Associação exige estatuto de doente crónico para doentes queimados

São cerca de 750 a 1000 pessoas gravemente queimadas a dar entrada, anualmente, nas cinco Unidades de Queimados no país.

Foto
As sequelas ao nível da pele podem tornar-se“altamente penalizantes do ponto de vista psicológico” Publico/ Arquivo

A Associação Amigos dos Queimados promove, a partir desta quinta-feira e até sábado em Tróia, o IX Congresso Nacional dos Queimados e prepara-se para exigir ao Governo a atribuição do estatuto de doente crónico a pessoas gravemente queimadas. Com aquele estatuto, estes doentes poderão ter acesso a isenção de taxas moderadoras e a comparticipação em medicamentos. O apelo dos especialistas surge numa altura em que se prepara o Plano Nacional de Saúde prevendo-se um aumento das doenças sinalizadas como crónicas, e que actualmente não abrange as pessoas gravemente queimadas.

Silvana Pereira foi vítima de queimaduras, de 2.º e 3.º grau, na sequência de um acidente provocado por água a ferver, quando aos três anos se debruçou na banheira. Ficou com cerca de 25 a 30%  da superfície de corpo queimada e foi durante muito tempo sujeita a cirurgias para corrigir a perda de mobilidade.

Esteve internada durante um ano na Unidade de Queimados do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e foi depois transferida para o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão. Durante o processo, alerta para o facto de não ter tido a comparticipação do Estado no acesso aos instrumentos necessários para a sua recuperação.

Uma pesquisa na internet levou-a a encontrar a Associação Amigos dos Queimados. A IPSS, fundada em 1995, permitiu-lhe perceber que não está sozinha e que a sua realidade não é única. Enfermeira de profissão, Silvana Pereira afirma que “saber lidar com os olhares dos outros" e saber aceitar as suas cicatrizes "foi o mais complicado”. Mas refere que o acidente a fez ter uma maior facilidade em colocar-se do lado dos outros.

Em declarações ao PÚBLICO, Celso Cruzeiro, director do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do CHUC e presidente da Associação Amigos dos Queimados, classifica a queimadura como “o traumatismo mais grave que pode acontecer” e lembra que o  “tratamento é para sempre”. O especialista sublinha ainda que reinserção social do doente é retardada por recaídas constantes, o que faz com que "a relação com os outros fique altamente prejudicada", e reconhece que as sequelas ao nível da pele podem tornar-se“altamente penalizantes do ponto de vista psicológico”.

 A prevenção de acidentes é uma prioridade. Celso Cruzeiro refere, como exemplo, as águas quentes no banho, que estão na origem de muitos acidentes a atingir principalmente crianças e sublinha que, o ideal é sempre “ligar primeiro a água fria” nos banhos e ir depois “temperando”.

 Já em 2009 as crianças representavam 38 por cento dos 1500 queimados anuais em Portugal, sem estrutura para tratamento de queimaduras pediátricas. A propósito disto, o médico esclarece que a lacuna tem sido preenchida pela ocupação “de camas cirúrgicas adaptadas nos hospitais” como resposta provisória.

 

Texto editado por Andrea Cunha Freitas

Sugerir correcção
Comentar