Carência de iodo afecta 37% das crianças do Grande Porto

As escolas não usam sal iodado e a maioria dos pais não sabe o que isso é.

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As crianças do Grande Porto correm “50% mais risco de sofrer carência de iodo” do que as de outras duas regiões analisadas enric vives-rubio

Foram avaliadas mais de duas mil crianças. E cerca de 37% das crianças do Grande Porto apresentam carência de iodo, “um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo”.

Esta é a conclusão de um estudo desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), divulgado nesta segunda-feira. Foram avaliadas 2018 crianças, entre os seis e os 12 anos, de 83 escolas do Grande Porto, do Tâmega e de Entre Douro e Vouga, segundo um comunicado da faculdade.

O projecto IoGeneration teve a duração de um ano, foi liderado por uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da FMUP, contando com a colaboração da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário e da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Noruega.

Em declarações à Lusa, a coordenadora, Conceição Calhau, disse que as crianças do Grande Porto, comparativamente às das outras duas regiões, correm “50% mais risco de sofrer carência de iodo”, não tendo sido identificados os motivos para que tal aconteça.

Segundo a investigadora, as escolas ignoraram as indicações de 2013 da Direcção-Geral de Educação para que fosse utilizado sal iodado na preparação das refeições escolares.

O IoGeneration revela ainda que 68% dos pais inquiridos “nunca tinha ouvido falar de sal iodado” e, quando questionados sobre o produto utilizado em casa, 35% não sabia se continha iodo, enquanto 8% indicou usar sal enriquecido com esse nutriente. No entanto, após verificação, os investigadores concluíram que “menos de um quinto” (17%) deste último grupo usava, de facto, este tipo de sal.

Um estudo sobre a falta de iodo na gravidez, igualmente anterior ao IoGeneration, mostrou que as grávidas avaliadas revelavam uma deficiência “muito grande” do nutriente.

No sentido de combater essa carência, a Direcção-Geral da Saúde, em 2013, elaborou um documento sobre a necessidade de as grávidas tomarem um suplemento de iodo, da mesma forma que recorrem à suplementação do ácido fólico. Para a investigadora, este método não resultou como o previsto devido ao “cepticismo dos médicos em relação à prescrição da suplementação do iodo” e ao facto de as grávidas só irem à primeira consulta quando o feto já tem seis ou mais semanas.

“O objectivo último do IoGeneration é mudar a legislação quanto à utilização do iodo”, indicou a coordenadora, acrescentando que o “pouco que se tem feito não tem tido impacto”.

A Organização Mundial de Saúde apela à fortificação do sal com iodo para o consumo humano, medida já implementada em outros países mas que em Portugal sofre “muita resistência” devido à “preocupação do uso excessivo de sal”, referiu ainda.

O iodo, presente em alimentos como a cavala, o mexilhão, o bacalhau, o salmão, a pescada, o camarão, o leite e os ovos, é um “microelemento essencial à síntese das hormonas da tiróide e ao pleno desenvolvimento neurológico”, lê-se no mesmo comunicado.

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