Como é irritante só ouvir metade do diálogo

Número de queixas por falar alto ao telemóvel nos transportes é reduzido.

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A campanha da Carris destinada aos passageiros ruidosos DR

Falar alto ao telemóvel é uma prática comum nos comboios suburbanos. A CP e a Fertagus, que explora o percurso Lisboa-Setúbal pela ponte 25 de Abril, dizem que não têm tido muitas queixas. Mas nas redes sociais abundam comentários de quem é obrigado a ouvir os problemas, por vezes íntimos, de outros passageiros, não raras vezes debitados num tom de voz bem acima da média.

Incomoda o barulho, incomoda essa partilha da vida alheia e incomoda sobretudo o não poder ouvir a conversa na sua totalidade, mas apenas a do interlocutor que vai ali ao lado. Pelo menos é essa a conclusão de um trabalho científico publicado na revista Behaviour and Information Technology, segundo o qual o principal motivo de irritação é o facto de só se ter acesso a metade do diálogo.

A Fertagus tem autocolantes que apelam a um comportamento cívico por parte dos passageiros. Segundo a lista de reclamações da empresa, pior do que o falar alto ao telemóvel são os jovens que ouvem música. Mesmo de auscultadores postos, o volume é de tal forma elevado que incomoda quem viaja ao lado.

Apesar das poucas reclamações, parece claro que as pessoas apreciam o silêncio: a Fertagus acabou por cancelar uma parceria que tinha com a RFM porque os passageiros se queixavam de que preferiam ouvir outra rádio ou então que não queriam rádio nenhuma.

Mas se nos comboios os passageiros podem sempre mudar de carruagem para fugir às músicas e às conversas dos outros, nos autocarros a coisa muda de figura. Talvez por isso a Carris já tenha assumido que os clientes que falam alto ao telemóvel constituem um verdadeiro problema, lançando uma campanha na qual avisa que, ao falarem alto ao telemóvel, os passageiros estão a “expor publicamente a sua vida” e a “incomodar as pessoas” com quem partilham a viagem. “Evite falar alto ao telemóvel, bem como usar a função de alta voz. Preserve a sua privacidade e contribua para um ambiente de viagem mais harmonioso”, aconselha a Carris num cartaz em que um passageiro de dedos enfiados nos ouvidos pergunta a um ruidoso companheiro de viagem se engoliu um megafone.

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