Chama-se POP e diz que os portugueses não são os mais infelizes

Chama-se Portal de Opinião Pública. Reúne dados sobre valores, atitudes e comportamentos nos últimos 20 anos, em 27 países, incluindo Portugal.

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Os portugueses não são os mais infelizes da União Europeia. São os búlgaros. Os portugueses preocupam-se tanto como os suecos que os filhos tenham boas maneiras, mas ficam entre os países que menos estimulam a imaginação das crianças. Os portugueses perderam a confiança na justiça entre 2003 e 2010, bem como no Governo e nos partidos políticos. Algumas destas conclusões podiam já ser conhecidas e estão agora reunidas num site, o Portal de Opinião Pública (POP), apresentado esta quarta-feira na Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), em Lisboa.

No POP podemos encontrar outros dados sobre Portugal e a forma como pensam os outros 26 países da União Europeia sobre determinados temas. Por exemplo, numa escala de 1 a 10, quando questionados (em Dezembro de 2010) sobre a sua felicidade, os portugueses ficaram com uma pontuação média de 6,7, sendo que 10 é "extremamente feliz". O líder da felicidade é a Dinamarca e os mais infelizes os búlgaros. A Grécia e a Itália são mais infelizes do que Portugal.

Há outros dados. Mais de 40% dos portugueses acham importante que os filhos saibam poupar, uma preocupação que, por sua vez, é pouco partilhada por países nórdicos como a Dinamarca, que aposta mais na independência das suas crianças. Quanto às expectativas sobre a economia do país, numa escala de 1 a 3 (o 3 representa a ideia de que vai melhorar), os portugueses estão actualmente no ponto 1,3, o mesmo nível dos gregos, mas abaixo dos alemães, irlandeses e espanhóis, segundo dados de Novembro de 2012, a última data da maioria dos resultados apresentados no POP. Ainda no tema economia, nos últimos dez anos, caiu para metade os portugueses que actualmente associa a União Europeia à ideia de prosperidade económica.

O POP agrupa numa plataforma dados de 27 países europeus recolhidos por três entidades europeias através de inquéritos e mostra em gráficos os resultados de estudos efectuados sobre valores, atitudes e comportamentos nos últimos 20 anos. O objectivo é fornecer “dados concretos gratuitamente e à disposição de todos”. Mas o portal pode tornar-se “uma base comum e factual ao debate político e à população”. As palavras são de António Barreto e foram proferidas durante a apresentação do projecto que resultou de uma parceria da FFMS com o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS) e que teve como coordenador Pedro Magalhães e como investigadores do ICS Alice Ramos e Cícero Pereira.

Congregar informação dispersa
Pedro Magalhães explica que o site, disponível no endereço www.pop.pt, é a resposta à “informação dispersa” sobre dados demográficos, económicos e sociais que se pode encontrar na Internet, mas na “maioria das vezes em sites académicos”. A “simplicidade” e “acessibilidade fácil” foram factores obrigatórios na criação do POP, onde a partilha através de blogues, redes sociais ou email é assegurada. Aos utilizadores é permitido criar o seu próprio gráfico, com base num ou em todos os sete temas disponíveis: indivíduo, família, grupos sociais, trabalho, religião, economia e política. Cada tema tem vários indicadores associados, criados a partir de dados disponibilizados pelo Eurobarómetro, Estudo Europeu dos Valores e Inquérito Social Europeu. O número de indicadores varia consoante o tema. Escolhido o tema e o indicador, o primeiro país identificado no gráfico é, por definição prévia, Portugal. Através da linha verde pela qual o país é representado pode fazer-se uma leitura dos dados portugueses relativos a um determinado indicador, num ano específico ou ao longo da última década, por exemplo. Outros ou todos os países podem ser depois adicionados e obter-se uma comparação. Estão disponíveis mais de cem indicadores.

António Barreto, que preside à FFMS e à Pordata, também um site com dados estatísticos sobre municípios, Portugal e a Europa, considera que com este projecto a leitura da evolução das atitudes e dos comportamentos europeus é “muito mais consistente”. “A parelha entre factos e atitudes é agora mais fácil e acessível” e a ideia preconcebida de como os portugueses pensam sobre determinados temas é confrontada. “A facilidade com que se tratam os portugueses como uma entidade única é um erro”, defende.

Durante a apresentação do site, o coordenador do projecto deu alguns exemplos. Temos a ideia de que os portugueses são especialmente abertos e tolerantes a outras etnias, mas os dados recolhidos sobre este tema e apresentados no POP mostram surpresas. No caso deste “tema polarizador”, como sublinhou Pedro Magalhães, quando comparamos Portugal, Holanda, Alemanha e Suíça, por exemplo, os portugueses mostram-se menos abertos à entrada de imigrantes de outras etnias do que os outros três países. Portugal é, no entanto, ultrapassado pela Grécia no mesmo tema.

Outra surpresa foi realçada por António Barreto, que destacou os dados sobre a descrença crescente dos portugueses na justiça. A percentagem dos que confiam na justiça baixou de 49% para 28%, entre 2003 e 2010, segundo o POP, um dado que o presidente da FFMS considerou “chocante, surpreendente e muito forte”, já que esta opinião dos portugueses “tem um impacto na sociedade toda, pois tudo o que se faz na vida envolve justiça: os contratos, o emprego, o desemprego, a habitação, o casamento, os filhos, a herança”.

Questionado sobre se os dados agora disponíveis no Portal de Opinião Pública podem alterar o debate político, António Barreto considera que podem não provocar alterações de fundo, “mas podem ser um contributo para alguma mudança”.

Notícia alterada às 17h58. Os mais infelizes são os búlgaros e não os gregos como era referido no primeiro parágrafo.

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