Chefes de equipa da urgência do Hospital do Litoral Alentejano demitem-se

É "frequente existir um só elemento escalado para o Atendimento Geral durante o dia e a noite", queixam-se os 14 médicos.

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Serviços disponibilizados pelas plataformas ainda se concentram nos grandes centros urbanos Foto: Fábio Teixeira

Os chefes de equipa do serviço de urgência do Hospital do Litoral Alentejano demitiram-se esta quinta-feira em bloco, alegando que as condições de trabalho se têm vindo a degradar desde Novembro e que “põem em risco a segurança dos doentes”. Fonte do gabinete de comunicação da unidade hospitalar adiantou ao PÚBLICO que o Conselho de Administração está reunido e que poderá reagir até ao final do dia.

Em carta enviada ao director clínico a que o PÚBLICO teve acesso, os médicos que têm assumido a chefia de equipa da urgência deste hospital alegam que são "sistemáticas" as "desconformidades" na urgência, “sendo frequente existir um só elemento escalado para o Atendimento Geral durante o dia e a noite”. 

"A degradação das condições de trabalho no serviço de urgência, quer em termos de falta de material quer em termos de falta de pessoal, tem vindo a ser progressiva, com desconformidades sistemáticas da escala de urgência, nomeadamente do Atendimento Geral e do Atendimento Pediátrico", sustentam.

"Há dias em que doentes com pulseira amarela [urgente] e verde [pouco urgente] chegam a aguardar nove horas para serem atendidos", descreveu um demissionário, pedindo para não ser identificado. Em média, este serviço atende cerca de 120 pessoas por dia, mas tem tido "picos", com afluências diárias que chegam "aos 150 e aos 200 doentes", acrescentou.

Os 14 médicos que assinam a carta recordam que já em Novembro enviaram um primeiro alerta ao Conselho de Administração do hospital, em que elencavam as “condições mínimas” para o serviço poder funcionar.  Em Dezembro, voltaram a avisar o Conselho de Administração que, segundo afirmam, “nunca se mostrou realmente interessado em discutir a problemática" do serviço de urgência.

Como a situação não se alterou, mesmo depois de em Janeiro “ter havido orientações da tutela “ para o reforço das equipas das urgências a nível nacional, decidiram demitir-se do cargo durante uma reunião realizada esta quinta-feira, embora continuem em funções, explicam os médicos que não querem "ser responsabilizados" por eventuais problemas que se venham a verificar.

Na carta, avisam que se prevê ainda "a redução da capacidade de internamento do hospital", devido à passagem da unidade de cuidados paliativos para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, o que, temem, "virá a agravar a capacidade de escoamento" do serviço de urgência.

Integrado na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), este hospital serve uma população de cerca de 100 mil pessoas (mas que duplica no Verão) espalhadas por uma extensa área geográfica, que inclui os concelhos de Santiago do Cacém, Odemira, Alcácer do Sal, Sines e Grândola. Na ULSLA (que inclui os  cinco centros de saúde da região), só os centros de Odemira e o de Alcácer do Sal funcionam 24 horas.

As demissões em bloco em vários hospitais do país têm-se sucedido ao longo dos últimos meses.  Pediram para sair direcções de serviços clínicos e de urgências, alegando falta de condições de trabalho e falhas na qualidade assistencial dos doentes.

Este mês, 28 dos 33 directores do serviço de urgência do Hospital de Amadora-Sintra colocaram o lugar à disposição, argumentando que a direcção clínica e a a administração "não têm conseguido defender os interesses das populações que esta serve”. A administração nomeou uma nova directora clínica e os médicos mantêm-se em funções interinas, mas continuam demissionários.

Entretanto, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos defendeu esta quinta-feira que os problemas no Hospital Garcia de Orta (Almada) se mantêm, após a demissão de sete chefes de equipa de urgência, em Janeiro passado.

Acompanhado pelo presidente da Câmara de Almada, Joaquim Judas (PCP), e por elementos da comissão de utentes, Jaime Mendes reuniu-se com a administração do hospital e, no final, declarou à Lusa que a situação "não é culpa dos profissionais nem da administração". "A responsabilidade é do ministério e da ARSLVT [Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo], porque são eles que decidem. Apenas aumentaram mais 16 camas, o que é muito pouco, o resto está tudo na mesma", lamentou.

Jaime Mendes enfatizou que é preciso contratar médicos sem recorrer às empresas de prestação de serviços (os chamados "tarefeiros") e afirmou que a radiologia da urgência do Garcia de Orta "continua a não funcionar depois das 20 horas, o que é grave para os doentes". Segundo descreveu, no  primeiro andar da urgência, que esta quinta-feira tinha um tempo médio de espera de seis horas, estavam "mais de 50 macas [ocupadas] à espera de um destino" para os doentes.

Sobre os responsáveis dos serviços que se demitiram, Jaime Mendes referiu que a informação que tem é que estes estão a trabalhar mas continuam demissionários.


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