Censo nacional mostra que ninhos de cegonha-branca quintuplicaram em 20 anos

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A Spea receia os impactes do pacote agrícola comum Arquivo

O número de ninhos de cegonha-branca quintuplicou em 20 anos, passando dos 1500 em 1984 para os 7685 de 2004, revela o V Censo Nacional de Cegonha-Branca, da responsabilidade da Spea e do ICN, apresentado hoje.

De Março a Julho de 2004, várias equipas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) e do ICN (Instituto para a Conservação da Natureza) percorreram o país para identificar os ninhos ocupados. A maioria (82 por cento) regista-se nos distritos de Beja, Évora, Setúbal, Portalegre e Santarém.

“Trata-se de uma recuperação populacional, daquilo que se pensa que seriam os números na primeira metade do século XX”, comenta Gonçalo Rosa, da Spea, ao PUBLICO.PT.

A partir da década de 60 e até à de 80, a população de cegonha-branca (Ciconia ciconia) sofreu “uma fortíssima regressão”. Gonçalo Rosa salvaguarda a incerteza das causas mas lembra a grave seca no Sahel, associada ao uso de pesticidas e ao abate para alimentação em África, para onde a espécie migra no Inverno. “Existem várias teorias, mas estes factores tiveram um peso muito grande na espécie”, sublinha.

Nos últimos 20 anos, as populações de cegonha-branca têm vindo a aumentar gradualmente. Tal deve-se ao aumento da abundância do Lagostim-do-Louisiana (Procambarus clarkii) - espécie exótica invasora e fonte de alimento -, e à proliferação das lixeiras até ao final dos anos 90.

Apesar da situação ser considerada estável, Gonçalo Rosa aconselha cautela porque o cenário pode inverter-se. Questionado sobre o impacte da actual seca que atinge o país desde Novembro, admite que “os parâmetros reprodutores deste ano são muito baixos”.

O especialista acrescenta ainda os receios trazidos pelo pacote agrícola comum. “Prevemos mudanças agrícolas, nomeadamente o abandono dos campos, o que acarreta riscos de regressão”. Este cenário poderá alterar a abundância de alimento, especialmente de gafanhotos e escaravelhos.

Neste sentido, a Spea vai continuar a monitorizar as populações – nomeadamente os parâmetros reprodutores - e a realizar censos regionais de dez em dez anos. “A recolha de informação é muito importante para antever problemas e saber como actuar”.

Gonçalo Rosa salienta as intervenções de algumas associações e lamenta a ausência de uma política de conservação por parte do Estado.

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