Bebés aprendem língua da mãe ainda no útero

Nas últimas dez semanas de gravidez os bebés aprendem alguns sons básicos da língua nativa e quando nascem entusiasmam-se mais com sons estrangeiros.

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Os bebés foram mais sensíveis às vogais numa língua estrangeira Adriano MIranda

Apenas algumas horas depois de nascerem, os bebés podem ainda não falar mas já são capazes de distinguir muitos sons e são até mais sensíveis a idiomas estrangeiros. As conclusões fazem parte de um estudo prestes a ser publicado no jornal científico Acta Paediatrica.

A nova investigação permitiu perceber que os bebés começam a absorver noções básicas de linguagem ainda no útero, sobretudo a partir das 30 semanas de gestação, sendo que uma gravidez normal tem cerca de 40 semanas. Os mecanismos sensoriais que permitem que o bebé oiça são sobretudo desenvolvidos nestas últimas dez semanas, diz o estudo, e à nascença é possível testar um pouco o que ouviram.

“Os sons das vogais numa conversa são os mais altos e o feto foca-se neles ainda no útero”, explica num comunicado Patricia Kuhl, uma das autoras do estudo do Instituto da Aprendizagem e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, acrescentando que a mãe é a primeira pessoa a ter influência neste campo no cérebro do bebé.

Os investigadores acompanharam 80 bebés de ambos os sexos, 40 dos quais em Washington (Estados Unidos) e outros 40 em Estocolmo (Suécia), que tinham nascido há menos de 75 horas e que ainda se encontravam no berçário. Metade dos participantes ficou a ouvir 17 sons de vogais na sua língua nativa e a outra metade 17 na outra nacionalidade, explicou Patricia Kuhl.

Para medir a reacção dos bebés aos sons, os cientistas utilizaram uma chupeta com um sensor ligado a um computador. Quando os bebés sugavam a chucha era emitido o som de uma vogal. Quando paravam o som também acabava e quando voltavam a chuchar era emitido um novo som. E perceberam que os bebés sugavam a chucha mais vezes e durante mais tempo quando as vogais eram pronunciadas na língua estrangeira, o que, explica Kuhl, demonstra que os fetos apreenderam alguns sons no útero da mãe e ainda nas primeiras horas de vida já revelam mais curiosidade em relação a sonoridades novas.

Algumas outras investigações já davam conta da capacidade do bebé para aprender e começar a distinguir alguns sons nos primeiros meses de vida, mas não existiam muitas provas sobre o facto de a aprendizagem da língua nativa começar ainda no útero. “Este é o primeiro estudo que mostra que os fetos têm uma aprendizagem pré-natal sobre sons particulares da língua da mãe”, acrescenta Christine Moon, outra das autoras do estudo e professora de Psicologia na Pacific Lutheran University.
 
 

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