As apps que nos levam a jantar fora

Serviço e rede social, as plataformas de reservas e partilha de informações sobre restaurantes encontram em Portugal um terreno ideal. Os portugueses buscam, opinam, reservam e fazem crescer um negócio que tem na Zomato e no TheFork os principais protagonistas.

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Zomato

Antes mesmo de cumprir os dois anos de idade em Portugal, a plataforma de busca e partilha de críticas a restaurantes Zomato, criada na Índia em 2008, tornou-se um pequeno fenómeno — pelo menos no universo de quem gosta de comer fora e procura as últimas novidades. “Aqui tudo aconteceu mais rapidamente do que noutros países”, conta Miguel Ribeiro, que começou por ser o fundador da Zomato Portugal (nascida em 2014) e hoje é director regional para a Europa. “Por isso Portugal tornou-se uma base de testes para a Zomato.”

De manhã, na pequena sede da empresa na Av. 24 de Julho, em Lisboa, há jovens a trabalhar num open space e um grupo mais pequeno numa sala ao lado. Os primeiros são responsáveis pela área comercial, os segundos são a “equipa de conteúdos”. São estes que, numa fase de lançamento numa cidade, saem para o exterior, de mapa na mão, percorrendo cada bairro e cada rua à procura de todos os restaurantes, cafés e outros locais que sirvam comida para os colocar na base de dados.

Esta é, em todos os países onde a Zomato está presente, a primeira fase. Em Portugal, tudo começou com Lisboa, e no Verão passado a aplicação chegou ao Porto. Neste momento, há planos de expansão — a começar pela Margem Sul, até Almada — mas, sobretudo, a Zomato está a entrar na segunda fase da sua vida: a parte comercial.

Não se inquietem, no entanto, os fãs da app — que, segundo os responsáveis, terá perto de 500 mil utilizadores registados. A ideia é que este serviço continue sempre a ser gratuito. “Aplicação paga não é o nosso negócio”, garante Miguel Ribeiro.

A estratégia da Zomato para se tornar rentável passa pelo outro lado: o dos restaurantes. “Primeiro, trabalhámos o lado da plataforma enquanto rede social. Foi a fase de conhecer os bloggers que escrevem sobre comida, perceber as necessidades da cidade, saber quais são as tendências.” Agora, arranca a parte de apoio aos restaurantes — e é por isso que a equipa comercial é já bastante maior do que a de conteúdo. “O que fazemos é levar aos restaurantes soluções para que tenham mais visibilidade junto dos nossos utilizadores. Somos um fornecedor de tecnologia para a área da restauração.”

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Miguel Ribeiro: " que fazemos é levar aos restaurantes soluções para que tenham mais visibilidade junto dos nossos utilizadores. Somos um fornecedor de tecnologia para a área da restauração.”

Até há pouco tempo, o único produto que a plataforma vendia era espaço de publicidade na própria app. Neste momento, disponibiliza também o Book, um serviço de reservas online para fazer a gestão da sala e recolher dados estatísticos, a White Label App, uma aplicação desenhada para o próprio restaurante e a Zomato for Business, para ajudar o restaurador a gerir o negócio.

Todos os produtos tecnológicos são desenvolvidos na Índia, país onde nasceu a Zomato quando dois jovens consultores que trabalhavam num quinto andar de um edifício em Deli e queriam encomendar almoço para ser entregue no escritório lembraram-se de digitalizar os menus da cafetaria do rés-do-chão colocando-os numa plataforma à qual toda a empresa tinha acesso. Foi um sucesso e eles resolveram incluir mais restaurantes das ruas próximas e depois no bairro, num círculo que se foi alargando.

Apesar desse sucesso inicial, a ideia só explodiu realmente quando, em 2013, a Zomato se tornou também uma rede social, através da qual os utilizadores podem partilhar impressões e fotografias de um restaurante ou refeição. Os foodies alimentam a rede e tornam-se cada vez mais preciosos para o seu funcionamento.

A reorganização de recursos dentro da empresa baseia-se também nisso. “Em Portugal, vamos avançar com uma solução de crowdsourcing”, explica Miguel Ribeiro. “As pessoas vão poder inserir qualquer restaurante em qualquer parte do país. E quando tivermos massa crítica suficiente arrancamos com uma nova cidade.” As informações fornecidas pelos utilizadores são depois confirmadas pela equipa de conteúdos, que as completa quando necessário com horários, ementas, etc.

