será a última viagem de um navio que serviu o país durante mais de quatro décadas, os últimos dos quais nos Açores. No Porto Santo será afundado com recurso a explosivos, ficando a uma profundidade a rondar os 30 metros.

“A instalação do recife artificial é um meio de potenciar várias actividades com relevância socio-económica, designadamente mediante o incremento do mergulho recreativo, dos recursos piscícolas, bem como a captação de investimento, fixação de novos agentes económicos e a promoção de emprego”, explicou a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Susana Prada, no final do conselho de Governo.

Os navios desactivados da Armada portuguesa têm normalmente um destino: abate e sucata. Mas o executivo madeirense apresentou um projecto considerado de interesse público, que será co-financiado pela União Europeia através do programa operacional de pesca Promar.

A região autónoma foi pioneira no país na criação de recifes artificiais através do afundamento de embarcações. Em Outubro de 2000, o cargueiro Madeirense, construído na década de 60, e que durante décadas ligou o continente ao Funchal, e mais tarde assegurou a travessia entre as duas ilhas do arquipélago, foi afundado também ao largo do Porto Santo, naquela que foi a primeira operação do género realizado em Portugal. A corveta General Pereira d’Eça vai agora fazer-lhe companhia. Um destino que agrada os responsáveis pela Marinha Portuguesa, pois em vez de ser desmantelado o navio será preservado, numa espécie de museu subaquático.

Construído nos estaleiros alemães Blohm & Voss, o General Pereira d’Eça pertencia à classe João Coutinho, tendo sido um dos primeiros navios estrangeiros construídos na Alemanha após a II Guerra Mundial. Das seis corvetas da classe, apenas duas continuam no activo: o Jacinto Cândido, que continua a navegar, e o António Eanes, que está a ser reparado para regressar ao mar.

A classe João Coutinho foi projectada pelo engenheiro naval português Rogério d’Oliveira, de acordo com as especificidades da guerra no Ultramar. A sua operacionalidade fez com que desse origem a outras classes de navios utilizados pelas marinhas de Espanha, Egipto, Marrocos, Argentina, França e Turquia.

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