Caminha vai valorizar memórias da Pesca do Bacalhau

Autarquia iniciou projecto Viagens à Terra Nova, no âmbito do qual dezenas de pescadores serão entrevistados, para memória futura.

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Exposição de fotografias recolhidas por Jean Pierre Andrieux e pelo autarca Carlos Castro Renato Cruz Santos

Os velhos pescadores de Vila Praia de Âncora que participaram na pesca do bacalhau vão voltar a “viajar” até à Terra Nova. Nos próximos meses, a Câmara de Caminha vai recolher, em vídeo, os seus testemunhos de um dos mais significativos, e organizados, processos de pesca, que durante décadas, e só no Estado Novo, mobilizou duas dezenas de milhar de homens de todo o país.

De Caminha foram centenas, muitos deles da vila piscatória que nos últimos dias foi notícia pelo mau tempo, que lhe alterou o curso, e a foz, do rio Âncora. A partir das histórias de vida de muitos destes antigos bacalhoeiros – principalmente dos mais velhos, que trabalham na Frota Branca, na pesca à linha – e das respectivas mulheres, a autarquia pretende valorizar esse legado, cultural e economicamente, por via do turismo. Nesse sentido está a ser estudado um evento cultural e gastronómico, que arrancará já neste Verão, e a possibilidade de criação de um espaço onde este legado possa ser divulgado, revelou o presidente da Câmara, Miguel Alves.

O projecto, que será coordenado por Aurora Rego, da divisão de cultura da autarquia, conta com o apoio da Junta de Vila Praia de Âncora cujo presidente, Carlos Castro, é ele próprio um recolector de memórias e objectos relacionados com a lavoura e a pesca. No sábado, a Câmara de Caminha inaugurou no forte de Vila Praia de Âncora uma exposição que junta fotografias e apetrechos recolhidos por aquele autarca local e imagens cedidas por um empresário canadiano de São João da Terra Nova, Jean Pierre Andrieux, grande cultor da relação entre a sua cidade – famoso porto de abrigo das frotas bacalhoeiras de vários países – e Portugal.

Memorialista, autor de vários livros, entre eles o recente “The White Fleet – A history of Portuguese Handliners”, Andrieux está a organizar uma homenagem aos portugueses que ficaram sepultados em Saint Jones. De visita ao nosso país, o canadiano foi recebido no fim-de-semana em Caminha, município que assim lhe agradeceu este esforço de preservação da memória da passagem dos portugueses por São João da Terra Nova que incluirá a instalação de uma estátua na sepultura de Dionísio Esteves, pescador ancorense que perdeu a vida nos mares da Terra Nova em Maio de 1966, com 26 anos.

Andrieux convidou as autoridades locais, e um emocionado irmão de Dionísio, Fernando Esteves, para ainda este ano, durante o Verão, viajarem até à Terra Nova para essa homenagem que dá um rosto, e um nome, a um conjunto de cruzes cuja identificação se perdeu com o passar dos anos, a neve e um incêndio na igreja onde se encontravam os respectivos registos. Sabe-se qual é a campa de Dionísio porque o seu funeral foi filmado para um documentário canadiano, realizado nesse ano de 1966. E esse filme acabou por ajudar, agora, a resgatar a memória deste pescador e dos portugueses que, em número indeterminado, não chegaram a fazer a viagem de regresso a casa.

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