O plano é fazer a Margem Sul, que ficará, por enquanto, na área de Lisboa. “Quando alguém procura um restaurante do outro lado do Tejo, pensa na Grande Lisboa; é menos provável que se lembre de mudar a pesquisa para Setúbal. Para já, têm cerca de mil cafés e restaurantes já identificados e Miguel calcula que quando atingirem os 3500 ou 4000 poderão ter o distrito como zona distinta. “Estamos a pensar no Algarve e no Funchal”, revela. “Faz sentido termos estas regiões rapidamente porque são zonas de turismo.”

Por tudo isto, e porque Portugal tem sido “um caso à parte” no universo Zomato, Miguel Ribeiro está optimista relativamente ao crescimento da empresa. “Neste momento, somos 45 pessoas. Mas nos próximos seis meses a área comercial deverá duplicar, de 20 para 40 pessoas. Em Março, Abril vamos começar a contratar de novo.”

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Enric Vives Rubio

TheFork

Começou por ser uma startup portuguesa, a BestTables, criada em 2011, e no ano passado foi comprada pelo poderoso grupo TripAdvisor transformando-se no TheFork. O TripAdvisor é conhecido sobretudo como plataforma de reserva de hotéis, mas tem como estratégia tornar-se o fornecedor de todos os serviços aos viajantes — hotéis, claro, mas também restaurantes, com o TheFork, e visitas a monumentos, museus, etc., através da plataforma Marketplace.

Sérgio Sequeira, que era um dos sócios da BestTables e hoje é o responsável para Portugal da TheFork, explica o que a distingue. “Nós temos contratos de parceria com os restaurantes — neste momento, são 1050 mas contamos chegar aos 1900 até ao final do ano — que permitem às pessoas fazer reservas online.” O modelo de negócio passa por aqui: “Se a pessoa aparecer realmente no restaurante, nós cobramos uma comissão de reserva e por isso quanto mais pessoas reservarem mais ganhamos.”

As reservas (e avaliações de clientes) não abrangem todos os restaurantes de uma cidade, mas apenas os parceiros. Por outro lado — e este é o grande trunfo —, quem usa o TheFork tem a possibilidade de beneficiar de descontos nestes restaurantes que podem ser de 30%, 40% ou 50%. “Já temos essas ofertas especiais em 237 dos 1050 restaurantes”, diz Sérgio Sequeira, sublinhando que não se trata de um desconto para um menu pré-definido mas sim sobre o preço final da refeição, com escolha livre da carta.

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Sérgio Sequeira: "Temos contratos de parceria com os restaurantes — neste momento, são 1050 mas contamos chegar aos 1900 até ao final do ano — que permitem às pessoas fazer reservas online"

Outra estratégia para a fidelização dos utilizadores da plataforma (quer no site quer na app) são os chamados “Yums”. A ideia é que quanto mais reservas se fizer através do TheFork (cada uma corresponde a 100 Yums) mais se ganha; quando se atingir os 1000 Yums, fica-se com um saldo de 10 euros que pode ser descontado em qualquer restaurante — neste caso, o bónus é da responsabilidade da plataforma, enquanto os outros descontos são da responsabilidade do restaurante.   

E, tal como a Zomato lançou o Book, para os restaurantes gerirem as suas reservas, o TheFork tem o livro de reservas electrónico ERB, e ainda o programa TheFork Manager, que, entre outras coisas, oferece ferramentas para fidelizar os clientes, registando por exemplo as preferência de cada um ou o histórico de reservas. A nível mundial, refere Sérgio, há já 30 mil restaurantes a usar esta ferramenta — TheFork está actualmente em 12 países, em alguns dos quais comprou pequenas plataformas locais, como aconteceu em Portugal com o BestTables.

Não se trata exactamente de uma rede social, mas, à semelhança da companhia-mãe TripAdvisor, o TheFork permite que os clientes que tenham feito uma reserva através da plataforma e que tenham efectivamente ido ao restaurante emitam uma opinião sobre a refeição. Os utilizadores podem classificá-la com uma avaliação de cozinha, serviço e ambiente, que resulta numa média de pontuação — os “avaliadores” passam por categorias que vão da “primeira avaliação” a “gastrónomo” (mais de dez avaliações).

E há espaço para mais do que uma plataforma ligada a restaurantes em Portugal? Sérgio Sequeira acredita que sim. “Tal como no sector da hotelaria existem vários players, no nosso também haverá espaço, mas julgo que haverá um mais forte e o nosso accionista tem uma grande capacidade de investimento.”

Para já, o TheFork tem 11 pessoas a trabalhar em Portugal, mas, explica o responsável, o apoio ao cliente está baseado em Barcelona. “Sabemos exactamente o que queremos e este negócio vai dar certo”, diz. “Aliás, Portugal é um dos países-estrela da companhia.” 

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